"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 16 de junho de 2009

A mentira como doutrina de Estado

Por Carlos de Urabá


O poder político, econômico e militar da nossa “democracia” deve consolidar-se não importando os meios, pois é fundamental salvaguardar os interesses da pátria. O governo nacional dispõe do armamento de propaganda e de manipulação que a mídia lhe fornece para impor seus princípios.

Milhares dos melhores especialistas, uma máquina eficaz que trabalha dia e noite para que seja instaurado na Colômbia um sistema limpo e perfeito que justifique a mentira como doutrina de Estado.

Durante o governo de Uribe tem-se realizado os maiores esforços militares patrocinados pelo Plano Colômbia para deixar a cúpula das FARC sem cabeça. Nas selvas, bombardeios contínuos ocorrem nas zonas marcadas pelos aviões espiões e satélites norte-americanos onde supõem existir acampamentos guerrilheiros que, segundo a doutrina oficial são terroristas que devem ser aniquilados da face da Terra. Isto tem significado o maior investimento jamais visto na América Latina para matar e destruir com o consentimento dos EEUU e Europa. Mas a tenaz resistência guerrilheira é quase impossível de ser subjugada.

O exército colombiano continua insistindo, há anos, numa ampla campanha midiática com a finalidade de convencer os guerrilheiros para se entreguem e se submetam à lei de Justiça e Paz. Nas rodovias do país são distribuídos panfletos onde se mostra um baralho, igual ao dos norte-americanos no Iraque, em que se mostram fotos dos membros do secretariado das FARC com os respectivos valores em milhares de dólares de recompensa. “Os guerrilheiros devem desertar e aproveitar os benefícios que a pátria lhes oferece ou caso contrário o seu destino será o cemitério” diz a propaganda oficial. “Fujam rápido, voltem para a vida civil que os espera com os braços abertos”, mas esquecem que na tal vida civil que os espera 60% da população está desempregada e a situação econômica é cada dia mais desesperante. O governo colombiano acredita que as pessoas podem ser subornadas e chantageadas e que a dignidade humana não existe. Como nos filmes de faroeste, os lideres da insurgência receberam um preço para estimular a delação. Tudo é resolvido com dinheiro, ou melhor, com falsas promessas de dinheiro porque ao final sequer fazem o pagamento e até fazem desaparecer os informantes. Sem duvida o “patriotismo” não tem muitos adeptos e ninguém atende a essas razões heróicas se não houver uma grande quantidade de dinheiro no meio. (Sabemos de fontes confiáveis, que o guerrilheiro desertor “Isaza” foi premiado com uma viagem a Paris com sua noiva e que se encontra como pajem na casa de Ingrid Betancourt).

Os filhos de camponeses e operários são obrigados, por lei, a prestar o serviço militar. E devem arriscar o pescoço de graça enquanto os filhinhos das classes privilegiadas livram-se do mesmo destino comprando a dispensa do serviço militar nos escritórios de recrutamento. Nenhum filhinho da alta sociedade caiu em combate defendendo o que a burguesia chama de “nossa pátria”. Além disso, os soldadinhos são maltratados e devem cumprir 12 penosos meses “seqüestrados”, acatando com disciplina e honra as ordens de seus superiores. Essa gleba é simplesmente bucha de canhão no tenebroso jogo da guerra. A maioria dos oficiais da cúpula militar colombiana foi educada na Escola das Américas ou em West Point onde foram aprovados, com elevadas notas, no curso intensivo de tortura e terrorismo de estado. Métodos de extermínio copiados fielmente dos manuais da Gestapo.

Na Colômbia, a partir de 1930, a ideologia fascista teve grande aceitação no seio da classe política, militar e eclesiástica acreditando ver na disciplina castrense o método perfeito para guiar os cidadãos pelo caminho da civilização e do progresso. O führer, Franco e Mussolini foram elevados em altares como exemplo de sacrifício e entrega. Por isso, ninguém deve estranhar que, neste país, tenha germinado a semente diabólica do paramilitarismo.
Por obra e graça do espírito santo, Uribe Vélez converteu-se no redentor da pátria, no messias crioulo, o novo nazareno, um grande timoneiro dotado de inteligência superior própria de um ser de outra galáxia. Daí que seus devotos, valendo-se de chantagens e subornos, reformaram a constituição colombiana com a finalidade de eternizá-lo no poder. Como bom antioquenho, cercou-se de hermético grupo de amigões, uma espécie de “cosa nostra” onde se destacam o ideólogo José Obdulio Gaviria, primo de Pablo Escobar e principal conselheiro presidencial; o Radovan Karadzic colombiano, psiquiatra e ex-comissionado para a Paz, Luis Carlos Restrepo; o padrinho Fabio Echeverry; o cachorrinho Andrés Felipe Arias; a família Santos, com o pedófilo-mor Juan Manuel à cabeça e seu priminho Francisco de Vice-presidente; os Valencia Cóssio, afamados paramilitares e mafiosos; o membro numerário da Opus Dei, Sabas Pretelt e um sem número de rufiões e espertalhões de reconhecido prestigio.

Dentre os planos do uribismo há o de instaurar um “estado comunitário” para que a participação cidadã democratize as instituições. “O estado burocrático e politiqueiro tem que acabar de uma vez por todas”, que segundo suas palavras existiam até que ele foi eleito presidente. Mas os fatos demonstram que a corrupção ao invés de diminuir, pelo contrário, aumentou até níveis escandalosos. O clientelismo é um mal endêmico que assola as instituições, pois como é de costume, as alianças políticas são pagas com quotas burocráticas aonde diferentes grupos, que vão da ultradireita conservadora até o partido liberal passando por grupos guerrilheiros do M-19 como o comandante 1, Rosemberg Pabón ou Evert Bustamante, brigam entre si para ocupar os postos de maior relevância.

Outro dos pilares ideológicos do uribismo é o da “segurança democrática”, cujos antecedentes remontam às políticas de segurança nacional promovidas pelos EEUU na América Latina na década de 70 e 80 com a intenção de frear a ameaça comunista. “Segurança democrática” que busca proteger a oligarquia, isto é, empresários, industriais, políticos e pecuaristas dos embates da subversão e da delinqüência. “Deve-se devolver a confiança aos investidores porque eles são o motor do desenvolvimento econômico”. Para conseguir este propósito o gasto militar quintuplicou no seu mandato assim como o número de soldados e policiais que ultrapassou meio milhão de efetivos. O orçamento do ministério da Defesa, ou melhor, da Guerra, superou significativamente o da Saúde e de Educação.

O que realmente foi constituída na Colômbia é uma ditadura cívico-militar que conta com o aval do império americano e, segundo as pesquisas, com mais de 70% da opinião pública. Demonstra-se assim que a alienação da massa é um êxito sem precedentes. Parece que o povo é masoquista e gosta de ser fustigado. A submissão física e mental não tem comparação: a população extenuada deve buscar o sustento diário numa batalha continua pela sobrevivência. Sua única diversão: televisão, futebol, seitas e álcool.

Além disso, o governo uribista tem como projeto assentar as bases de um “país de proprietários”, um país onde a propriedade privada seja a razão da sua existência. “A banca deve criar as condições favoráveis baixando os juros para que os pobres se integrem num estado moderno e solidário”. “Fundaremos o banco das oportunidades para fazer empréstimos aos pobres e assim consigam se capitalizar e subir na escala social” – partes do discurso oficial – Que cinismo! A Colômbia não é um estado comunitário e sim autoritário e feudal, uma autocracia onde os deserdados multiplicam-se dia-a-dia, onde o êxodo rural de milhões de camponeses não cessa, deslocados pela violência para as grandes cidades. Três milhões de hectares roubados e expropriados, as melhores terras passaram às mãos dos paramilitares, terratenentes, políticos e seus testas-de-ferro. Desta forma fica oficialmente encerrada a contra-reforma agrária.

A tática do governo é muito astuta, pois lançou o programa “Famílias em Ação” para bajular os estratos mais baixos da sociedade com uma miserável esmola. O que lhe interessa é aprofundar ainda mais a dependência e o assistencialismo. Em compensação, as famílias devem cumprir o papel de guardiões e delatores. O que com justiça deveria ser um pagamento social aos despossuídos o uribismo manipula em beneficio próprio. Propõe que a Ação Social forneça aos pobres um cartão de crédito que poderão usar em todas as lojas e supermercados da rede. Um bom argumento para garantir o voto de mais de três milhões de pessoas.

A partir da independência, a aristocracia crioula se beneficiou com as rendas do país. Seus políticos compunham um bando integrado por Generais-latifundiários, por pessoas com alguns conhecimentos sobre as leis e por advogados, que com o passar do tempo ficaram conhecidos como os “pais da pátria”. Desde então, as famílias de alta linhagem formaram uma verdadeira dinastia monárquica onde o poder é herdado de pai para filho. Este sistema político de apartheid, administrado descaradamente do jeito que eles querem, chamam “democracia”. As tais eleições não são mais do que uma farsa, uma fraude legalizada, pois os votos se compram e vendem ao melhor pagador e os candidatos favoritos são impostos pela pressão das armas.

Ainda por cima, a educação nacional-católica, como guardiã da moral e dos valores tradicionais, cumpre cabalmente o seu papel de ensinar o bê-á-bá da submissão à plebe. Às suas ordens! É a resposta automática e não é permitido colocar questionamentos que coloquem em duvida a autoridade dos patrões. Necessita-se de bons soldados, de melhores consumidores e de cidadãos com juízo que engrandeçam a pátria, ou melhor, o bolso dos “pais da pátria”.

A soberania colombiana vale menos que um nabo. As instituições são manipuladas desde a embaixada norte-americana e funcionários são contratados e demitidos segundo a autorização de Washington. Na Colômbia é mais importante um visto americano do que uma carteira de identidade. A burguesia colombiana é muito traidora e ama tudo o que vem dos Estados Unidos ou Europa depreciando suas próprias raízes.

E que tome cuidado aquele que se atreva a criticar os dogmas de fé e os méritos do trabalho do presidente e seus ministros, pois os órgãos de segurança, o DAS e a DIJIN, vivem alertas e à escuta. A este grande aparato de “inteligência”, cheio de ratos e toupeiras, somam-se milhares de agentes e informantes prestes a enquadrar os opositores mais recalcitrantes.

Os políticos colombianos são profissionais na arte do desfalque e da corrupção. São vistos nos seus luxuosos jeeps 4x4 cercados de guarda-costas bem vestidos e de delicados modos, magníficos oradores que despudoradamente roubam aos montes. São os congressistas, senadores e representantes, uma série de mafiosos da pior espécie, quase todos processados por suas conexões com o paramilitarismo. E não é de se estranhar que se apropriem do orçamento do estado, pois para isso foram eleitos democraticamente, não é? Investem sem remorso o dinheiro público na bolsa de valores e outros investimentos ou o distribuem entre seus amiguinhos Mancuso, dom Berna ou Jorge 40, como ficou comprovado nas confissões destes diante dos tribunais de Justiça e Paz.

Este governo teleguiado pelos EEUU propôs-se a erradicar os plantios ilícitos, dizendo que é para tirar a água do peixe e afogar as finanças dos cartéis ou da guerrilha. O objetivo é pulverizar a selva até que não sobre nenhum pé de coca ou papoula, mas porque não pulverizam as grandes extensões de plantios que são de propriedade dos coronéis pró-regime? Porque não pedem a extradição dos verdadeiros chefões do narcotráfico que vivem nos EEUU? Os ianques são os responsáveis diretos da guerra na Colômbia, pois as ordens são emitidas direto da Casa Branca e o governo colombiano as executa. Nós entramos com os mortos e os gringos enviam-nos os caixões fúnebres de ajuda humanitária. Historicamente nunca houve lacaio mais fiel aos EEUU do que a Colômbia, o aliado mais firme na América Latina e o mais baixo dos seus sócios. Deve se notar que a Colômbia foi um dos poucos países que apoiou a invasão do Iraque. Uribe e o seu gêmeo, George Bush, parecem-se como duas gotas de sangue. Se existe um estado de perfil sionista e terrorista é o colombiano, a pior ameaça contra a estabilidade e a paz da região.

Colômbia é o país do mundo onde as minas anti-pessoal têm cobrado o maior número de vitimas. Sob o lema “mais arte e menos minas” cantores famosos, atores e rainhas da beleza, contratados pelo governo, clamam pela sua eliminação imediata. O que não se fala é que boa parte dessas minas são da marca Indumil (Indústria Militar Colombiana). E ainda por cima, plantadas pelo exército ao redor dos quartéis ou zonas estratégicas. Como se fosse pouco, vendidas por oficiais no mercado negro juntamente com munição e armamento. As armas e balas do exército colombiano matam seus próprios cidadãos e a seus próprios soldados.

A cada fim de semana, na televisão nacional, como é de costume, transmitem-se durante longas horas, os “conselhos comunitários” onde o protagonista é o presidente Uribe Vélez. O grande guru que, como uma máquina, repete cifras e equações para demonstrar que o renascer econômico do país é fruto da sua política de ‘segurança democrática’. “Houve uma diminuição nos índices de delinqüência, de assassinatos, seqüestros...” gaba-se o soberano. Os empresários estrangeiros apostam cegamente no futuro do país atraídos pelas vantagens preferenciais que lhes são oferecidas a fundo perdido. Ainda que se devam tomar algumas medidas de choque para satisfazê-los como congelar o salário mínimo e diminuir os impostos aos investidores.

Como sempre os mais sacrificados são os trabalhadores, operários e camponeses, que têm que aceitar os contratos temporários e um salário miserável para tentar levar o pão de cada dia para casa. Carentes de seguro social, sem aposentadoria, sem teto para morar nem uma cova para cair morto. Ao proletariado não sobrou outra alternativa que sair à rua a vender doces, biscoitos, batatas fritas, a vender minutos de telefone celular nas esquinas ou a vender o corpo nos lupanares. São as leis do mercado e tem que ser acatadas.

A propaganda oficial bombardeia constantemente com estatísticas distorcidas no afã de glorificar os supostos êxitos do Uribismo. E quem pode duvidar da palavra desses doutores tão sérios e honestos? A indústria colombiana, nos últimos quatorze anos, não criou um só emprego fixo, segundo a própria Andi (Associação Nacional de Industriais). Os banqueiros, graças ao competente sistema especulativo, expandiram os serviços e desfrutam de uma bonança sem precedentes. Sob a supervisão do estado, aplicam os juros mais altos do mundo com a finalidade de controlar a inflação contribuir para o “bom andamento da economia”.

Alguém tem coragem de contradizer o presidente? Sua palavra é infalível como a do Papa. O Dr. Uribe, do alto de um pedestal, lança seu sermão com tom de seminarista judicioso. Por trás do seu sorriso cínico esconde o seu verdadeiro rosto de fera raivosa. Sua minúscula estatura e esse complexo de inferioridade o obrigam a elevar o seu ego para afirmar o caráter. Sem escrúpulos, esfrega as mãos enquanto no seu rosto vislumbra-se um sorrisozinho sarcástico com o que tenta se fazer simpático. Como todo bom charlatão sabe que de tanto repetir as mentiras acabam virando verdades. Com sua magistral retórica obnubila os ouvintes explicando as bondades do tratado de Livre Comércio. Um TLC feito na medida para os latifundiários e narcotraficantes, dos industriais e empresários donos da terra e dos meios de produção. “A economia vai continuar a crescer porque a Colômbia é o país do futuro. O TLC no elevará ao primeiro mundo”. É claro, aumentam os lucros das multinacionais, da empresa privada, dos banqueiros, dos industriais e dos executivos de altos cargos. É impensável que a crise econômica mundial e a recessão afetem a Colômbia “porque o país está blindado de qualquer eventualidade graças ao crescimento do PIB dos últimos anos”.

Nem se fala dos milhões de parias que ganham cinco mil pesos ao dia e que mal tomam o café da manhã. 50% da população se consideram pobre, a pobreza extrema atinge 15% da população. Das crianças colombianas 20% apresentam desnutrição (previsão da FAO para 2009), ainda, 12% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição crônica e 1,3% de desnutrição aguda. Para arrematar, por ano morrem umas duas mil crianças de fome sem que ninguém se atreva a divulgar estes macabros dados nas estatísticas oficiais.

Segundo o anãozinho de Branca de Neves, tem que se reativar o agro-negócio e tirá-lo do seu atraso ancestral, torná-lo produtivo com cultivos extensivos de palmeira africana, borracha, cacau e cana-de-açúcar. Por que o campo deve se adaptar às exigências do mundo globalizado e competir nos mercados internacionais. Estamos na era dos bio-combustíveis e deve-se aproveitar a conjuntura. A primeira medida: subsidiar a agricultura dos mais ricos. A agonia dos camponeses e dos indígenas é dramática, pois se extinguem no mais absoluto abandono e sem que se possa fazer nada para mudar seus destinos. Seu papel no novo organograma do mercado de trabalho é o de peões e servos. Os paramilitares e o exército têm comprido a missão de dominá-los na base da motoserra, torturas, extorsões e matanças. É claro que o genocídio da União Patriótica e de tantos sindicalistas e lutadores sociais são uma invenção da oposição para desestabilizar as instituições democráticas.

Poderíamos descrever a Colômbia como um imenso latifúndio de mais de um milhão de quilômetros quadrados, quer dizer, a fazenda o "Ubérrimo" (propriedade da família do Presidente), mas em grande escala. Um país de fazendeiros, um país de pecuaristas protegidos pelos seus exércitos particulares onde o negócio da cocaína é o pão nosso de cada dia e o verdadeiro motor do crescimento econômico. A coca tem elevado o nível de vida de boa parte da sociedade, em especial das classes mais abastadas que, inclusive, se cutucam intimamente com multimilionários europeus e americanos. Com arame farpado e muros de cimento foram traçadas fronteiras humanas numa geografia em que as melhores terras são patrimônio exclusivo da elite. “Proibido entrar”, “Propriedade privada”, “Cão raivoso”, dizem os cartazes de advertência para que ninguém se atreva a cruzar a linha e perturbar a tranqüilidade dos senhores feudais..

O Dr. Uribe extraditou os chefes paramilitares, detidos na prisão de Itaquí, aos EEUU para calar as confissões dos seus pupilos que não param de apontá-lo como o verdadeiro chefe do cártel. O presidente aplica a filosofia do tacape e da cenoura, o prêmio e o castigo, da mão dura e do coração grande. Presa de um dos seus típicos ataques histéricos, saca suas reluzentes garras e ordena aos seus generais matar, exterminar os guerrilheiros com todos os meios possíveis ao seu alcance ou pulverizar as selvas com glifosato para destruir as plantações de coca, o único meio de sustento de milhares de camponeses esfomeados.

A guerra é rentável, a morte é rentável, pois gera emprego e os maiores lucros ficam com a indústria de armamentos que mima o mandatário com fartas comissões. Depois denuncia à oposição qualificando-a de traidora da pátria porque falam de paz e reconciliação e, tentando ficar um pouco mais alto ajudado por seus partidários, empina-se sobre um estrado na tentativa de ganhar altura e volta a repetir que não haverá acordo humanitário para libertar os seqüestrados, pois a pátria não pode ceder diante da chantagem dos bandidos. Que continuem bombardeando a selva, as cordilheiras, que arrasem os campos e martirizem seus habitantes. E por fim, depois de horas de palavreado e verborréia põe cara de menino bom e dá de presente aos ouvintes um “louvado seja Deus!”, sintoma irrefutável de uma personalidade esquizóide e paranóica.

A oligarquia está feliz porque o presidente, como bom cavaleiro, sabe apertar as esporas na plebe e defende seus interesses: “liberdade paro o patrão e ordem para o peão”. A pobreza também é cotizada na bolsa, deve-se continuar a explorar os pobres que dão bons lucros. A especulação monetária e o enriquecimento dos intermediários é uma das regras de ouro do capitalismo. Não se deve mais reparar nos investimentos piramidais, o credito a conta-gotas, as fundações, cassinos, loterias, chances que enchem o mercado com variada oferta onde os cidadãos, no desespero, vendem a alma ao diabo.

A Colômbia não é um país, é a empresa do presidente, dos seus filinhos e de seus comparsas que a hipotecaram ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial e às multinacionais estrangeiras. O minúsculo imperador continua o sermão das sete palavras. É necessário que a opinião pública entenda por que se necessita de um maioral, um bom castrador, um homem apaixonado que coloque o país no lugar que lhe corresponde. Pois Colômbia é paixão, paixão de semana santa é claro. Nesta via-crúcis o povo é quem carrega a pesada cruz, enquanto os governantes se divertem nas suas orgias e bacanais. A Colômbia é, na realidade, um país construído por emigrantes que enviam remessas anuais que juntas somam 4 bilhões de dólares. Eles são sem sobra de duvidas, os que garantem a paz social.

Os reféns das FARC, o intercâmbio humanitário ou um acordo de paz, que vão pro raio que o parta. Ao patrão importa uma vírgula a vida humana e está mais preocupado com o bem estar dos seus cavalos puros-sangues e dos seus cachorros com pedigree. Ainda que o presidente com seus aliados têm-se comportado com generosidade promulgando a lei de Justiça e Paz, com a finalidade de outorgar anistia geral aos seus companheiros paramilitares. O resultado não pode ser mais esperançoso, pois estes se beneficiarão com pequenas penas a cambio dos seus crimes horrendos (deslocamentos forçados, roubo de terras, narcotráfico, massacres de camponeses, assassinato de políticos opositores, professores, sindicalistas, etc.).

A oposição se manifesta timidamente, as forças de esquerda, sem nenhum rigor, apenas fazem algumas criticas. Salvo poucas exceções como a senadora Piedad Córdoba ou, ao seu momento, o presidente venezuelano Hugo Chávez, o restante são uma vulgar caricatura. O Pólo Democrático com um discurso tímido e sem coragem que só tem interesse em usufruir da burocracia, aburguesaram-se e sentam-se na mesa dos amos para devorar o banquete. Em fim, é doloroso reconhecer que a verdadeira oposição é feita nas montanhas ou nas selvas com as armas em punho.

É incrível, mas na Colômbia o gado vive melhor nos pastos do que os próprios cidadãos. O gado desfruta de grandes extensões de terra e nunca lhe falta alimentação de qualidade e até possui assistência sanitária. Enquanto os pobres moram em favelas, passam fome e agonizam na porta dos hospitais, pois para ser admitidos devem portar um cartão Visa Ouro. Dos 14.362.867 hectares que potencialmente poderiam ser usados na agricultura, o país utiliza apenas 5.317.862 hectares. O uso potencial é de 19.251.500 hectares. Atualmente a terra destinada à pecuária é de 40.083.171 hectares.

A igreja católica e o seu líder, monsenhor Rubiano, defensor dos padres pedófilos e uribista fanático, também é cúmplice por ação ou omissão dos crimes de estado. Porque eles dão de comungar e bendizem o poder estabelecido. E não é para menos, pois o estado subvenciona a fé católica com mais de doze bilhões de pesos anualmente num país que, constitucionalmente, se declara laico. Mas não esqueçamos que a religião é vital para manter a massa submissa com vãs promessas de salvação. Marx estava errado: a religião não é o ópio do povo e sim a cocaína do povo. Bispos e cardeais juram que o Deus branco e todo poderoso e o Sagrado Coração de Jesus protegem o país e iluminam o presidente. O fundamentalismo das igrejas e das seitas faz parte essencial da doutrina fascista que goza de grande crédito na nossa sociedade.

Nosso meio ambiente, as riquezas naturais, a biodiversidade, os ecossistemas, encontram-se em perigo de extinção. Os conquistadores e colonos não tiveram o menor escrúpulo para arrasar 70% da mata nativa, erodir as bacias hidrográficas e encher de lixo terra, mar e céu. O governo, fiel às políticas neoliberais, promulgou a Lei Florestal para entregar às grandes madeireiras a exploração dos bosques e selvas virgens. Privatizaram o solo, a água, o ar e até o Sol. Da mesma forma os recursos hídricos, com a Lei da Água, vão passar às mãos das multinacionais. Não se respeitou o patrimônio dos povos indígenas e das comunidades camponesas e, sem remorso, faz-se comércio com o que há de mais sagrado: a vida e a natureza.

Na Colômbia os desaparecimentos forçados sempre foram utilizados como o melhor método de limpeza social, para intimidar opositores ou à população civil. As forças da ordem e os paramilitares são os culpados diretos destes atos criminosos e de lesa-humanidade que não dá para comparar nem com os cometidos pelas piores tiranias do continente como a argentina, chilena ou brasileira. Na luta contra o terrorismo vale tudo, pois a constituição outorga carta branca aos assassinos. Não importa torturar, mutilar e assassinar vitimas inocentes. Antes de mais nada são culpados e o melhor é disparar primeiro e perguntar depois. O realismo mágico se manifesta com toda sua dureza: os cadáveres são jogados aos rios para que sejam devorados por urubus ou jacarés. Ou então são jogados em fornos crematórios para desaparecer toda e qualquer evidência.

O presidente, para estimular os comandantes e a tropa, ofereceu promoções, viagens ao litoral, carros, televisões e dinheiro em espécie por cada subversivo dado como baixa. Ele o instigador direto desta demente prática, pois exige dos seus soldados uma quota de mortos semanalmente que devem ser cumpridas sem dilatações. Agora é que vem à tona o macabro jogo dos crimes de estado – mal chamados de falsos positivos – nos quais centenas de jovens dos estratos mais humildes, camponeses e indígenas são apresentados como guerrilheiros abatidos em combate. O certo é que, por falsas promessas de trabalho ou enganados por ofertas de dinheiro fácil, são conduzidos para lugares ermos onde seus verdugos os aguardam para executá-los com um tiro de misericórdia. Em seguida são vestidos com roupas camufladas, botas de borracha e colocam armas em suas mãos. Por fim, os heróis da pátria recebem os prêmios e condecorações por tão glorioso trabalho.

“Liberdade e Ordem” é o lema escrito com letras dourados no brasão das armas da Colômbia, o hino nacional diz que “o bem já germinará”. Mas, o único que interessa ao podem é defender seus interesses; a liberdade individual, a propriedade privada e a tão falada democracia. O estado de direito precisa realizar um controle rigoroso nos cidadãos. A repressão é o denominador comum que enche as ruas de policiais para que combatam a delinqüência e o crime organizado. A violência também faz parte de uma guerra popular contra um sistema perverso que exclui as maiorias. Não vale prevenir e sim castigar. Tem que se construir mais prisões, aumentar o efetivo e equipar os órgãos de segurança e inteligência com o melhor armamento e tecnologia, necessários para fazer frente aos antissociais. As escolas e bibliotecas são luxos desnecessários reservados às elites. Ao povo, como aos porcos, ração televisiva, religião, álcool e propaganda.

Somos governados por um bando de psicopatas e cleptomaníacos muito cuidadosos cuja herança não será outra que fossas comuns, cadáveres e esterco. Vivemos no país mais hipócrita do mundo, riem uns com os outros, mas apunhalam pelas costas. A mentira foi oficializada por decreto, não há melhor forma de conseguir o que se propõem. Os psiquiatras a denominam “pseudologia fantástica”, quer dizer, uma afirmação cuja falsidade só sabe que a pronuncia, um quadro patológico caracterizado pela constante fabricação de falsidades que na mente destes doentes são convertidas em verdades irrefutáveis.

O país dos condores, das orquídeas e esmeraldas, o país do café mais suave do mundo – que agora é importado para atender a demanda interna, este país tropical, onde os conquistadores sonharam encontrar o mítico El Dorado e as fontes da eterna juventude, hoje não é nem sombra do que já foi. Hoje é apenas um chiqueiro onde reinam abutres e urubus.

Dizem as más línguas que Uribe é o presidente mais popular de toda a história da Colômbia, o mais carismático da América Latina e, quem sabe, do mundo. Somente comparável a Jesus Cristo, Napoleão Bonaparte, George Washington ou Churchill. Um estadista universal sedento de avareza e egolatria. Sua corte de aduladores lhe exige que se sacrifique pela pátria e continue sua magnânima obra candidatando-se para um terceiro mandato. Os poderes legislativo, executivo e judiciário rendem-se aos pés de sua majestade. O referendum da reeleição certamente será aprovado no congresso da república e, por aclamação, as forças leais o coroarão como candidato único.

O plano elaborado pelo ideólogo José Obdulio, o coloca claramente no palácio de Nariño até o ano de 2019, que é quando se celebra o bicentenário da independência. O paramilitarismo e os cartéis da droga ganharam a partida, a morte se impôs sobre a vida, a mentira encarnada no monstro do fascismo nos possuiu completamente e vai ser muito difícil exorcizar este espírito maligno que envenena nossos corações.