"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 10 de abril de 2007

Jesus socialista

O escritor e dramaturgo venezuelano Luis Britto García nos fez chegar um famoso estudo sobre o verdadeiro pensamento de Jesus, o qual tem sido revisado e despojado de sua verdadeira essência: popular e socialista.


Olha para os teus verdadeiros filhos…


[Por Luís Britto García *]

Jesus trabalhador e comunitário

Jesus é carpinteiro, como seu pai. Em nenhuma fonte consta que fora proprietário, nem comerciante, nem patrão, nem que contratara a outros para beneficiar-se de seu trabalho. Durante sua pregação, Jesus e seus apóstolos viveram da caridade, e cada ajuda consideravam patrimônio comum do coletivo.

Jesus solidário

Segundo São João, Jesus realiza seu primeiro milagre durante as bodas de Canaã, onde converte água em vinho e os doa (João, 2, 1 – 21). Depois multiplica os pães e os peixes, segundo refere Mateus (14,1221) e os presenteia. Uma segunda vez multiplica os alimentos, e de novo os reparte igualmente (Mateus 15, 32- 30). Jesus prediz que o Filho do homem assim amaldiçoará os egoístas e avaros: “Apartai de mim, malditos, ao fogo eterno, preparado para o diabo e para seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, fui peregrino e não me alojastes; estive nu e não me vestistes, enfermo no cárcere e não me visitastes (...) E irão ao suplício eterno, e os justos, à vida eterna “ (Mateus, 25, 31-46). Não basta a solidariedade espiritual: deve-se praticar a ativa e real: “Pois aquele que vos der a beber um copo de água em razão de serem vós discípulos de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa” (Mateus 18, 6-9).

E consta em Lucas, 11, 9-13, outra reprovação contra quem se negue a compartilhar: “Que pai entre vós, se o filho lhe pede um pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pede um peixe, lhe dará em vez de peixe, uma serpente? Ou se lhe pede um ovo, lhe dará um escorpião?”

Jesus inimigo da acumulação

Jesus condenou a posse e a acumulação: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Onde está teu tesouro, ali estará teu coração” (Mateus 6, 19-20). Também desprezou as riquezas: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. (Mateus 6, 25-26). E sobre a acumulação de posses fulmina: “De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? (Mateus 16, 26; Marcos, 8, 36, e Lucas 9,25-27).

Jesus inimigo da usura

Contra a cobrança de juros, clama Jesus, “Amai, porém aos vossos inimigos, fazei bem e emprestai, sem espera de remuneração; e grande será a vossa recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque Ele é bondoso até para com os ingratos e maus. (Lucas 6, 35, Mateus 4, 38-48). Também condena repetidamente a usura “Acautelai-vos e guardai-vos de toda avareza, porque, mesmo que tenha muito, a vida não está na terra” (Lucas, 12 13 – 15). E reprova o rico que entesoura grãos e bens: “Porém Deus lhe disse: Insensato, nesta mesma noite pedirão a tua alma, e tudo o que acumulou, para quem será? Assim será ao que entesoura para si e não é rico diante de Deus” (Lucas, 22, 19 – 21).

Jesus inimigo dos ricos

Um jovem pergunta o que deve fazer para segui-lo, e Jesus responde: “Só uma coisa te falta: anda, vende tudo o quanto tens e o dá aos pobres e terá um tesouro no céu; e vem, segue-me” (Marcos, 10, 20-22) . Em seguida, acrescenta: “Em verdade vos digo: que dificilmente entra um rico no reino dos céus. De novo vos digo: é mais difícil que um camelo entre pelo buraco de uma agulha do que entre um rico no reino dos céus” (Mateus, 19, 16-26, Lucas 18, 18-27).

Jesus açoita os mercadores

Marcos narra que “chegaram a Jerusalém, e entrando no templo pôs-se a expulsar aos que ali vendiam e compravam, e derrubou as mesas e cadeiras dos comerciantes e os assentos dos vendedores de comida, não permitia que ninguém transportasse fardo algum pelo templo, e os ensinava e dizia: Não está escrito: Minha casa será casa de oração para todas as pessoas? Porém vós a converteis em cova de ladrões” (Marcos 11,15-19; Mateus 21, 12-13; Lucas 19, 45-49).

Jesus igualitário

Jesus despreza hierarquias ou privilégios: “Se alguém quer ser o primeiro, que seja o último de todos e o servo de todos.” (Marcos 9, 33-37; Mateus 18,1-5 e Lucas 9-46-48). Aos filhos de Zebedeu, que pedem para ficar à sua direita e sua esquerda, diz “Não há de ser assim entre vós, antes, se alguém de vós quer ser grande, seja vosso servidor, e o que de vós quiser ser o primeiro, seja servo de todos (...)” (Marcos 10, 35-45, e Mateus 20, 20-28). Como pregação igualitária, lava os pés dos seus discípulos antes da última ceia, e explica: “Se eu, pois, lavei seus pés, sendo vosso Senhor e Mestre, também haveis de lavar os pés uns dos outros. Porque eu lhes dei o exemplo, para que vós façais também como eu o fiz” (João, 13, 1-20).

Jesus, vendido por dinheiro

Por desprezar o dinheiro, Jesus é vendido por dinheiro: “Então um dos doze, chamado Judas Iscariote, foi aos príncipes dos sacerdotes e lhe disse: Que me dais se o entrego? Combinaram em trinta peças de prata, e a partir de então, procurava oportunidade para entregá-lo” (Mateus, 26, 14-16; Marcos 14, 10-11 e Lucas 22, 3-6).

Jesus prega com os atos

Ao despedir-se dos discípulos, resume: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, esse fará, também as obras que eu faço, e as fará maiores que esta, porque eu vou ao Pai” (João 14, 13). E quais são as obras dos primeiros cristãos? Segundo os Apóstolos, 4, 32-36: “A multidão dos que haviam acreditado tinha um coração e uma alma só, e nenhum tinha coisa alguma como sua, ao contrário, tinham tudo em comum (...) Não havia entre eles indigentes, pois quantos eram donos de fazendas ou casas as vendiam e levavam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos e a cada um era repartido segundo sua necessidade”. No céu não há dinheiro nem ricos. Não se sabe se o socialismo se parece com o céu, porém o céu se parece ao socialismo, segundo o desenham.

* Luis Britto García, escritor venezuelano, dramaturgo, historiador e professor universitário.