Sexta-feira passada a repressão no Peru massacrou mais de 60 indígenas
Organizações indígenas de seis países acusam o presidente do Peru por massacre e genocídio. Índios organizados da Bolívia, Peru, Equador, Chile, Colômbia e Argentina anunciaram ontem que farão todos os esforços para levar o presidente Alan Garcia perante um tribunal internacional, pelo massacre perpetrado sexta-feira passada contra os povos da Amazônia (fotos acima).
“Colocar em juízo internacional a Alan Garcia Pérez e seu governo, pelo seu entreguismo e repressão” é a principal demanda da Coordenação Andina das Organizações Indígenas, que representa os autóctones dos seis países sul-americanos, depois de conhecer os primeiros informes do massacre nas selvas peruanas, na região de Corral Quemado e Curva do Diabo.
Para essas organizações, Alan Garcia é sinônimo de neoliberalismo genocida. “O anti-peruano, anti-latino-americano, desumano é o neoliberalismo, é o neocolonialismo, é o imperialismo e portanto é o capitalismo” - disse o presidente da Bolívia, Evo Morales, quando se confrontou verbalmente com Garcia, recentemente.
As informações desde o local da chacina – Amazônia peruana – patrocinada pelo governo aprista de Garcia contabilizam mais de 60 mortos e centenas de feridos pela violência do Estado.
A crise eclodiu há cerca de dois meses, quando o movimento indígena convocou mobilização nacional, que vem bloqueando intermitentemente estradas, aeroportos e ameaçando cortar dutos de gás e petróleo.
O objetivo dos protestos é a revogação de um conjunto de decretos de maio de 2008, estabelecidos para facilitar investimentos e exploração de recursos naturais na selva, que inclui a privatização da água no Peru e exploração de gás natural e petróleo. Em agosto passado, protestos indígenas pressionaram o Congresso, que invalidou um deles.
O jornal Folha de S. Paulo, que não é propriamente um veículo de esquerda, informa que o presidente Garcia está classificando os protestos na Amazônia como uma "conspiração" contra o seu governo, fazendo-se de vítima. A Folha informa, assim: “O presidente peruano, Alan García, qualificou ontem de 'agressão subversiva contra a democracia' os confrontos entre os indígenas e a polícia, que acontecem desde sexta-feira nas cercanias da cidade de Bagua, a 710 km de Lima. Pelo menos 60 pessoas morreram. O direitista García [palavras da Folha], cujo governo tem apenas 30% de aprovação, afirmou que é preciso responder ao movimento com 'serenidade e firmeza'".
“Serenidade, firmeza” e matança de cidadãos que protestam para impedir que o Peru seja novamente colonizado por interesses puramente econômicos que ignoram a dramática e desigual realidade social do País.
As fotografias são do movimento Catapa, uma organização belga que tem laços orgânicos com os trabalhadores em mineração na América do Sul e Europa.