Pega, lê
Ou a bomba nuclear que Chávez plantou nos EUA.
Por Pedro Gerardo Nieves.
Um dia que Santo Agostinho, violentamente agitado pelas vacilações que precederam sua conversão, havia-se refugiado em um bosque para meditar, ouviu uma voz que pronunciava estas palavras: Tolle lege. Mirando, então, um livro que lia seu amigo Alipio leu uma epístola de São Paulo, que decidiu sua conversão. (Pequeno Larousse Ilustrado, por Miguel de Toro e Gisbert. Buenos Aires, Argentina: Editorial Larousse, 1964, p. xv.)
Tolle, lege (pega, lê) são as imperativas palavras que os saqueados povos de América Latina dirigiram-lhe ao presidente de Estados Unidos por meio de Hugo Chávez para que se informasse em detalhe sobre os assassinatos, saques e demais abominações que os impérios perpetraram contra nós e nossas terras desde há já 500 dolorosos anos. O livro que o Comandante obsequiou ao presidente estadunidense “As veias abertas de América Latina”, do intelectual uruguaio Eduardo Galeano, documenta a ingerência das potências mundiais e faz um extensivo reconto das consequências do colonialismo e o imperialismo -europeu antes e ianque agora-, fazendo reflexivo ênfase nas mais cruas e indignantes. Nos explica ademais Galeano nessa obra, que não podemos ler sem ser agitados emocionalmente, que temos sido roubados e espoliados para financiar a opulência capitalista das colônias de além e aquém.
E mesmo que um imbecil do Departamento de Estado, um assessor de Obama que tem o muito colombiano (¿quando não?) apelido Restrepo, disse que: “se trata de um livro do passado que queremos deixar atrás", a verdade é que essa obra é uma verdadeira e positiva bomba nuclear que o Presidente Chávez tem plantado no tecido social e intelectual estadunidense.
UM PRESIDENTE QUE LÊ E ESCREVE
Disse a BBC de Londres que “ademais de contratar agências de publicidade de renome e trajetória, quiçá as editoriais deveriam enviar copias de seus livros à mesa de noite do presidente da Venezuela, já que essa não é a primeira vez que Chávez se apresenta como um grande promotor de livros. Há três anos, suas recomendações literárias levaram ao posto número um a obra “Hegemonia ou super-vivência”, do intelectual estadunidense Noam Chomsky. Se esta vez seu palco foi a V Cúpula das Américas em Trinidad y Tobago, naquela oportunidade Chávez aproveitou a reunião das Nações Unidas, em Nova York, para publicitar esse livro”.
E é que Chávez é um Presidente subversivo que sabe que a voz é como um disparo e que uma gráfica, como disse Bolívar o Pai da Pátria “é a artilharia do Pensamento”. De fato, a versão em inglês de “As veias abertas de América Latina”, ao momento de escrever esta matéria, encontrava-se no posto No. 02 e próximo de ultrapassar o bestseller do momento no mercado estadunidense. Graças a Chávez, o livro deixou o posto 54.295 do ranking de Amazon.com, passando a ser o segundo livro mais vendido (sendo questão de horas chegar ao lugar de honra). Belo triunfo.
Os venezuelanos, que estamos orgulhosamente acostumados a um Presidente que não só é campeão em sucessos e ações, senão um verdadeiro rato de biblioteca, presenciamos desde a chegada da Revolução Bolivariana um assombroso incremento da leitura e da socialização do livro em todos os âmbitos da vida cotidiana. Fontes da indústria do livro no país e do Ministério da Cultura, que é o ente executor desta revolucionária política pública de fomento da leitura, dão conta de assombrosos números que, porém, não retratam a realidade quantitativa desta Revolução do pensamento e da liberdade: o povo venezuelano se libera do jugo da manipulação dos meios de comunicação e se converte em leitor crítico capaz de entender os desafios da história e de avançar na construção coletiva da felicidade. Hoje mais do que nunca, na Venezuela obedecemos à máxima do apóstolo José Martí, quem desde os séculos nos diz que “ser cultos é a única maneira de sermos livres”.
AS CONSEQUÊNCIAS DA BOMBA NUCLEAR
Desde já, pode escrever, milhões de estadunidenses, que no passado recente leram o preclaro livro de Noam Chomsky “Hegemonia ou super-vivencia” por agitador e telúrico imperativo do Comandante Chávez, têm-se dedicado a ler “As veias abertas de América Latina” de Eduardo Galeano. Ler-ão-o com desprezo, assombro ou perplexidade, mas os milhões de vítimas de 5 séculos de história que denunciam através da obra de Galeano a infâmia do imperialismo, algum impacto devem gerar nas mentes e corações dos ianques bons (que certamente há). Barack Obama seguramente vai minimizar o conselho do tarado Daniel Restrepo e, ainda que não aceite seu conteúdo, como Santo Agostinho poderá escutar a voz: toma e lê. Algum gen de sua negritude se verá nas páginas que retratam a atroz injustiça e refletirá , não sabemos como, em torno da construção de um mundo melhor, em um país como EUA onde um assombroso 33% dos jovens pensam que o socialismo é o melhor sistema político. “Escreve que algo fica”, nos dizia o velho roble comunista de Kotepa Delgado. E Chávez, com suas “Líneas”, com seus discursos, com sua agitação de consciências, sabe disso perfeitamente.
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