Uribe tolera o auge dos paramilitares na Colômbia
Uns 10.000 homens armados aterrorizam os camponeses colombianos com total impunidade. O presidente concentra-se em vencer a guerrilha e faz vista grossa para milhares de assassinatos.
Por: Antonio Albañana
Fonte: www.publico.es
Com diferentes denominações sendo a mais genérica “bandos emergentes”, observa-se na maior parte do território colombiano a uma recomposição do fenômeno paramilitar com os mesmos elementos presentes no inicio dos anos noventa: narcotráfico, extorsão, apropriação de terras com deslocamento forçado e intervenção na política. A insegurança e o crime se espalham na Colômbia como evidente fracasso da bandeira com a que o presidente Uribe tenta se reeleger: a “segurança democrática”.
Para a analista política Claudia López, que divulgou o escândalo da parapolítica, “os fatos demonstram que se as FARC desaparecessem hoje, os números da violência, exceto os mortos por atentados e minas, permaneceriam praticamente iguais”. O Governo de Uribe centrou sua política de segurança na derrota da guerrilha, enquanto o fenômeno mais estendido por todo o país é o ressurgimento do paramilitarismo. Segundo a Polícia Nacional, o problema inclui a oito grupos com 4.500 integrantes. Mas diversas ONGs e a própria Defensoria do Povo registram mais de 82 grupos que operam em 273 municípios, com não menos de 10.000 homens bem armados, a metade deles procedentes do velho paramilitarismo, supostamente desmobilizados.
Desde o inicio do seu segundo mandato em 2006, Uribe empreendeu um processo de desmobilização pactuado com os paramilitares, agrupados na sua maior parte nas AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia). Produziram-se desarmamentos públicos, participação de órgãos internacionais e até a intervenção dos seus dirigentes máximos, como Salvatore Mancuso, na tribuna do Parlamento para explicar os “serviços” prestados à Colômbia na sua luta contra as guerrilhas. Na realidade, como rapidamente denunciou a missão de acompanhamento da OEA, as armas não eram entregues na sua totalidade, nem as mais modernas, e o paramilitarismo ia-se reorganizando em regiões como Nariño, Córdoba, La Guajira ou Bolívar. No norte de Santander, o próprio Mancuso reconstruiu, através dos seus subalternos médios, o temido Bloque Catatumbo, responsável por mais de 2.000 assassinatos.
Em Sucre, os homens de Jorge 40, que atualmente encontra-se extraditado nos EUA bem como Mancuso, por narcotráfico (e não por crimes do paramilitarismo), reconheceram pelo menos 1.500 mortes, não receberam nenhum castigo e continuam operando, combinando o deslocamento forçado de camponeses com a atividade legal através de políticos, empresários e funcionários. Na realidade, o paramilitarismo nunca foi castigado pelos massacres e negócios ilícitos.
Os grupos emergentes mais importantes espalhados pelo país são: Águias Negras, que já atuam em Córdoba, Santander, Magdalena Médio, Antioquia e, inclusive em bairros populares de Bogotá como San Cristóbal; Los Rastrojos, herdeiros do cartel do norte do Valle del Cauca e já espalhados por grande parte do país e Los Paisas. Praticam suas atividades de sempre (narcotráfico, extorsão, usurpação de terras e deslocamento forçado de camponeses e estupro) como armas de pressão e atuam em 25 dos 32 departamentos (Estados) da Colômbia.
Também interferem na política perseguindo lideres comunitários, organizações de direitos humanos e vitimas. Além de estar infiltrados nas estruturas do Estado. O escândalo mais recente foi o do Chefe de Procuradorias de Medellín, Valencia Cossio, irmão do ministro da Justiça, cuja atividade estava supostamente vinculada aos mais terríveis paramilitares da região e que hoje se encontra à espera de sentença.
A própria Defensoria do Povo tem sido objeto das ações do novo paramilitarismo. Na realidade, o mesmo de sempre porque, como assinalam fontes dessa instituição: “Trata-se do reagrupamento de paramilitares que tinham sido desmobilizados e que continuam recrutando menores de idade”. No passado dia 11, o prédio da Defensoria em Córdoba foi invadido e foi roubado somente um computador que continha informações sobre a violação dos direitos humanos por parte dos paramilitares e das forças de segurança. O mesmo aconteceu nas sedes da Defensoria em Barrancabermeja e Cartagena.
Segundo o Defensor do Povo, as ameaças a ONGs e a defensores dos direitos humanos são uma constante em Bogotá, César, Magdalena e Bolívar. Assim também os crimes e ameaças para obter o deslocamento violento de camponeses. Hoje, na Colômbia, há mais de três milhões e meio de deslocados do campo e esse número continua crescendo.
Entretanto, o Governo de Uribe não dá resposta ao fenômeno, atuando de forma débil e tratando a ação paramilitar (assassinatos, extorsões, expulsões...) como atos isolados de “delinquência comum”. E, frequentemente, se produz uma conivência com as forças da ordem e os grupos paramilitares, com os fabulosos benefícios do narcotráfico lubrificando tudo.
A analista supracitada escreveu nesta semana no jornal El Tiempo: “O narcotráfico se limpa e legitima através de políticos e funcionários que possam de governadores, prefeitos, coronéis e toda uma gama de funcionários públicos e empresários legais à custa de dezenas de milhares de mortos”. Com dezenas de parlamentares, que serviram de apoio a Uribe na sua primeira reeleição, presos por suas ligações com o paramilitarismo, a política colombiana, segundo López, “está mais tomada pela máfia e a corrupção do que nunca”.
Por: Antonio Albañana
Fonte: www.publico.es
Com diferentes denominações sendo a mais genérica “bandos emergentes”, observa-se na maior parte do território colombiano a uma recomposição do fenômeno paramilitar com os mesmos elementos presentes no inicio dos anos noventa: narcotráfico, extorsão, apropriação de terras com deslocamento forçado e intervenção na política. A insegurança e o crime se espalham na Colômbia como evidente fracasso da bandeira com a que o presidente Uribe tenta se reeleger: a “segurança democrática”.
Para a analista política Claudia López, que divulgou o escândalo da parapolítica, “os fatos demonstram que se as FARC desaparecessem hoje, os números da violência, exceto os mortos por atentados e minas, permaneceriam praticamente iguais”. O Governo de Uribe centrou sua política de segurança na derrota da guerrilha, enquanto o fenômeno mais estendido por todo o país é o ressurgimento do paramilitarismo. Segundo a Polícia Nacional, o problema inclui a oito grupos com 4.500 integrantes. Mas diversas ONGs e a própria Defensoria do Povo registram mais de 82 grupos que operam em 273 municípios, com não menos de 10.000 homens bem armados, a metade deles procedentes do velho paramilitarismo, supostamente desmobilizados.
Desde o inicio do seu segundo mandato em 2006, Uribe empreendeu um processo de desmobilização pactuado com os paramilitares, agrupados na sua maior parte nas AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia). Produziram-se desarmamentos públicos, participação de órgãos internacionais e até a intervenção dos seus dirigentes máximos, como Salvatore Mancuso, na tribuna do Parlamento para explicar os “serviços” prestados à Colômbia na sua luta contra as guerrilhas. Na realidade, como rapidamente denunciou a missão de acompanhamento da OEA, as armas não eram entregues na sua totalidade, nem as mais modernas, e o paramilitarismo ia-se reorganizando em regiões como Nariño, Córdoba, La Guajira ou Bolívar. No norte de Santander, o próprio Mancuso reconstruiu, através dos seus subalternos médios, o temido Bloque Catatumbo, responsável por mais de 2.000 assassinatos.
Em Sucre, os homens de Jorge 40, que atualmente encontra-se extraditado nos EUA bem como Mancuso, por narcotráfico (e não por crimes do paramilitarismo), reconheceram pelo menos 1.500 mortes, não receberam nenhum castigo e continuam operando, combinando o deslocamento forçado de camponeses com a atividade legal através de políticos, empresários e funcionários. Na realidade, o paramilitarismo nunca foi castigado pelos massacres e negócios ilícitos.
Os grupos emergentes mais importantes espalhados pelo país são: Águias Negras, que já atuam em Córdoba, Santander, Magdalena Médio, Antioquia e, inclusive em bairros populares de Bogotá como San Cristóbal; Los Rastrojos, herdeiros do cartel do norte do Valle del Cauca e já espalhados por grande parte do país e Los Paisas. Praticam suas atividades de sempre (narcotráfico, extorsão, usurpação de terras e deslocamento forçado de camponeses e estupro) como armas de pressão e atuam em 25 dos 32 departamentos (Estados) da Colômbia.
Também interferem na política perseguindo lideres comunitários, organizações de direitos humanos e vitimas. Além de estar infiltrados nas estruturas do Estado. O escândalo mais recente foi o do Chefe de Procuradorias de Medellín, Valencia Cossio, irmão do ministro da Justiça, cuja atividade estava supostamente vinculada aos mais terríveis paramilitares da região e que hoje se encontra à espera de sentença.
A própria Defensoria do Povo tem sido objeto das ações do novo paramilitarismo. Na realidade, o mesmo de sempre porque, como assinalam fontes dessa instituição: “Trata-se do reagrupamento de paramilitares que tinham sido desmobilizados e que continuam recrutando menores de idade”. No passado dia 11, o prédio da Defensoria em Córdoba foi invadido e foi roubado somente um computador que continha informações sobre a violação dos direitos humanos por parte dos paramilitares e das forças de segurança. O mesmo aconteceu nas sedes da Defensoria em Barrancabermeja e Cartagena.
Segundo o Defensor do Povo, as ameaças a ONGs e a defensores dos direitos humanos são uma constante em Bogotá, César, Magdalena e Bolívar. Assim também os crimes e ameaças para obter o deslocamento violento de camponeses. Hoje, na Colômbia, há mais de três milhões e meio de deslocados do campo e esse número continua crescendo.
Entretanto, o Governo de Uribe não dá resposta ao fenômeno, atuando de forma débil e tratando a ação paramilitar (assassinatos, extorsões, expulsões...) como atos isolados de “delinquência comum”. E, frequentemente, se produz uma conivência com as forças da ordem e os grupos paramilitares, com os fabulosos benefícios do narcotráfico lubrificando tudo.
A analista supracitada escreveu nesta semana no jornal El Tiempo: “O narcotráfico se limpa e legitima através de políticos e funcionários que possam de governadores, prefeitos, coronéis e toda uma gama de funcionários públicos e empresários legais à custa de dezenas de milhares de mortos”. Com dezenas de parlamentares, que serviram de apoio a Uribe na sua primeira reeleição, presos por suas ligações com o paramilitarismo, a política colombiana, segundo López, “está mais tomada pela máfia e a corrupção do que nunca”.