"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Márquez: Queremos o êxito da importante intermediação do Presidente Chávez

Se o intercâmbio não se logrou e segue provocando sofrimento, tem sido pela intransigência e a obsessão do Presidente. Enquanto as FARC têm dado um tratamento respeitoso e digno aos três norte-americanos, Simón é mantido acorrentado e isolado numa cela de três metros de comprimento por um e meio de largura, e Sonia reclusa em alçapões de castigo. Trechos de seu artigo remetido a ANNCOL.



[Iván Márquez* / “Simón, Sonia e a troca”]



O juiz Roice Lambert, que acaba de permutar por 25 milhões de dólares o castigo exemplar que deveria proferir contra a bananeira estadunidense Chiquita Brand, financiadora de grupos paramilitares autores de espantosos massacres na Colômbia, é o mesmo que, há dois meses, condenou o guerrilheiro das FARC Simón Trinidad mediante provas fraudulentas e pressões insólitas ao jurado, rubricando assim toda a venalidade e a podridão que distingue a “justiça” norte-americana.



Não se pode chamar justiça aquela que condena a um homem, a um revolucionário, a um bolivariano cabal, sem nenhum tipo de provas, só para castigar ou enviar-lhe um desprezível sinal de chantagem a uma organização guerrilheira que não vai retroceder em seu empenho de buscar com o povo e suas organizações políticas e sociais a nova Colômbia soberana, democrática como a queria Bolívar, com justiça social e paz.


Tem sido negado a Simón e a Sonia o direito universal à defesa jurídica. Todas as testemunhas levadas desde Bogotá a recitar falsidades contra eles nas cortes do império, são agentes do exército da Colômbia, “sapos” [delatores] ou informantes pagos pelo Estado para que mintam. E os mandam em levas de 20 e 30. Todos têm sido derrotados pelas idéias e convicções de Simón, a quem não lhe têm permitido testemunhas a favor, e pelo importante papel de seus advogados de ofício.


O primeiro juiz da causa, Tom Hogan, teve que se demitir por autorizar que membros da Fiscalização tentassem, à margem dos costumes jurídicos, induzir uma sentença adversa contra Simón. Se foi por ser imoral e desprovido de ética.


Os julgamentos que se seguem contra Simón e Sonia nos Estados Unidos são uma patranha do começo ao fim. Os dois foram arrancados do país burlando com montagens da Fiscalização o exército e o próprio Uribe, a proibição constitucional de extraditar nacionais por causas políticas. Mais importante para o Estado era fechar as portas do intercâmbio atirando as chaves ao mar, que a soberania jurídica do país.


Esses julgamentos estão viciados de nulidade porque é evidente que Simón e Sonia não são o que pintam os defraudadores da opinião tanto em Bogotá como em Washington. Não estão condenando à guerrilheira campesina ou ao porta-voz insurgente nos diálogos da paz com o Estado. Estão condenando a uma organização política militar, para castigar sua resistência legítima à opressão e para pressionar a libertação de três norte-americanos capturados na Colômbia quando desenvolviam missões de inteligência técnica contra as FARC, por ordens do Comando Sul.


O agente do FBI Alex Barbeito confessou isso à Simón quando o conduzia extraditado aos Estados Unidos; e recentemente o fiscal Ken Kohl o reafirmou de alguma maneira ao oferecer uma diminuição de penas aos dois guerrilheiros em troca da libertação de Keith Stansell, Mark Gonsalves e Thomas Howes. Optaram pela via mais tortuosa quando o caminho mais fácil, que é o acordo de troca, o estão sugerindo as FARC desde antes de 2000. Trata-se do intercâmbio de pacotes completos de prisioneiros em poder das partes contendoras.


É evidente que as condenações proferidas pelos juízes federais Lamberth e Robertson contra Simón e Sonia repercutirão necessariamente na pronta solução que se deseja do caso dos três militares estadunidenses cativos nas montanhas. A isso conduziu a chantagem de Uribe com a extradição dos guerrilheiros. Hoje, não pode lavar as mãos como Pilatos insinuando que estes ficaram por fora do intercâmbio porque agora dependem das instituições de Washington.


Enquanto as FARC têm dado um tratamento respeitoso e digno aos três norte-americanos, Simón é mantido acorrentado e isolado numa cela de três metros de comprimento por um e meio de largura, e Sonia reclusa em alçapões de castigo.


É necessário reiterar que os espiões estadunidenses foram capturados legitimamente, envolvidos numa ação de guerra em meio de um conflito armado, num ato de hostilidade contra as FARC, quando o avião em que se mobilizavam foi derrubado nas selvas do Caquetá. Os papéis de inteligência expropriados nos quais se assinalam distâncias exatas entre uma estrutura guerrilheira e outra testemunham esta asseveração.


O fim do cativeiro dos prisioneiros de guerra impõe a sensatez que reclama a negociação do acordo e a redução a zero dos riscos que supõe um resgate militar a sangue e fogo.


Só falta remover os inamovíveis de Uribe de não à desmilitarização territorial para pactuar a troca e essa absurda pretensão de que os guerrilheiros eventualmente libertados não regressem às montanhas. Estamos seguros que o mundo entende que, para que se configure a troca, se deve dar e receber. Não se pode chamar troca a uma ação na qual uma das partes não recebe aos seus.


Se a troca não se logrou e segue provocando sofrimento, tem sido pela intransigência grosseira e a obsessão do Presidente. Pareceria que só faz falta a ordem de Bush para que Uribe ceda ao clamor nacional e internacional pelo intercâmbio. Dizia o ex-presidente López Michelsen, uns dias antes de morrer, que o problema é que Uribe não busca uma solução, mas sim uma vitória.


O caso é que com a troca ganharemos todos. Os prisioneiros regressarão com os seus e regressará também a perspectiva de uma solução negociada ao conflito social e armado que vive a Colômbia desde há mais de 40 anos.


No fundo, todos queremos o êxito da importante intermediação do Presidente Chávez para que isto seja possível.



* Integrante do Secretariado das FARC-EP