Ameaças e perseguições Na Colômbia
* Informações de organismos do Estado servem de base para perseguir dirigentes de oposição e ativistas dos Direitos Humanos.
* Bogotá converteu-se no principal centro de deslocamentos forçados de pessoas, segundo informe de Codhes [Consultoria para os Direitos Humanos e o Deslocamento Forçado, entidade colombiana criada em 1992 para apoiar as vítimas do conflito armado].
Há um terrível recrudescimento das ameaças e perseguições por parte dos organismos oficiais e dos paramilitares, tanto em Bogotá como em outras regiões do país – denunciou o vereador do Polo Democrático Jaime Caycedo Turriago, respaldado em documentos de diversas organizações sociais e de estudantes das universidades públicas de Bogotá.
O caso mais recente foram as ameaças por escrito feitas a estudantes e professores da Universidade Nacional da Colômbia, sede Bogotá, distribuídas no dia 28 de abril, num texto assinado pelo grupo terrorista Bloco Central dos Paramilitares, formado por antigos membros do Bloco Centauros [unidade da organização paramilitar Autodefesas Unidas da Colômbia, supostamente desativada em 2005], que chama de guerrilheiros a uma longa lista de membros dessa comunidade acadêmica que, segundo o Bloco, foi obtida graças a “ações de Inteligência” que realizaram.
“Não me parece um simples acaso que este fato tenha ocorrido há apenas algumas semanas, quando o DAS [Departamento Administrativo de Segurança, principal órgão de informação do Estado colombiano] solicitou formalmente informações das universidades públicas, incluída aí a Universidade Nacional, tendo acesso à base de dados completa dos estudantes, professores e técnico-administrativos”, disse o vereador Caycedo Turriago.
Caycedo, que é também secretário geral do Partido Comunista Colombiano, ressaltou a grave situação que vêm enfrentando os dirigentes do Polo Democrático, os ativistas populares e os defensores dos direitos humanos em Caquetá, por conta de um informe de um organismo estatal de inteligência que os identifica como apoiadores da “frente amazônica das Farc”. “Entre eles estão dirigentes dos professores universitários, dirigentes políticos liberais e do Polo, ativistas dos direitos humanos e outras personalidades, seguindo a mesma linha da acusação presidencial contra a organização Colombianos pela Paz, e isso em plena etapa pré-eleitoral, visando bloquear o caminho da oposição”, disse com ênfase o vereador.
Expressou também sua grande preocupação com a notícia divulgada pela Codhes de que Bogotá passou a ocupar o desonroso primeiro lugar em relação ao número de pessoas deslocadas. “A cidade agora não é mais apenas o principal centro receptor de deslocados, mas é também, paradoxalmente, o que gera a maior quantidade de população deslocada, num movimento que não só se dá entre diversas regiões da mesma cidade, como também expulsa pessoas de outras regiões em função da perseguição de grupos ilegais, ou devido à terrível situação econômica que suportam as famílias que sofrem esta cruel realidade. Isto coincide plenamente com as denúncias que temos feito em relação ao crescimento da presença paramilitar em, no mínimo, metade das localidades de Bogotá”, assinalou o vereador do Polo Democrático.
“A isso somamos os tristemente célebres ‘falsos positivos’ [a partir do escândalo que estourou em 2008, em que o exército colombiano assassinou civis a sangue frio para apresentá-los como guerrilheiros mortos em combate], que em Bogotá têm provocado o desaparecimento e a morte de não menos de 16 jovens em situação de pobreza e desemprego; as ameaças diretas, pessoais e presenciais proferidas por paramilitares contra ativistas de Modep [Movimento pela Defesa dos Direitos do Povo]; a ameaça de morte contra Oscar Edgardo Duarte, dirigente sindical; as denúncias concretas contra o reitor da Universidade Industrial de Santander, Jaime Alberto Camacho Pico, de trabalhar como agente dos paramilitares para fornecer informações sobre os líderes estudantis, técnicos e docentes; o desterro forçado de vários dirigentes camponeses de regiões como Santander e Caquetá, que tiveram que deslocar-se para Bogotá para proteger suas vidas; e outros incontáveis atentados contra a liberdade, os direitos civis e de exercício da oposição contra um regime que se ocupa em proteger preferencialmente aos algozes, apresentando-os como heróis para justificar os seus crimes, e dando-lhes recursos econômicos para lhes proporcionar “decorosas condições de vida”, enquanto que as vítimas se revezam entre o medo, a miséria e a perseguição”, declarou Jaime Caycedo.
De acordo com o vereador, tanto a administração distrital como a sociedade em geral devem reforçar as medidas para garantir a vigência dos direitos civis. “A ‘segurança democrática’ de Álvaro Uribe está atentando contra a segurança civil e cidadã, uma vez que já se contam por mil os casos de gente comum que se vê obrigada a deixar suas propriedades e pertences, quando não a oferecer sua própria vida como consequência do respaldo aberto ou velado que a ‘segurança democrática’ dá àqueles que consideram o protesto popular e a oposição a Uribe algo que atenta contra a perpetuação deste regime desumano, que se mantém de costas ao drama que vivem as maiorias”, pontuou Jaime Caycedo.
* Jaime Caycedo é Secretário Geral do Partido Comunista Colombiano e Vereador em Bogotá, pela Frente Pólo Democrático
(tradução Rodrigo Oliveira Fonseca)