Suposto ataque das FARC gera tensão e governo ameaça romper processo de paz
Por Marcela Belchior, Jornalista de
Adital.
Santos responsabiliza as FARC por um ataque contra uma torre de eletricidade, no último dia 29 de julho, que deixou 450 mil pessoas sem luz em San José, localidade de Buenaventura (Departamento de Valle de Cauca), onde fica o porto colombiano mais importante no Oceano Pacífico. O Exército colombiano afirma que a guerrilha teria detonado um artefato explosivo no local, ocasionando a suspensão do fornecimento de energia na cidade.
As FARC querem que haja acordo com o governo a partir do que diz o Direito Humanitário Internacional (DIH), que rege os conflitos internos dos países com um conjunto de leis que protege pessoas em tempos de conflito armado. O uso da DIH foi proposto reiteradas vezes durante o diálogo em Havana, capital de Cuba, onde ocorrem os diálogos de paz desde novembro de 2012.
Os movimentos sociais, por sua vez, acusam Santos de descumprir o que prometeu durante toda a campanha eleitoral, apoiada no combate à violência e na retomada da paz na Colômbia, atribuindo "ingenuidade” ao eleitorado.
"Que belas cores pacifistas que exibiu nas eleições passadas o grande ‘Camaleón’ jogador de pôquer, e ante os quais sucumbiram, dando seu voto muitos colombianos honestos, bem intencionados, incluídos muitos membros destacados da esquerda eleitoral; não era nada senão isso: uma bela camuflagem oligárquica do militarismo para fazer abortar o movimento de massas e a mobilização social pela solução política do histórico conflito social e armado da Colômbia”, escreveu a Agencia de Noticias Nueva Colombia (ANNCOL) em editorial.
No último dia 1º de agosto, a entidade Comunidades Construindo Paz nos Territórios (Conpaz), rede de organizações de pessoas que habitam em regiões de conflito armado, publicou uma carta destinada ao presidente Juan Manuel Santos. A entidade pede que o mandatário mantenha os diálogos tanto com as FARC quanto com o Exército de Liberação Nacional (ELN) e com o Exército Popular de Liberação (EPL), outras duas das maiores guerrilhas colombianas.
"Quem sabe chegou o momento de dar uma virada nas conversações, e essa virada é parar a guerra, o confronto e iniciar uma fase de expressões humanitárias, que incluiriam militares, policiais, guerrilheiros e a nós, civis”, explana a entidade. "Levantar-se da mesa e não iniciar conversações com ELN e o EPL será nefasto para o nosso presente e futuro. Dialogar em meio ao confronto foi a aposta”, argumenta a Conpaz.
Ainda que o processo de paz já tenha passado por outras crises, essa é a primeira vez que o governo coloca em dúvida sua continuidade na mesa de diálogo, estando Santos pressionado pelas forças da ultradireita colombiana, que querem o rompimento da negociação. Especialistas apontam que esse é o momento de pressionar e colocar condições com vistas à finalização do diálogo, tratando-se de mecanismos de estratégia política.
Encontro na próxima semana
Para o próximo dia 12 de agosto, está programado um novo ciclo de conversações entre as FARC e o governo sobre as vítimas do conflito, após serem alcançados três pontos da agenda política: a questão agrária, a participação política da guerrilha e o narcotráfico. Assuntos como a entrega de armas e os mecanismos para referendar acordos estão previstos para diálogos futuros.