"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 27 de janeiro de 2008

Entrevista do Semanário VOZ do Partido Comunista Colombiano ao Camarada Raúl

Janeiro, 22

“Ratificamos a vontade política para a troca” disse Raúl Reyes do Secretariado das FARC

Não é fácil chegar a Raúl Reyes, membro do Secretariado das FARC, via correio eletrônico, ainda mais se tratando de uma espécie um pouco parecida com um chat. Muitas voltas e revoltas tiveram que ser dadas. E ficaram registradas no papel algumas respostas indispensáveis sobre o estado de saúde dos detidos e o impacto que geram no país e no mundo as terríveis imagens e cartas das provas de vida. Também alguns temas de longo prazo, que têm a ver com a luta armada e sua perspectiva no processo político colombiano.

A velocidade do tempo colocou esta entrevista sobre o tema da conjuntura, que chamou a atenção do país e do mundo. Colômbia é tão original, tão fora do comum, que produziu notícia no dia 31 de dezembro. Assim o reconheceram os jornalistas estrangeiros localizados em Villavicencio à espera da aparição de Clara Rojas, Consuelo González e o menino Emmanuel.

O Intercâmbio Humanitário não está tão perto como desejávamos. Raúl Reyes reconhece que é assim e que não há contatos com nada, nem em segredo nem em público, como alguns têm dito nos últimos dias. São razões poderosas para que os amigos do acordo humanitário incrementem a ação para a pressão popular, porque seus inimigos pretendem com a marcha do dia quatro de fevereiro abrir o caminho do resgate militar e do terror.

Umas razões

- Por que não se pôde fazer a entrega de Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo antes do dia 31 de dezembro?

- Foi impossível entregar as doutoras Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo antes do dia 31 de dezembro, como era nosso desejo, por causa dos sangrentos bombardeios e metralhamentos perpetrados pelas tropas do governo de Álvaro Uribe, inimigo declarado do intercâmbio humanitário e das saídas políticas ao conflito interno dos colombianos que deliberadamente nega. Para as FARC o mais importante era cumprir com êxito a oferta de entregar as detidas ao Presidente Hugo Chávez e a senadora Piedad Córdoba, sem descuidar a proteção das vidas dos reféns.

- Consuelo González reconheceu que no dia 30 de dezembro houveram bombardeios onde estavam elas com a comissão das FARC que iria entregá-las. Dessa maneira se contradiz a opinião do presidente Uribe e do general Padilla de Leon. O que você pensa a respeito?

- O presidente da para-política fez tudo o possível para obstruir a liberação das senhoras Clara Rojas e Consuelo González para demonstrar diante do mundo as supostas mentiras e enganos das FARC, posando cinicamente até como defensor do Presidente Bolivariano da Venezuela, este sim em seu sincero empenho para garantir a liberação dos prisioneiros. Com essa artimanha Uribe incrementou as operações militares por terra, água e ar por onde calculava que se deslocava a comissão guerrilheira encarregada de entregar ao senhor Capitão Ramón Rodríguez Chacín as pessoas liberadas unilateralmente. As mesmas senhoras ansiosas para voltar sãs e salvas ao seio de suas famílias escutaram os espantosos estrondos dos bombardeios e os combates com as forças insurgentes das FARC. Enquanto os operativos militares atrasavam o regresso à liberdade das senhoras, o governo do terrorismo de Estado colombiano apoiado em Caracol, RCN, El Tiempo e El País de Espana promovia a mais infame campanha midiática contra o presidente Chávez, os demais governos impulsores da troca e as FARC afim de criar obstáculos ao fortalecimento da exigência da troca.

O caso Emmanuel


-As FARC são acusadas de não haver informado com antecedência a situação do garoto Emmanuel. O que realmente aconteceu?

-Ratifico uma vez mais para os leitores do jornal VOZ e a população colombiana as implicações negativas de submeter um garoto às inclemências da confrontação armada, onde nem sempre se dispõe de alimentos, medicinas e atenção médica adequada. Fora do constante estrondo que produzem os combates, os bombardeios, metralhamentos e sobrevôos de aviões e helicópteros do governo da para-política. Tudo isso colocava em risco a vida do pequeno Emmanuel e a decisão das FARC foi colocá-lo à salvo. Impossível também avisar antecipadamente o lugar onde o garoto estava, quando o povo colombiano é vítima da vilania, das canalhices e das infâmias do governo das oligarquias aliadas às máfias e os falcões da guerra do Pentágono e da Casa Branca.

-A entrega no dia 10 de janeiro gerou um ambiente favorável para o intercâmbio humanitário e alguns dizem que é a demonstração de que não se requer uma zona de despejo. O que as FARC pensam a respeito?

- A entrega unilateral que as FARC fizeram ao presidente Chávez das senhoras, contrária à vontade do mesquinho governo, prova que a imperiosa necessidade do despejo dos dois municípios de Florida e Pradera para concretizar o intercâmbio de prisioneiros em poder de ambas as partes. Seria irresponsável de nossa parte, enviar os porta-vozes encarregados de dialogar com os enviados do governo o acordo que ponha fim ao cativeiro dos que estão nas selvas e nos cárceres do regime e os extraditados Simón e Sonia, sem as garantias solicitadas. Nosso gesto humanitário em nenhum caso se fez produto de uma negociação com o governo de Uribe com quem definitivamente não haverá encontros ou entrevistas na Colômbia nem no exterior sem a existência da zona livre de força pública.

É importante para você a beligerância como planeja o presidente Chávez? Que significado ela tem para as FARC? Acreditam ser possível?

- De fato as FARC são uma força beligerante, reconhecida pelos governos anteriores da Colômbia e do mundo. Basta lembrar o grupo dos dez países facilitadores que o fizeram em representação de mais de 30 governos que apoiaram os diálogos com o governo do presidente Pastrana. A assinatura da Agenda Comum pelo Intercâmbio, que a classe governante não quis executar durante o mesmo governo. A assinatura dos acordos humanitários que possibilitaram a liberação de mais de 300 homens da força pública, a viagem conjunta de porta-vozes das duas partes à Europa e logo a realização da Audiência Pública Internacional na zona de despejo são provas irrefutáveis dessa realidade conhecida e acertadamente analizada pelo presidente Hugo Chávez. Recordemos também as três entrevistas do presidente Pastrana com o comandante-em-Chefe das FARC, camarada Manuel Marulanda. Nenhum chefe de Estado ou de Governo se reúne com organizações terroristas. O problema do governo Uribe é que se assumiu o compromisso de debilitar ou liquidar as FARC com a intervenção do governos dos Estados Unidos e seu vociferado Plano Patriota nutrido do defunto Plano Colômbia, que ao fracassar em seu louco delírio, agora se nega a reconhecer a derrota suja e a da Casa Branca. O fracasso de Uribe em sua guerra contra as FARC é comparável ao indiscutível fracasso no Iraque de George W. Bush que como seu compadre paramilitar tampouco reconhece.

Organização político-militar

Independentemente do que diga Álvaro Uribe, seus escudeiros do Governo da para-política e os partidos da oligarquia, as FARC são uma organização político-militar, com propostas sociais, econômicas e políticas para a paz das maiorias afetadas pelo modelo neoliberal dos impérios. É inquestionável o nascimento do novo Estado Bolivariano, Socialista nas FARC, feito que estimula destacados chefes bolivarianos como o senhor Presidente da República Bolivariana de Venezuela a quem o povo colombiano deve agradecer todos seus esforços por conseguir a liberação dos prisioneiros e trilhar o caminho da reconciliação e paz com justiça social da Colômbia.

As FARC têm vontade política para a troca humanitária? Em que condições? São previsíveis novos atos unilaterais?

- Nas FARC ratificamos diante do mundo nossa absoluta vontade política pela troca, cuja concretização requer de imediato o despejo dos municípios de Florida e Pradera no Valle del Cauca. As FARC em sua condição de organização revolucionária do povo fará tudo p que depender delas para conseguir a liberação dos prisioneiros, começando pelos camaradas guerrilheiros e guerrilheiras injustamente privados de lutar pela justiça social de seu povo.