"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014


A estratégia russa ante o imperialismo anglo-saxão. O início da mudança de rumo mundial
Escrito por Thierry Meyssan *. Fonte: Red Voltaire

As agressões dos anglo-saxões contra a Rússia estão assumindo a forma de uma guerra financeira e econômica. Porém Moscou se prepara para as hostilidades armadas desenvolvendo sua autonomia no setor agrícola e multiplicando suas alianças internacionais.
A ofensiva dos anglo-saxões [Estados Unidos, Reino Unido e Israel] pelo controle do mundo se mantém simultaneamente em duas direções: a criação do «Oriente Médio Ampliado» [Greater Middle East] –com os ataques simultâneos contra Iraque, Síria, Líbano e Palestina- e o processo destinado a separar a Rússia da União Europeia mediante a crise organizada por Washington na Ucrânia.
Nesta corrida contra o tempo, parece que Washington quisera impor o dólar como única moeda no mercado do gás, a fonte de energia do século XXI, como já havia feito anteriormente no mercado do petróleo.[1]
Os meios de imprensa ocidentais quase não falam da guerra do Donbass e a população de seus países nada sabe sobre a envergadura dos combates, da presença de militares estadunidenses na Ucrânia, da quantidade de vítimas civis nem da onda de refugiados. Os meios da imprensa ocidental, sim, mencionam, ainda que com atraso, os acontecimentos do Magreb e o Levante, porém os apresentam como o resultado de uma suposta «primavera árabe» [ou seja, na prática, de uma tomada do poder por parte da Irmandade Muçulmana] ou como o efeito destrutivo de uma civilização naturalmente violenta. E nos dizem que é mais necessário que nunca acorrer em ajuda aos árabes, incapazes de viver em paz sem os colonos ocidentais.
A Rússia é hoje a principal potência capaz de encabeçar a Resistência frente ao imperialismo anglo-saxão. Para isso dispõe de 3 ferramentas: os BRICS, uma aliança de rivais econômicos que sabem que só podem crescer se se ajudam entre si; a Organização de Cooperação de Xangai, uma aliança estratégica com a China para estabilizar a Ásia Central; e, finalmente, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar de Estados ex-soviéticos.
Na cúpula de Fortaleza [Brasil], realizada de 14 a16 de julho de 2014, os BRICS deram o passo necessário, anunciando a criação de um Fundo de Reserva Monetária –principalmente chinês- e de um Banco BRICS como alternativas ao Fundo Monetário Internacional [FMI] e ao Banco Mundial, ou seja, como alternativa ao sistema-dólar.[2]
Inclusive, antes do anúncio, os anglo-saxões já haviam preparado sua resposta: a transformação da rede terrorista Al-Qaeda num califado com o objetivo de orquestrar problemas e incidentes entre todas as populações muçulmanas de Rússia e China.[3] Prosseguiram sua ofensiva na Síria e estenderam-na, ademais, a Iraque e Líbano. Porém fracassaram em seu intento de expulsar os palestinos de Gaza para o Egito e acentuar a desestabilização da região. E, como ponto final, seguem sem meter-se com o Irã para dar ao presidente Hassan Rohani a possibilidade de debilitar a corrente anti-imperialista dos khomeinistas.
Dois dias depois do anúncio dos BRICS, os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter destruído o voo MH17 da Malaysia Airlines sobre a região de Donbass, matando assim 298 pessoas. Partindo dessa suposição, completamente arbitrária, os Estados Unidos impuseram aos europeus o início de uma guerra econômica contra a Rússia. Atuando à maneira de um tribunal, o Conselho da União Europeia julgou e condenou a Rússia, sem a menor prova e sem dar-lhe a possibilidade de defender-se. E promulgou «sanções» contra seu sistema financiero.
Consciente de que os dirigentes europeus não estão trabalhando a favor dos interesses de seus próprios povos senão que em função dos interesses dos anglo-saxões, a Rússia preferiu conter-se e se absteve –até agora- de entrar em guerra na Ucrânia. Apoia aos rebeldes com armas e informação de inteligência, acolhe em seu próprio território a mais de 500 000 refugiados, porém se abstém de enviar tropas e de seguir o jogo da guerra. E é provável que não intervenha antes que a grande maioria dos ucranianos se subleve contra o presidente Petro Porochenko, ainda que isso implique não entrar no país até depois da queda da República Popular de Donetsk
Ante a guerra econômica, Moscou optou por responder com medidas similares, porém não no setor financeiro, mas sim no da agricultura. Duas considerações levaram-na a preferir essa opção: Em primeiro lugar, no curto prazo, os demais países BRICS podem aliviar as consequências das chamadas «sanções» enquanto que, por outro lado e no longo prazo, a Rússia se prepara para a guerra e tem intenções de reconstituir completamente sua agricultura para viver em situação de autossuficiência.
Os anglo-saxões também previram paralisar a Rússia por dentro. Primeiramente, mediante a ativação, através do Emirado Islâmico [ex-EIIL], de grupos terroristas no seio de sua população muçulmana e também organizando uma oposição midiática por ocasião das eleições municipais de 14 de setembro. Importantes somas de dinheiro chegaram a todos os candidatos da oposição na trintena de grandes cidades russas implicadas nessas eleições enquanto pelo menos 50 000 agitadores ucranianos, infiltrados entre os refugiados, estão reagrupando-se em São Petersburgo. A maioria desses indivíduos tem a dupla nacionalidade russo-ucraniana. O objetivo é, evidentemente, reproduzir no interior do país as manifestações orquestradas em Moscou depois das eleições de dezembro de 2011 –acrescentando-lhes a violência como novo ingrediante- e impor ao país um processo de «revolução colorida», ao que uma parte dos funcionários e da classe dirigente seria favorável.
Para consegui-lo, Washington nomeou um novo embaixador na Rússia, John Tefft, o mesmo que preparou a «revolução das rosas» na Geórgia e o golpe de Estado na Ucrânia.
Para o presidente Vladimir Putin será muito importante poder confiar em seu primeiro-ministro, Dimitri Medvedev, a quem Washington esperava recrutar para derrocá-lo.
Tendo em conta o iminente do perigo, Moscou parece ter conseguido convencido Pequim a aceitar a incorporação da Índia, em troca da do Irã –porém também as de Paquistão e Mongólia-, à Organização de Cooperação de Xangai [OCX]. Essa decisão deveria tornar-se pública durante a cúpula programada em Dusambé, capital do Tajiquistão, para os dias 12 e 13 de setembro. Isso deveria pôr fim ao conflito de séculos entre Índia e China e implicá-las numa cooperação militar. Essa drástica mudança da situação, se se confirma, também poria fim à lua de mel entre Nova Deli e Washington, quando este último esperava distanciar a Índia da Rússia oferecendo-lhe acesso a diversas tecnologias nucleares. A incorporação de Nova Deli à OCX constitui também uma aposta pela sinceridade de seu novo primeiro-ministro, Narendra Modi, sobre quem pesam suspeitas de ter estimulado atos de violência anti muçulmana, em 2002, em Gujarat, quando dirigia esse Estado da Índia.
Por outro lado, a incorporação do Irã, que constitui uma provocação para Washington, forneceria para a OCX um conhecimento preciso sobre os movimentos jihadistas e os meios de opor-se a eles. Também neste caso, se se confirma, deve reduzir a vontade iraniana de negociar uma pausa com o «Grande Satã», intenção que motivou a eleição do xeque Hassan Rohani à presidência da República Islâmica. Neste caso, a aposta seria pela autoridade do Guia Supremo da Revolução Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei.
A entrada desses países na OCX marcaria de fato o início de uma mudança de rumo do mundo, que, depois de estar orientado para o Ocidente, se orientaria para o Oriente.[4] Porém essa evolução teria que contar com proteção no plano militar. Esse é o papel da Organização do Tratado de Segurança Coletiva [OTSC], composta ao redor da Rússia, porém que não inclui a China. Diferentemente da OTAN, a OTSC é uma aliança clássica, compatível com a Carta das Nações Unidas, já que cada um de seus membros conserva a possibilidade de separar-se da OTSC se assim o deseja. E é baseando-se nessa liberdade dos membros da OTSC que Washington tratou durante os últimos meses de comprar a vários deles, como a Armênia. Porém, a caótica situação que prevalece na Ucrânia parece ter esfriado aos que podiam sonhar com uma «proteção» estadunidense.
Assim que há que prever um aumento da tensão durante as próximas semanas.
* Thierry Meyssan
Intelectual francês, presidente-fundador da Red Voltaire e da conferência Axis for Peace. Suas análises sobre política exterior se publicam na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra publicada en espanhol: La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).
Tradução de Joaquim Lisboa Neto
[1] «¿Qué tienen en común las guerras de Ucrania, Gaza, Irak, Siria y Libia?», por Alfredo Jalife-Rahme, La Jornada (México), Red Voltaire, 8 de agosto de 2014.
[2] «Las semillas de una nueva arquitectura financiera», por Ariel Noyola Rodríguez, Red Voltaire, 1º de julio de 2014. “Sixth BRICS Summit: Fortaleza Declaration and Action Plan”, Voltaire Network, 16 de julio de 2014.
[3] «¿Yihad mundial contra los BRICS?», por Alfredo Jalife-Rahme, La Jornada (México), Red Voltaire, 18 de julio de 2014.
[4] “Russia and China in the Balance of the Middle East: Syria and other countries”, por Imad Fawzi Shueibi, Voltaire Network, 27 de enero de 2012.