VALE A PENA SEGUIR EM LA HABANA?
Por
Alberto Pinzón
O
aperto de mãos de 23 S/2015 entre JM Santos e Timoshenko, sustentado
energicamente pelo presidente do Conselho de Estado cubano Raúl
Castro, felizmente soltou a imaginação ilimitada dos colombianos e,
bem, também de alguns outros “estrategistas” do Marxismo
nossoamericano. É um fato muito positivo que a imaginação tome o
espaço de um “pós acordo de Havana” para Colômbia e, ademais,
que esse acordo já se dê por firmado.
Uma
análise bastante realista e objetiva dos 4 pontos, até agora
pactuados entre o Governo de JM Santos e as Farc, realizada pelo
economista e professor universitário Jairo Estrada, lhe permite
apresentar a sugestiva hipótese de que:
“.........)
a alta probabilidade de transitar para cenários de paz em Colômbia
incidirá favoravelmente sobre o atual campo de forças,
imprimindo-lhe um novo impulso ao processo de mudança política,
socioeconômica e cultural democrática em Nossa América, em
momentos em que este mostra sinais de esgotamento nuns casos e de
declínio em outros, como resultado dos limites que em forma desigual
e diferenciada registram os projetos políticos de conteúdo popular,
reivindicatórios da soberania e da autodeterminação, empreendidos
há um pouco mais de três lustros em diferentes países da Região e
também daqueles definidos como progressistas. Tudo isso, desde logo,
sem deixar de considerar que o que suceda em Colômbia poderia ter os
alcances de uma “revolução
passiva”,
se não se consegue desatar –com um importante respaldo social e
popular –a potência
transformadora
que tem um [eventual] Acordo de paz. Nesse sentido, a tendência do
processo político colombiano não difere substancialmente do que é
válido para o conjunto dos países de Nossa América e para a Região
em geral: se encontra em disputa [………]
https://anncol.eu/index.php/colombia/politica-economia/item/2139-algunas-consideraciones-sobre-el-momento-actual-los-alcances-y-la-potencia-transformadora-del-proceso-de-paz-en-colombia
Hipótese
que envolve dois conceitos complexos profundamente imbricados: um, o
de revolução
passiva, e
outro o de potência
transformadora,
ambos apoiados num condicional básico e hipotético de “se se
consegue um importante respaldo social e popular”.
Considero
que o professor Estrada é consciente de que, tomado o acordo de
Havana em sua “totalidade” de 6 pontos pactuados como agenda [não
como o estão analisando alguns somente pelo último ponto em questão
da Justiça Transicional] se abrirá uma etapa “reformista” de
adequação, reacomodação e modernização da dominação na
formação social capitalista dependente da Colômbia, onde, muito
provavelmente e apesar das limitações persistentes, os setores
democrático-populares teriam uma maior possibilidades de participar
ativamente.
No
entanto, não há que esquecer, como o mesmo Estrada o diz em breve,
que:
[...]
“A classe dirigente e dominante considera que a guerra já cumpriu
sua função de expropriação violenta para consolidar o regime
extrativista de acumulação e o que continua é sua
institucionalização, a qual se apresenta, ademais, como democrática
e modernizante do capitalismo”. [...]
Pois
precisamente esta consideração é o que hoje mantém dividida e
enfrentada às diferentes frações do capitalismo transnacional
existentes dentro do que genericamente se deu em denominar como “a
classe dominante e dirigente colombiana apoiada pelos EUA”.
-
O setor Santista [que aglutina financistas e terra-tenentes não
exaltados] considera que a guerra já cumpriu o objetivo mencionado e
prefere continuar avançando sem guerra. Enquanto o setor extremista
de Uribe Vélez [que também aglutina financistas e terra-tenentes
exaltados] sustenta a necessidade de continuar a guerra de despojo e
avanço capitalista até a destruição final ou extermínio total do
campesinato
pobre e
dos trabalhadores
agrícolas,
classes sociais que têm suportado e resistido com um verdadeiro
espírito heroico os mais de 70 anos de guerra capitalista
exterminadora contra eles. Este é o elemento
central de todo o
assunto em discussão.
Qual
destes dois setores da Oligarquia se imporá num futuro próximo? De
momento, parece ser que, apesar das flutuações, indecisões e
guinadas e sussurros típicos do presidente Santos, e graças também
à flexibilidade da comandância das Farc para não deixá-lo chutar
a mesa de Havana, o setor Uribista, apoiado também por um setor
político dos EUA, está algo freado, ainda que continue intacto em
sua teimosia militarista e leguleio.
E
é então quando, para aprofundar na análise da conjuntura, devemos
recorrer à especificidade
da experiência
na história da luta de classes da Colômbia [não de Guatemala, El
Salvador ou África do Sul etc, que querem nos pôr como modelos a
seguir] para pôr em relevo três fatos fundamentais que,
possivelmente, sejam irrepetíveis
em qualquer outra história da luta de classes mundial:
- Mais de 70 anos de luta armada de resistência do campesinato pobre e trabalhadores agrícolas ao extermínio capitalista, impulsado pela Oligarquia colombiana com a sustentação irrestrita em todos os níveis de parte do governo dos EUA; que tem encantado ao mundo não tanto por sua duração como por sua extensão e profundidade. [Hobsbawm, 1994]
- A necessidade [histórica e social como classes sociais] do campesinato pobre e dos trabalhadores do campo como sustentáculos fundamentais e mais numerosos desta confrontação armada, os quais tomaram consciência ao longo desta espantosa e cruel forma da luta de classes, para seguir adiante sustentando seu Programa Democrático, não o da democracia genocida da oligarquia pró Ianque, mas sim dessa Democracia Popular que antecede [assim seja por minutos] ao socialismo puro sonhado pelo destacado chefe bolchevique criador do Exército Vermelho.
E
- A transformação durante todo este sanguinário processo de seus tradicionais inimigos, “a Oligarquia e o Imperialismo”, num compacto e muito soldado Bloco de Poder Contra Insurgente [BPCI], conceito científico sustentado no rigoroso e prolixo livro de 567 páginas de Vilma Liliana Franco “Ordem contra insurgente e dominação.2009” [e cujos 10 componentes ou rodas dentadas não me cansarei de repetir, pois parece que não se lhe tem dado importância analítica como fenômeno excepcional no Mundo], o qual está conformado sobre o eixo de aço da dominação geoestratégica Imperialista norte-americana, sobre o qual giram as rodas dentadas do exército do meio milhão de homens e 5,5% do PIB. Os 80 grupos de Paramilitares oficiais. Os grupos econômicos ou cacaus. As multinacionais. A economia subterrânea de lavadores de dólares e narcotraficantes. O oligopólio midiático. A “Justiça impune” do contrato para meus amigos e a lei para meus inimigos. E os cooptadinhos das classes subalternas.
Definitivamente,
“a pior inépcia de um ser humano é não aprender da experiência”,
sentenciava no século XVI o filósofo inglês Francis Bacon, e
passar por alto esta sentença que não tem sido reavaliada no todo
pode nos induzir a equivocar-nos nas conclusões e na prospectiva.
O
processo de Havana, segundo expressa a última declaração da
delegação das Farc na ilha, entrou
numa etapa decisiva para a paz
devido à brusca mudança de opinião do presidente Santos e ao
grosseiro desconhecimento da palavra pactuada internacionalmente.
Se
trata de uma última manobra “eleitoreira” de JM Santos, quem
equivocadamente supõe que, lançando-se para trás em Havana, vai
tirar votos de seu rival Uribe nas eleições de outubro?
Ou
acaso é uma imposição do agradável comissionado de paz Humberto
de la Calle, quem pessoalmente tem “certas preocupações” por
suas “omissões” como ministro de governo de Cesar Gaviria entre
1990 e 1993, quando se realizaram os piores massacres Paramilitares
reconhecidos por sentenças judiciais como a de Trujillo Valle do
Cauca [março e abril de 1990] ou as ocorridos no Urabá?
Ou
acaso é que o setor de Uribe conseguiu seu objetivo de destruir a
Mesa de Havana?
Não
o sabemos ainda. O que, sim, sabemos com certeza é que, segundo a
experiência democrática popular acima citada, se deve e se tem que
continuar [com quem seja o governante da Colômbia] na Mesa de Havana
até concluir o acordo geral dos 6 pontos pactuados com o Estado
colombiano na agenda inicial, para que a prolífica imaginação dos
colombianos e nossoamericanos com suas esperanças e ilusões voltem
a pôr-se em marcha. O demais: a combinação do marxismo de manobras
e o marxismo de posições já se comprovará na práxis.
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Equipe
ANNCOL - Brasil