Os comedores de carniça
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Os funcionários governamentais converteram a entrega dos restos mortais de alguns desaparecidos num espetáculo. Quem tem semeado o território pátrio de desaparecidos e fossas comuns, é o que pergunta Allende La Paz. A desaparição é um típico crime do Terrorismo de Estado. Agora, os carniceiros da Casa de Nariño impedem a entrega dos cadáveres dos 11 deputados, mostrando sua perversidade.
Quem semeou a Colômbia de fossas comuns?
[Por Allende La Paz, ANNCOL]
O regime oligárquico na Colômbia tem convertido a vida da sociedade colombiana numa jungla, especialmente o regime narco-paramilitar uribiano. O que precisamente diferencia os humanos dos animais é que desenvolvemos normas de convivência para poder viver em sociedade. Porém, há setores que violam essas normas de convivência e se convertem nos depredadores de outros setores sociais e, pior ainda, se convertem em “carniceiros”.
Estes animais se alimentam não só de matar a “sua presa”, como também esperam que o cadáver sofra o natural processo de decomposição para alimentar-se dele. São, talvez, uma das mais baixas espécies dos depredadores. São animais repugnantes, que, apenas em mirá-los, nos causam náuseas. Cito-lhes um exemplo, as hienas. O comportamento destes animais não é humano, é bestial.
As fossas comuns
5.736 desaparecidos durante as últimas duas administrações na Colômbia (Plano Colômbia).
O regime oligárquico-imperial que impera na Colômbia tem promovido uma forma bestial de “fazer política”: o terror. Sempre têm utilizado a violência como forma de lograr a preponderância na sociedade e usufrui-la a seu favor. Têm recorrido a métodos bestiais. São criminais da pior laia, que não duvidam na eliminação física dos contraditores políticos e sociais.
Por isso, não sentem o mais mínimo sentimento de culpa quando promovem suas práticas criminais. Não só matam os contraditores como também o cadáver é objeto de um tratamento psicopático: os torturam, os queimam, os cortam a motosserrazos ou facãozadas, jogam futebol com as cabeças das vítimas, desaparecem com elas, quando não impedem que os enterrem.
Todas as administrações oligárquicas colombianas têm praticado a desaparição na Colômbia. Porém, durante o regime narco-paramilitar de Álvaro Uribe Vélez, não só praticam a desaparição física como também que, ante as denúncias, praticam a desaparição dos desaparecidos. Os restos dos desaparecidos – em fossas comuns que nunca são esquecidas pelos assassinos porquanto se constituem no troféu de sua insânia – são sacados das fossas comuns e atirados, por partes, ao mar para apagar todo rastro de sua esteira criminal.
Vejamos as estatísticas que, durante 20 anos, fui compilando pacientemente, atualizando-as ante cada novo informe. Logicamente, estas cifras padecem de incompletude.
BARCO | GAVIRIA | SAMPER | PASTRANA | URIBE | TOTAL |
500 | 674 | 1.093 | 4.123 | 1.613 | 8.003 |
Como vemos nesta tabela, na Colômbia desapareceram 8.003 pessoas desde 1986 até 2006. Nas administrações que promoveram o Plano Colômbia, a desaparição forçada alcança cifras recordes: 5.736 pessoas vítimas. Pinochet, durante 17 anos de permanência no poder, desapareceu com 2.500 pessoas.
Os comedores de carniça hoje
A Desaparição Forçada é um típico crime de Estado.
A Desaparição Forçada é um típico crime de Estado.
Porém, a psicopatia dos carniceiros é tal que não se consolam só com a desaparição, senão que convertem num espetáculo a entrega dos restos mortais dos desaparecidos quando os assassinos são obrigados a informar a localidade onde foram enterrados.
O flamante vice-presidente colombiano, Francisco Santos, mais conhecido como “Fachito”, monta tarimba na Quinta de San Pedro Alejandrino – onde morreu o Libertador Simón Bolívar –, em Santa Marta, com a entrega dos restos mortais de 25 desaparecidos e, em seu discurso, culpa de tais fatos aos “paramilitares e as guerrilhas das FARC e do ELN”.
Temos que esclarecer ao carniceiro Fachito Santos, pela enésima vez, porque parece não entender, que a desaparição forçada é um típico crime de Estado, executado por funcionários estatais diretamente ou atuando como cúmplices de estruturas paramilitares, para nosso caso os narco-paramilitares. Assim o pontualiza o Direito Internacional Humanitário (DIH) e assim o assinalam todas as ONGs defensoras de direitos humanos.
São os militares e os bandos narco-paramilitares os que têm semeado de fossas comuns o território pátrio.
Os carniceiros da Casa de Nariño.
A morte dos deputados é obra dos carniceiros da Casa de Nariño.
A morte dos deputados é obra dos carniceiros da Casa de Nariño.
Tal atitude de Fachito Santos é uma constante nos carniceiros que habitam na Casa de Nariño. Desde o palácio presidencial se ordenam os assassinatos dos dirigentes populares, desde ali se ordenam e dirigem os operativos para promover o Terrorismo de Estado. Uma prova? Jorge Noguera Cotes, então diretor do DAS, cargo que ocupava por nomeação direta da Casa de Nariño (Álvaro Uribe Vélez), elaborou “listas negras” de dirigentes populares, sindicais, políticos de esquerda, professores, as quais foram entregadas ao chefe narco-paramilitar “Jorge 40” – aliás, Rodrigo Tovar Pupo – para sua execução. Algumas dessas pessoas foram assassinadas mediante a execução extrajudicial e outras mediante desaparições.
Foi denunciado que pelo menos 15 pessoas das que estavam nas ditas listas foram executadas por “Jorge 40”. Sendo Álvaro Uribe Vélez responsável pela nomeação de Jorge Noguera Cotes no DAS, não é também responsável pelo assassinato destas pessoas?
Porém, os carniceiros têm desenvolvido outras atividades. É sabido que a Casa de Nariño (Ribélez, os Santos etc) criou as chamadas “águias negras” – com mercenários estrangeiros, narco-paramilitares colombianos, militares em serviço ativo e agentes da CIA – para promover o “resgate a sangue e fogo” – isto é, o extermínio – dos retidos ou prisioneiros em poder das FARC.
A morte dos 11 deputados do Valle no fogo cruzado com uma destas estruturas das “águias negras” é a colheita dos carniceiros, que, não contentes com isto, impedem que as FARC entreguem os cadáveres dos deputados, como repetidamente tem querido fazê-lo a organização insurgente guerrilheira colombiana. Desta maneira, os carniceiros se divertem em seu crime e elevam à enésima potência a dor dos parentes.
A solução social
Todas as sociedades desenvolveram suas normas de convivência. Ainda contra o querer dos poderosos carniceiros. Por exemplo, certas sociedades desenvolveram as Assembléias como uma forma de controlar o “poder” dos depredadores e carniceiros. Grécia assentou as bases para a Democracia. Os teóricos do marxismo-leninismo criaram as bases para a construção do socialismo e, posteriormente, do comunismo.
Nosso Libertador Simón Bolívar, antes do marxismo-leninismo, ainda em plena Campanha Libertadora contra o império espanhol, realizou um sem-número de reflexões, decretos, cartas etc, onde pontualizava as normas de convivência nos novos estados latino-americanos. O pensamento de Simón Bolívar, segundo o escritor colombiano H. Vanegas, era um pensamento complexo, que foi capaz de criar normas de convivência entre os colombianos e destes com a natureza, com os rios, com os bosques etc.
Os colombianos, hoje, estamos trabalhando duro na construção de uma Nova Sociedade, uma Nova Colômbia, em Paz, com justiça social, liberdade, independência e soberania nacional. Para isso, temos que submeter os depredadores carniceiros e, para lográ-lo, utilizamos a “combinação de todas as formas de luta de massas” que enfrenta a “combinação de todas as formas de luta oligárquicas” dos carniceiros.
Para isso, nos nutrimos do pensamento do Libertador Simón Bolívar (hoje celebramos 224 anos de seu natalício), quando manifestava: «O gênio do crime parece ter seu império de morte, e ninguém pode aproximar-se dele sem sentir os furores de uma implacável vingança».