A difícil luta pela paz na Colômbia.
Por Miguel Urbano
Rodrigues
Para os colombianos
progressistas dois acontecimentos chamaram a atenção desde o início
do ano.
1- Uma Mesa
Redonda na qual os comandantes Jesus Santrich e Victor Sandino
Palmera, do Estado Maior Central das Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia-Exército do Povo fizeram o balanço de dois anos dos
Diálogos de Paz. O debate ocorreu em Havana, sede das conversações
em curso, mas teve ampla repercussão mundial por ser acessível pela
Internet.
2- Os ataques que
nos primeiros dias de Janeiro, em diferentes Departamentos, o
exército realizou a unidades das FARC-EP.
Santrich e Palmera
consideram que o diálogo de paz é globalmente positivo. Avançou-se
muito na discussão de pontos fundamentais da Agenda. Na questão da
terra, no tema do narcotráfico, no debate sobre as vítimas da
guerra o governo fez concessões que, embora insuficientes, motivaram
críticas furiosas de Uribe e seus falcões.
Mas os dirigentes das
FARC foram prudentes. A paz não está próxima. O povo colombiano
deseja-a intensamente. Mas são poderosas as forças empenhadas em
sabotar os Diálogos de Havana. O uribismo conta com o apoio da
oligarquia agrária e tem uma forte representação no Congresso,
controla setores importantes da Administração Publica e do Poder
Judicial. São íntimas as relações que Álvaro Uribe mantem com o
paramilitarismo, que continua em cumplicidade com a Polícia e o
Exército, praticando em muitos departamentos uma política de
terror.
Os crimes de que são
vitimas os camponeses e as comunidades indígenas são, aliás, com
frequência, atribuídos às FARC.
A posição dos
Estados Unidos é contraditória. O presidente Barack Obama afirma
ser favorável à Paz. Mas a ajuda militar à Colômbia somente é
superada pela atribuída a Israel. O Pentágono mantem no país oito
bases militares e a intervenção de “assessores” estadunidenses
em operações contra as FARC é inocultável.
Os Estados Unidos
contribuiu decisivamente para a transformação das Forças Armadas
colombianas na mais poderosa máquina militar da América Latina.
Equipado com armas que os EUA somente fornecem a Israel, o Exército
(com a Policia) tem hoje mais de 500 mil efetivos.
O corpo de
oficiais não é, contudo homogéneo. Uma percentagem considerável
da jovem oficialidade mostra-se receptiva aos apelos da Igreja a
favor do fim do conflito e está consciente de que as iniciativas da
Frente Ampla para a Paz e do Movimento Colombianos pela Paz, que
mobilizam centenas de milhares de pessoas, expressam o sentimento
profundo do povo.
No entanto, nos
altos comandos do exército predominam os falcões. Mas não existe
mais a antiga unanimidade. Significativamente, apareceram na imprensa
artigos que, a propósito do episódio do general Alzate, de
contornos nebulosos, sublinharam que a ultradireita militar já não
é hegemónica.
Os comunicados
emitidos pela Delegação para a Paz das FARC em Havana, nos
primeiros dias de janeiro, informam que a cúpula militar e os seus
aliados políticos procuram uma confrontação com a guerrilha que
leve a uma ruptura do cessar-fogo unilateral decretado pela
organização revolucionaria.
Não se trata de
um incidente isolado. AS FARC citam uma serie de ações ofensivas
provocativas. Entre outras, as seguintes:
- No dia 31 de
Dezembro, o exército atacou uma coluna de guerrilheiros no município
de Algeciras, na Huila; feriram e capturaram um combatente fariano.
- Em Miramar, uma
força do Exército avançou sobre um acampamento da 15ª Frente das
FARC, que foi abandonado.
- No dia 1 de
Janeiro, o exército atacou a Coluna Jacobo Arenas. As FARC
responderam ao fogo e abateram seis militares.
- No dia 3 de
Janeiro o exército atacou a Frente 26, em Ondas de Cafre, com o
apoio de helicópteros e morteiros de 120mm. Os atacantes caíram
numa emboscada sofrendo perdas.
- No dia 4 de
janeiro um novo ataque, em Salto Glória, contra as unidades da 1ª
Frente.
Nos dias
seguintes, prosseguiram as operações ofensivas do exército,
principalmente no Cauca e nas Planícies Orientais do país. Em
todas essas ações, as FARC reagiram defensivamente.
A Frente Ampla
para a Paz já protestou, mas o presidente Juan Manuel Santos ainda
não comentou sobre as operações ofensivas contra as FARC.
A sua atitude é
ambígua. Insiste em afirmar o seu desejo de que as conversações de
Havana conduzam à Paz, mas, ao mesmo tempo, permite que o exército
desenvolva ininterruptamente operações ofensivas contra as FARC.
Até quando as FARC,
hostilizadas diariamente, poderão manter em vigor o cessar-fogo
unilateral?
A Delegação das
FARC em Havana pergunta, com fundamento, se o presidente, pressionado
por Uribe e pela oligarquia, está empenhado no fracasso do processo
de paz?
A luta pela Paz,
tão clara por parte das FARC, é muito difícil.