"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Putrefação moral na Casa Branca


por Atilio Boron*


Enumerar todas as atrocidades cometidas nos últimos tempos contra os povos e a natureza para salvaguardar o sistema capitalista ocuparia todas as páginas deste diário. Gostaríamos de deter-nos numa notícia de grande actualidade: há poucos dias, na iminência das eleições presidenciais nos Estados Unidos, teve lugar uma votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde 185 dos 192 países membros aprovaram, pela 17ª vez, uma resolução exigindo pôr fim ao bloqueio iniciado há 46 anos contra Cuba. Em 17 oportunidades Washington ignorou despreocupadamente as recomendações – praticamente unânimes – da comunidade internacional. E no entanto tem o descaramento de arrogar-se a missão de espalhar a justiça e a liberdade por todo o planeta.


Não se conhecem antecedentes de um repúdio tão geral das políticas do império, acompanhado na defesa das suas vilanias somente por Israel (seu estado cliente e polícia no Médio Oriente) e Palau. Merece uma adenda o caso deste micro-estado que, segundo informa o sítio web da CIA, é um conjunto de pequenas ilhas de 451 km2 com uma população de 21.093 habitantes. É um país "independente", que vota na ONU e se alinha com a Casa Branca, razão pela qual seguramente é caracterizado pelos seus publicitários como uma sólida e vibrante democracia.


Neste caso não parece preocupar Washington o tema do partido único, recorrentemente utilizado para criticar Cuba, porque neste baluarte das liberdades do longínquo Pacífico simplesmente não existem partidos políticos, segundo informa também a CIA. Não se trata do facto de haver apenas um e esse ser mau – não há nenhum, mas neste caso isto é bom e não provoca à inefável Condoleezza Rice a insónia que provocam as débeis arquitecturas institucionais dos sistemas políticos da Venezuela e da Bolívia. Também o facto de na Arábia Saudita, grande amigo de Washington, os partidos políticos estarem proibidos, não provoca qualquer insónia. De qualquer modo, estes são detalhes excessivos que, no caso de Palau, se compensam amplamente quando nos recordamos que esse protectorado do Tio Sam assinou um Tratado de Livre Associação com os Estados Unidos que o converte de facto numa colónia, embora de um tipo muito especial. Pode sentar-se na Assembleia Geral para votar a favor dos seus amos e opinar e propor resoluções sobre assuntos de interesse mundial.


Porto Rico não teve a mesma sorte, já que Washington preocupou-se desde a fundação da ONU em incluir esse despojo de guerra na lista dos Territórios Não Autónomos e, como tal, não habilitado a integrar a ONU. Os seus quatro milhões de habitantes e mais outros tantos que residem nos Estados Unidos, não podem opinar sobre qualquer assuntos. Os de Palau sim.


Felizmente nesta ocasião as Ilhas Marshall, que a própria CIA descreve como um simples "testing ground" (campo de testes) dos rockets dos Pentágono – algo que até há pouco tempo também se fazia na ilha porto-riquenha de Vieques – e a Micronésia decidiram desobedecer às ordens da Casa Branca e abstiveram-se de votar contra Cuba.


Dizíamos putrefacção moral porque não há outra forma de qualificar a pertinaz manutenção de um bloqueio de quase meio século – caso único na história da humanidade! – que é na realidade um prolongado castigo aplicado a Cuba por ter-se atrevido a lutar pela sua verdadeira independência. Um castigo exemplar, desses que os esclavagistas e os "conquistadores" de Espanha e Portugal aplicavam com total sadismo aos que tinham a ousadia de pretender libertar-se das suas correntes. Outras potências coloniais não ficaram atrás neste torneio de infâmias e humilhações. A França, sem ir mais longe, impôs à jóia das suas colónias no Caribe, o Haiti, em 1825, o pagamento de uma enorme indemnização (equivalente a uns 21 mil milhões de dólares de hoje) pelos "prejuízos" provocados aos latifundiários franceses pela sua independência. Ainda estabeleceu, após prévio envio de uma frota de navios de guerra, um tributo de 50 por cento de todos os bens que entrassem ou saíssem desse desafortunado país: acabou de pagar em 1947. Depois de mais de um século de saque "legalizado" e sancionado pelos campeões mundiais da liberdade, da democracia e da justiça, aquela que fora uma das ilhas mais ricas do Caribe caiu afundada na miséria mais absoluta.


Mas Cuba não pode ser igualmente vergada, e isso não se perdoa. É um péssimo exemplo que se deve erradicar da face da Terra. Aí estão a Venezuela, a Bolívia e o Equador para demonstrar a malignidade do contágio. E os outros governos, que sem terem sido infectados com o vírus da autodeterminação e dignidade nacional, flirtam com os rebeldes.


Nem ainda a fenomenal devastação produzida por dois gigantescos furacões fez com que os Estados Unidos pusesse temporariamente entre parênteses a sua política criminosa a fim de honrar os valores humanistas e solidários sobre os quais, dizem eles, está assente a sociedade norte-americana. Tal como declarara na ONU o ministro dos Negócios Estrangeiros Pérez Roque, o saldo deste desastre foi de "mais de 500 mil habitações e milhares de escolas e instituições de saúde afectadas, um terço da área cultivada devastada e uma severa destruição da infra-estrutura eléctrica e de comunicações, entre outros danos".


A sua reconstrução, uma empresa humanitária por definição, seria enormemente facilitada se a Casa Branca tivesse, apesar de tudo, um pequeno resquício de nobreza e moralidade e houvesse permitido a Havana adquirir os bens que necessita nos Estados Unidos. Mas é inútil: não tem. A Revolução não quer prendas; quer comprar, pagando efectiva e adiantadamente as suas compras, o que favoreceria os empresários e trabalhadores desse país e ajudaria a revitalizar, ainda que em pequena escala, uma economia que já se despenha na direcção da recessão.


Mas nem isso a Casa Branca admite. Daí que seja lógico falar da podridão moral que envolve os seus ocupantes. Uma administração que já demonstrou a sua total insensibilidade e colossal inaptidão (além de um dissimulado racismo) perante o flagelo que o Katrina provocou entre os seus em Nova Orleães. Uma degradação moral que, para colmatar, combina-se com a inaudita estupidez do gang reaccionário que por estes dias manda em Washington e acelera o enterro do país em toda a espécie de pântanos dos quais não sairá incólume: Afeganistão, Iraque, Médio Oriente e, agora, o rebentamento da fenomenal bolha financeira alimentada por essa gente ao longo de muitos anos. Deste modo, Cuba deverá adquirir em terras afastadas bens que, devido ao bloqueio e ao transporte, acabarão por sair caríssimos. Será muito mais difícil, mas a Revolução Cubana já deu repetidas mostras de não acovardar-se perante a adversidade nem ser vencida por ela. Agora terá a oportunidade de demonstrá-lo uma vez mais. E para isso contará com a solidariedade do mundo inteiro, excepto esse trio desprezável de rufiões que votou contra si na ONU.


O artigo encontra-se em Resistir.info.