Entrevista do Semanário VOZ do Partido Comunista Colombiano ao Camarada Raúl
Janeiro, 22
“Ratificamos a vontade política para a troca” disse Raúl Reyes do Secretariado das FARC
Não é fácil chegar a Raúl Reyes, membro do Secretariado das FARC, via correio eletrônico, ainda mais se tratando de uma espécie um pouco parecida com um chat. Muitas voltas e revoltas tiveram que ser dadas. E ficaram registradas no papel algumas respostas indispensáveis sobre o estado de saúde dos detidos e o impacto que geram no país e no mundo as terríveis imagens e cartas das provas de vida. Também alguns temas de longo prazo, que têm a ver com a luta armada e sua perspectiva no processo político colombiano.
A velocidade do tempo colocou esta entrevista sobre o tema da conjuntura, que chamou a atenção do país e do mundo. Colômbia é tão original, tão fora do comum, que produziu notícia no dia 31 de dezembro. Assim o reconheceram os jornalistas estrangeiros localizados em Villavicencio à espera da aparição de Clara Rojas, Consuelo González e o menino Emmanuel.
O Intercâmbio Humanitário não está tão perto como desejávamos. Raúl Reyes reconhece que é assim e que não há contatos com nada, nem em segredo nem em público, como alguns têm dito nos últimos dias. São razões poderosas para que os amigos do acordo humanitário incrementem a ação para a pressão popular, porque seus inimigos pretendem com a marcha do dia quatro de fevereiro abrir o caminho do resgate militar e do terror.
Umas razões
- Por que não se pôde fazer a entrega de Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo antes do dia 31 de dezembro?
- Foi impossível entregar as doutoras Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo antes do dia 31 de dezembro, como era nosso desejo, por causa dos sangrentos bombardeios e metralhamentos perpetrados pelas tropas do governo de Álvaro Uribe, inimigo declarado do intercâmbio humanitário e das saídas políticas ao conflito interno dos colombianos que deliberadamente nega. Para as FARC o mais importante era cumprir com êxito a oferta de entregar as detidas ao Presidente Hugo Chávez e a senadora Piedad Córdoba, sem descuidar a proteção das vidas dos reféns.
- Consuelo González reconheceu que no dia 30 de dezembro houveram bombardeios onde estavam elas com a comissão das FARC que iria entregá-las. Dessa maneira se contradiz a opinião do presidente Uribe e do general Padilla de Leon. O que você pensa a respeito?
- O presidente da para-política fez tudo o possível para obstruir a liberação das senhoras Clara Rojas e Consuelo González para demonstrar diante do mundo as supostas mentiras e enganos das FARC, posando cinicamente até como defensor do Presidente Bolivariano da Venezuela, este sim em seu sincero empenho para garantir a liberação dos prisioneiros. Com essa artimanha Uribe incrementou as operações militares por terra, água e ar por onde calculava que se deslocava a comissão guerrilheira encarregada de entregar ao senhor Capitão Ramón Rodríguez Chacín as pessoas liberadas unilateralmente. As mesmas senhoras ansiosas para voltar sãs e salvas ao seio de suas famílias escutaram os espantosos estrondos dos bombardeios e os combates com as forças insurgentes das FARC. Enquanto os operativos militares atrasavam o regresso à liberdade das senhoras, o governo do terrorismo de Estado colombiano apoiado em Caracol, RCN, El Tiempo e El País de Espana promovia a mais infame campanha midiática contra o presidente Chávez, os demais governos impulsores da troca e as FARC afim de criar obstáculos ao fortalecimento da exigência da troca.
O caso Emmanuel
-As FARC são acusadas de não haver informado com antecedência a situação do garoto Emmanuel. O que realmente aconteceu?
-Ratifico uma vez mais para os leitores do jornal VOZ e a população colombiana as implicações negativas de submeter um garoto às inclemências da confrontação armada, onde nem sempre se dispõe de alimentos, medicinas e atenção médica adequada. Fora do constante estrondo que produzem os combates, os bombardeios, metralhamentos e sobrevôos de aviões e helicópteros do governo da para-política. Tudo isso colocava em risco a vida do pequeno Emmanuel e a decisão das FARC foi colocá-lo à salvo. Impossível também avisar antecipadamente o lugar onde o garoto estava, quando o povo colombiano é vítima da vilania, das canalhices e das infâmias do governo das oligarquias aliadas às máfias e os falcões da guerra do Pentágono e da Casa Branca.
-A entrega no dia 10 de janeiro gerou um ambiente favorável para o intercâmbio humanitário e alguns dizem que é a demonstração de que não se requer uma zona de despejo. O que as FARC pensam a respeito?
- A entrega unilateral que as FARC fizeram ao presidente Chávez das senhoras, contrária à vontade do mesquinho governo, prova que a imperiosa necessidade do despejo dos dois municípios de Florida e Pradera para concretizar o intercâmbio de prisioneiros em poder de ambas as partes. Seria irresponsável de nossa parte, enviar os porta-vozes encarregados de dialogar com os enviados do governo o acordo que ponha fim ao cativeiro dos que estão nas selvas e nos cárceres do regime e os extraditados Simón e Sonia, sem as garantias solicitadas. Nosso gesto humanitário em nenhum caso se fez produto de uma negociação com o governo de Uribe com quem definitivamente não haverá encontros ou entrevistas na Colômbia nem no exterior sem a existência da zona livre de força pública.
É importante para você a beligerância como planeja o presidente Chávez? Que significado ela tem para as FARC? Acreditam ser possível?
- De fato as FARC são uma força beligerante, reconhecida pelos governos anteriores da Colômbia e do mundo. Basta lembrar o grupo dos dez países facilitadores que o fizeram em representação de mais de 30 governos que apoiaram os diálogos com o governo do presidente Pastrana. A assinatura da Agenda Comum pelo Intercâmbio, que a classe governante não quis executar durante o mesmo governo. A assinatura dos acordos humanitários que possibilitaram a liberação de mais de 300 homens da força pública, a viagem conjunta de porta-vozes das duas partes à Europa e logo a realização da Audiência Pública Internacional na zona de despejo são provas irrefutáveis dessa realidade conhecida e acertadamente analizada pelo presidente Hugo Chávez. Recordemos também as três entrevistas do presidente Pastrana com o comandante-em-Chefe das FARC, camarada Manuel Marulanda. Nenhum chefe de Estado ou de Governo se reúne com organizações terroristas. O problema do governo Uribe é que se assumiu o compromisso de debilitar ou liquidar as FARC com a intervenção do governos dos Estados Unidos e seu vociferado Plano Patriota nutrido do defunto Plano Colômbia, que ao fracassar em seu louco delírio, agora se nega a reconhecer a derrota suja e a da Casa Branca. O fracasso de Uribe em sua guerra contra as FARC é comparável ao indiscutível fracasso no Iraque de George W. Bush que como seu compadre paramilitar tampouco reconhece.
Organização político-militar
Independentemente do que diga Álvaro Uribe, seus escudeiros do Governo da para-política e os partidos da oligarquia, as FARC são uma organização político-militar, com propostas sociais, econômicas e políticas para a paz das maiorias afetadas pelo modelo neoliberal dos impérios. É inquestionável o nascimento do novo Estado Bolivariano, Socialista nas FARC, feito que estimula destacados chefes bolivarianos como o senhor Presidente da República Bolivariana de Venezuela a quem o povo colombiano deve agradecer todos seus esforços por conseguir a liberação dos prisioneiros e trilhar o caminho da reconciliação e paz com justiça social da Colômbia.
As FARC têm vontade política para a troca humanitária? Em que condições? São previsíveis novos atos unilaterais?
- Nas FARC ratificamos diante do mundo nossa absoluta vontade política pela troca, cuja concretização requer de imediato o despejo dos municípios de Florida e Pradera no Valle del Cauca. As FARC em sua condição de organização revolucionária do povo fará tudo p que depender delas para conseguir a liberação dos prisioneiros, começando pelos camaradas guerrilheiros e guerrilheiras injustamente privados de lutar pela justiça social de seu povo.