Protesto Indígena
Por Jesús Santrich/Estado-Maior das FARC-EP
“Pay qespiqtinqa, juisuispas kanqacha”/ (Quando ele tenha se reconstruído deverá realizar-se, talvez, o julgamento)/Para os opressores, para os oligarcas, para os impérios o julgamento, com os sinais da pátria grande do mestiço povo, do indígena e negro povo com o sinal do “macrocosmos da raça humana” coreando andespi, orqopi, Tupac Amaru
Lundumpi Bolívar;Andespi, orqopi BolívarLundumpi Manuel Marulanda;
Com o grito de Vilcabamba, de Junín, Pichincha e Bomboná...; com o grito de unidade dizendo suyay kuway nispa Bolívar; suyay kuway nispa Tupak; suyay kuway nispa Marulanda; suyay kuway, suyay kuway…; espera-nos, espera-nos, en el Inti-Raymi da vitória, levantando do socialismo as bandeiras com as mãos dos povos para gritar ao vento suyay kuway nispa liberdade.
Porém, esse grito da consciência coletiva de Nossa América lançado ao vento há de dar-se desde a idade do milho e da mandioca, desde a gênese da bantú tambora dos orixás, em argamassa com as polifonias historiais da Mãe Terra, de Niwi zaku, na dupla latência do kultrún e a trutruka, nos sonhos dos irmãos do pehuén e da neve, nos sonhos dos filhos do weichafe vento, de Leftraro flecha..., do valente filho de Curiñanko.
Os povos originários, tarde que cedo haverão de concretizar sua hora boa da vida em justiça, acalentados com os antigos rumores do Bio-bio e do Toltén, com as esperanças milenares dos herdeiros austrais Wallmapu, feitos de pinhões e das neves eternas do Itata e do Nahuelbuta..., seguindo os passos de Colocolo, de Caupolicán, de Mareande..., de Allende..., do povo de Manuel Rodríguez, do centauro de terrosa feitura nevada. Vindo, digamos, desde o austral Arauco também do Arauco até o Rio Bravo recolhendo os sonhos de Zapata, de Villa, de Flores Magón, recolhendo as vozes de Tiradentes, Prestes e Marighella..., as vozes guaranis e as mestiças vozes dos filhos de Artigas, de Cerpa Cartolini, de Fabrício Ojeda, de Marulanda Vélez..., de Morazán como de Sandino, de Fonseca Amador como de Martí e de Torrijos; de Shafik como das guatemaltecas quíchuas vozes, fundindo-nos em abraço Andino, de planície, da selva..., com o calor da rebeldia dos povos em luta pela liberdade.
Porque confiamos irrestritamente na capacidade do povo, temos absoluta fé no credo de sua luta, no cometido de suas convicções, nas certezas de sua consciência emancipatória. Só de sua perseverança, o sabemos, depende é que poderá emergir o porvir para nossa pátria, que é o grande tudo continental, e a sabendas de que tudo o que façamos deve lançar raízes na própria história porque a virtude se forja só se existe consciência de nosso ancestral passado e com um anseio de superação inesgotável, porque não há aurora que não se anteceda do ocaso e da noite, porque não há colheita sem que amadureça a semeadura, porque sem história não seríamos nada como povos..., porque nos revolucionários a marcha tem a dimensão do infinito, e até do impossível.
Estamos com as convicções dos povos que tomaram e marcharam sobre a pan-americana, por isso estamos do lado do ideal da pátria multiétnico, por isso estamos do lado dos que brigam pela unidade e pela síntese da múltipla raça coletiva ou, como diria o próprio Libertador, o macrocosmos da raça humana, de indígenas, negras, e mestiças essências nesse todo do real maravilhoso que jamais denigrem nem excluirão a nenhum dos povos nem raças da orbe, no real maravilhoso da Awya Ayala, da América Nossa, da pátria grande que é como um mágico crisol de futuro e de mundo novo socialista que queremos e que faremos.
Esta hora de envenenamento do cosmos, nesta hora de intoxicação do planeta em que pende de um fio a possibilidade da vida por conta da depredação imperial é momento de mirar para os povos que foram massacrados, em sua mentalidade, em seus direitos manchados. O grito de nossa indianidade em qualquer parte da América Hoje, já na Bolívia que clama por seu futuro, nas lutas dos yuppas que exigem respeito ao sicariato latifundista de machiques, ao guayuu que sobrevive com a sede de seu deserto. É a hora de viver sua realidade e assumir também sua cosmovisão, a magia de sua cotidianidade, a dudldayíshigi na kankurwa, com o respeito e a veneração do mamo para a natureza, com a magnanimidade de seu viver impregnando o mundo, impregná-lo de seu amor ao bosque e à rocha, seu amor à cañada e ao ar; impregná-lo de sua admiração à audácia da cascata, ao beijo da montanha com a nuvem e com o gelo; à intrepidez do mármore quando aponta para o firmamento.
É uma necessidade fazer realidade o comunitarismo ancestral no marco da pátria grande radiando amor para o universo, inaugurando a civilização da irmandade, como povo dos povos, como raça de raças, sem perder o engenho do mito, sem castrar a alma da essência vivificante do espírito em liberdade. Valorizando nossa identidade onírica de cobre e de carvão, de milho e de mandioca, de jaguares e sucuris, autênticos insubmissos, libertados.
O grito Que viva a resistência indígena, que viva a resistência popular! deve estar agora mais que nunca no coração dos colombianos traduzindo os mais profundos sentimentos de identidade com a causa dos pobres da terra, segundo deve ser o pensamento de um patriota verdadeiro nesta hora de fascismo em que, a todo custo, os exploradores e seus representantes que detêm o poder querem massacrar o protesto social.
Com a voz dos oprimidos, com a voz dos indígenas, com a voz dos campesinos em nossa indignação de pátria devem levantar-se hoje nossas ações de oposição a este regime criminal empenhado na guerra fratricida e na entrega da soberania à recolonização imperialista.
Outubro foi um mês para não se esquecer, sobretudo pela maneira valorosa como nossos irmãos indígenas romperam a presença dos séculos com um agora transbordante de tradição e de determinação em sua luta pela terra que é o mesmo que dizer a vida.
As magníficas jornadas dos marchantes caucanos e de todos aqueles compatriotas que se uniram aos protestos de nossos irmãos de pobreza expressaram uma grande verdade: Colômbia é de todos ou não é de ninguém, e se não é pela concertação, o caminho segue sendo o indicado pelo heróico líder Quintí Lame: recuperar a terra lutando.
Dá nojo pensar em que não se superou ainda a época em que, enquanto os povos originários, os vilipendiados, os discriminados..., os despojados donos ancestrais da terra a endividam e são privados da possibilidade de explorá-la, os latifundiários usurpadores contam com todas as garantias para sua apropriação e seu usufruto.
Como legítimo herdeiro do pensamento de Santander, quem, a partir de 1821, impulsionou a distribuição dos resguardos indígenas “como mecanismo para aumentar o domínio individual da propriedade”, os governos do presente, como Uribe, atuam dizendo que não há dinheiro para comprar mais terras, e que, em todo caso, se se resolver entregar outros prédios que ampliem o espaço de sobrevivência dos indígenas do Cauca, isso será tomando em consideração o respeito primordial à propriedade privada dos latifundiários.
A Casa de Nariño parece a casa dos Habsburgo quando, em fins do século XVII, incrementou os impostos sobre a encomenda para sortear suas dificuldades financeiras.
Como na batalha do Peñon da talaga que volta e tiemblre Belalcazar, contra os Ampudia e os añasco de hoje, como contra os García Tobar e os Domingo Lozano em terra adentro.
Com a memória de heroísmo de Pubén e de Yazguén, com a valentia de Calambás em Guazabara empapados na tinta do destino, pois, de alguma maneira a istría, nossa história nada é e nada seremos sem essa parte fundamental de nossa existência que são os povos originários vendo desde o passado, desde a raiz para o presente, e para o horizonte intuído e lutado do devir feliz para os pobres.
Todavia somos
Kachkaniragmi
Aqui estamos... Seguimos sendo!
Se reafirma a necessidade de materializar reivindicações de sempre, o projeto de Quintín Lame segue vigente, mais que nunca, porque é o projeto comunitário dos indígenas caucanos e dos indígenas do país.
1. A recuperação de terras.
2. Ampliação dos resguardos.
3. Fortalecimento dos cabidos indígenas.
4. Total eliminação dos métodos de exploração de exploração dos terra-tenentes que evocam a servil prática do terrádego.
5. O reconhecimento da cosmovisão, das práticas, usos e costumes dos povos originários, de suas normas.
6. Respeitar e assumir como parte do que é nossa pátria a história, a língua, dos povos originários.
7. O reconhecimento e o ressarcimento a todas as violações cometidas contra os povos indígenas.
Este governo segue submerso na mentalidade monárquica que “doou” todas as comarcas caucanas com tudo e os “índios tributários” que nela haviam... Elevar-se hoje nossas consciências será como a magistratura do sol na alvorada, para festejar a idade do milho nas parcelas de uma inocência sem cobiças, porque, mais que utopia, tem sido a natureza de nossos povos originários quando não foi manchada a natural essência de seu todo onde não há jazigos que comem os homens; com seus papas e ullocos, com seus cuyes e vicunhas, com seus quinas e romeros, com seus gansos e cacaus, com suas sagradas plantas curativas que fazem da terra o verdadeiro paraíso eterno dos homens no quefazer coletivo, onde o nós prima no reino do amor.