Há motivos para suspeita
Por
Miguel
Angel Ferrer*
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Há
lugar para a comoção. Um grupo de homens armados ingressa na
redação em Paris de uma revista muito conhecida por seu tratamento
pouco comedido dos temas do islã, e com rifles automáticos AK 47
assassina doze jornalistas e várias pessoas mais. Em muito breve
prazo, a polícia francesa afirma ter identificado os assassinos.
Inclusive fornece os nomes dos três criminosos, aos quais, sem maior
averiguação, chama de terroristas. No lugar dos fatos comparece o
presidente da França e diz, frase explosiva, que os assassinos serão
perseguidos sem descanso e levados ante a justiça.
Em
poucas horas, a polícia informa que já tem localizados os
responsáveis pelo múltiplo homicídio. Um pouco depois, os
gendarmes afirmam que os assassinos foram mortos durante um
enfrentamento com as forças da ordem. Já se sabe que os mortos não
falam.
Também
em brevíssimo tempo chega a Paris um montão de chefes de Estado
para encabeçar uma multitudinária marcha condenatória do
terrorismo. E chama a atenção que na vanguarda da manifestação se
encontra um célebre praticante do mais cruel terrorismo: o
primeiro-ministro de Israel.
Ato
seguido, como num filme de ação vertiginosa, esse montão de chefes
de Estado, junto com o presidente dos Estados Unidos, convoca a uma
conferência internacional sobre segurança para fazer frente, de
maneira conjunta e coordenada, ao flagelo do terrorismo. Porém,
atenção!, não qualquer terrorismo, mas sim o terrorismo islâmico.
E mais concretamente o terrorismo jihadista, ao qual, sem maior
evidência e do modo mais categórico possível, se atribui o
atentado contra a revista parisiense.
No
calor do conhecimento destes fatos vertiginosos, não pode alguém
evitar que lhe venha à memória o incêndio do Reichstag, atribuído
pelos nazistas “aos comunistas”, atentado que produziu quase
automaticamente a chegada de Adolf Hitler ao poder absoluto.
E
como não recordar o afundamento na baía de Havana, em 1898, do
Maine, buque da armada estadunidense, atribuído por Washington ao
exército espanhol e que serviu de perfeito pretexto para o ingresso
dos Estados Unidos na guerra de independência de Cuba contra o
domínio colonial espanhol e que, depois da derrota de Espanha,
permitiu aos Estados Unidos apoderar-se militarmente de Cuba e
exercer sobre a ilha um domínio neocolonialista que só terminou com
o triunfo da Revolução da Sierra Maestra?
Já
se esqueceu o celebérrimo incidente do golfo de Tonkin em que, nos
disseram, umas lanchas torpedeiras do Vietnã do Norte haviam
canhoneado um barco gringo, o que mais tarde se comprovou que foi um
fato inexistente, uma rotunda falsidade, porém que serviu de
pretexto para iniciar os bombardeios massivos do Vietnã do Norte,
ocultados, evidentemente, pela imprensa e opinião pública
estadunidenses?
E
as Torres Gêmeas? Também se responsabilizou a uns fanáticos
muçulmanos desse feroz fato. Porém, até agora ninguém pôde
provar que, com efeito, as coisas ocorreram como diz a versão
oficial. Nem em Nova Iorque nem em Washington nem em Maryland, onde
nos disseram que, quem sabe como, um avião lotado de passageiros
veio aterrissar. Na literatura política mundial, a este tipo de
ações se lhes chama atentados com bandeira falsa.
Aquele
montão de mandatários e seus serviços secretos e seus aparatos de
inteligência e espionagem e a polícia parisiense terão sequer
considerado a hipótese de um atentado com bandeira falsa? Ou só
seguiram pontualmente e com cara de circunstâncias o livreto
prescrito para aumentar e justificar a islamofobia ocidental e novas
guerras coloniais contra os países muçulmanos, Irã em primeiro
lugar? De modo que, se há motivos para a comoção, também os há
para a suspeita.
Economista
e professor de Economia Política. Fundador e diretor do Centro de
Estudos de Economia e Política. É colunista do diário El Sol de
México, do Centro de Estudos de Economia e Política. É colunista
do diário El Sol de México, do quatorzenário Siminforma, do diário
Rumbo de México, entre outros meios. Analista político em distintos
programas de rádio.
Fonte:
teleSUR
Tradução:
Joaquim Lisboa Neto