Paraguai: comunicado da APS diante da brutal repressão do dia 5 de novembro
A APS condena categoricamente a brutal e criminosa repressão desatada pela polícia anti-motins no dia 5 de novembro, em frente aos escritórios do Ministério Público. O fato aconteceu frente à manifestação pacífica e indefesa que realizavam, em seu legítimo direito de cidadão, os camponeses fartos da injustiça de que são vítimas por parte de órgãos do estado que, historicamente, vêm operando em função dos interesses de latifundiários e usurpadores. Neste caso, falamos do órgão do Estado que, de acordo com a Constituição Nacional, é representante da sociedade paraguaia. O campesinato é integrante, de forma majoritária, na sociedade deste país.
O fato contrasta flagrantemente com as esperanças que depositaram e seguem depositando num governo que prometeu e continua prometendo mudanças sociais no país.
Este vergonhoso e deplorável capítulo é de absoluta responsabilidade do Ministério do Interior, secretaria de Estado encarregada de prezar pela segurança da cidadania, mas não às custas de massacrar como fez contra indefesos membros da nossa sociedade. Membros que correspondem – repetimos - à maioria da sociedade que hoje, assim como sempre, vem sofrendo com a fome, a miséria e o envenenamento por parte dos fazendeiros que sacrificam as vidas de terceiros para encher seus cofres, exportando soja.
Este fato atenta contra as expectativas sobre o atual governo, no qual o povo paraguaio votou no último dia 20 de abril. O governo de Lugo deveria marcar, para o povo, uma posição de que finalmente será o fator de mudança no país. Não serão as oligarquias saqueadoras, os usurpadores e envenenadores criminosos que hoje resistem em tributar seus exorbitantes ganhos obtidos por suas exportações, os que vão mudar o país. Porque esses setores foram os que controlaram os efetivos poderes de um Estado que hoje querem conservar e que tanto dano produziram ao nosso sofrido país.
Foram estas oligarquias, enriquecidas em sua maioria na ditadura stronista, entre as quais estão os donos de meios de comunicação, que hoje evocam a institucionalidade e o respeito à propriedade privada, as responsáveis por uma ordem estabelecida que hoje devemos modificar, se queremos uma real mudança no país. Devem saber esses senhores que é hora de conceber um novo mapa político. Um mapa que, por fim, ponha as coisas em seu lugar e devolva por uma redistribuição equitativa o poder às maiorias, ou seja, ao povo.
Reiteramos o nosso repúdio à repressão e responsabilizamos quem tem a seu cargo a secretaria pertinente. Cabe remarcar com todas as letras: neste fato a responsabilidade é do Ministro do Interior Rafael Filizzola. Se queremos um país diferente não podemos ter um ministro em cuja gestão se desata uma repressão criminosa destas características. Se na ditadura stronista tivemos poucas vezes repressões desta proporção, podemos dizer sem risco de equivocar-nos que, em todo o período da chamada "transição", que tanto se criticou, não se presenciou na capital um atentado tão criminoso aos direitos humanos como o de quarta-feira.
Defina seu governo Presidente Lugo e trate de contar com um gabinete que acompanhe uma política de real mudança no Paraguai, e terá o apoio do povo que finalmente é quem deve ser o verdadeiro detentor do poder numa democracia.
7 de novembro de 2008
Condução Nacional da Aliança Patriótica Socialista
(*) – a APS é uma frente política permanente (não apenas eleitoral), composta pelo Partido Comunista Paraguaio, o Partido da Unidade Popular e a Mesa Coordenadora de Organizações Camponesas.