"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

2014 começa com vitória para o socialismo


Haroldo Lima *


Os socialistas e comunistas do mundo inteiro receberiam como um grato Feliz Ano Novo a notícia de que estão indo bem as experiências socialistas no mundo e de que, sob algum aspecto importante, o socialismo acaba de marcar um tento sobre o capitalismo. Pois noticia desse tipo vem de aparecer nessa primeira quinzena de 2014. Ela vem do Oriente.


A China – porta-estandarte das experiências socialistas em curso – acaba de superar os Estados Unidos – porta-estandarte do capitalismo no planeta – em uma questão crucial: na condição de país com o maior movimento comercial da atualidade.


Já em 2012, a balança comercial da China chegara a um empate técnico com a dos Estados Unidos. Cada uma atingiu aproximadamente 3,8 trilhões de dólares. Mas, em 2013, a evolução de ambos os países foi contrastante. Enquanto a sociedade americana não conseguiu avançar em sua produção interna e em seu comércio mundo afora, a China, na base do dinamismo extraordinário do seu socialismo de mercado, continuou aumentando a produção e troca de seus produtos e, finalmente, desempatou o jogo, cravando a impressionante cifra de 4,2 trilhões de dólares na soma de suas exportações e importações. Ficou isolada em primeiro lugar no ranking dos países, sob o critério das balanças comerciais realizadas.


Esse fato tem um significado simbólico. É que os Estados Unidos, representante máximo do capitalismo, detinham, de forma absoluta e aparentemente inatingível, há mais de cem anos, o título de maior potência comercial do mundo. Jamais um país socialista, nem qualquer outro, chegou perto dessa marca. No século XIX, quem deteve essa posição foi a Inglaterra.


Outras implicações tem essa boa notícia do Ano Novo de 2014. É que ela é a preliminar de um anúncio maior que vem por aí, o da superação de uma página da história mundial, a da hegemonia absoluta que os Estados Unidos exerceram no mundo sob todos os aspectos, com a maior truculência, conquistando, ocupando e saqueando países, massacrando física e espiritualmente povos cujos sonhos de liberdade e independência sepultavam.


A virada que agora começa, de forma alguma significa que o imperialismo está batido. Ele está, meramente, abatido, perdendo posições. Sua natureza e sua pujança não mudaram. Ser desbancado da posição de maior potência comercial existente mostra que ele pode ser ultrapassado, como, aliás, enfatizou, em 1956, o grande dirigente chinês Mao Tse Tung, em famosa entrevista à jornalista Anna Louise Strong, na qual disse que “estrategicamente o imperialismo é um tigre de papel”, ao que o próprio Mao aduziu que, a curto prazo, contudo, ele deve inspirar muito cuidado, pois tem “dentes de aço”.


Ao se examinar as condições que permitiram acontecer este evento espetacular, há que se dar o crédito, em primeiro lugar, à sociedade chinesa, protagonista principal do fato, e ao modo de produção que ali se constrói, sob a direção do Partido Comunista da China, o “socialismo com peculiaridades chinesas”.


Boa parte dos teóricos ocidentais, em geral formada nas escolas do capital, mostra-se perplexa e aturdida ante o fenômeno do maior país do mundo crescer por 34 anos ininterruptos a uma média de quase 10% ao ano, retirando da faixa de pobreza mais gente do que todo o resto do mundo junto.


Para explicar este processo insólito, sem dar qualquer crédito ao socialismo, há quem faça o maior malabarismo intelectual, arrole uma porção de dados, entrelace enorme quantidade de raciocínios e formule várias teorias, todas falsas, porque escamoteiam o dado básico, a informação central de que todo aquele processo monumental é dirigido minuciosa e diretamente pelo Partido Comunista da China, que não se cansa de dizer e repetir que está construindo a “etapa primária do socialismo na China”, fruto de décadas de experimentações e ajustes, a partir do que formulou, estrutura e desenvolve o “socialismo com peculiaridades chinesas”, que é “um socialismo de mercado”, com inúmeras formas novas e criadoras.


Boa parte desses estudiosos, entre os quais alguns que se consideram de esquerda, e até marxistas, passam ao largo desses temas centrais e assim não tratam do caminho prático e atual do socialismo. Com isso excluem-se de participar do esforço de compreensão sobre o que está acontecendo no grande país asiático, onde uma formação social complexa, sedimentada na propriedade social dos grandes meios de produção, das finanças e da terra, consegue pôr em ação gigantesca quantidade de forças produtivas, organizadas das mais diferentes e originais formas, tudo integrado em sistema que articula planejamento e direção centralizados dos objetivos estratégicos com execução descentralizada dos empreendimentos imediatos, e que estrutura a convivência de múltiplas formas de propriedade, inclusive da propriedade privada, com a propriedade social, predominante sobre todas as outras.


Mas, se a emergência da China como maior potência comercial do mundo funda-se no alto desempenho do socialismo com peculiaridades chinesas, ela não teria se dado sem o concurso de outros países. Destaque-se aí o papel dos emergentes.


No caso que nos toca mais de perto, que é o da América Latina, houve um aprofundamento comercial sem precedentes das relações com a China. O volume do comércio entre essas duas partes cresceu quase 100% em 2011, relativamente a 2009.


Naturalmente que nessa relação o destaque é o Brasil. E também aí houve mudança importante, tendo a China desbancado os Estados Unidos da condição de maior parceira comercial brasileira.


Esse quadro amplo de mudanças que ocorre se insere numa alteração mais geral ainda, a do deslocamento do centro de gravidades das economias industrializadas, que sai dos países tradicionalmente desenvolvidos para os emergentes. Por trás da chamada expansão da classe média desses países está o crescimento dos seus mercados internos, muitas vezes expandidos, porque no meio dos emergentes estão grandes países.


Por último há que se registrar preocupações existentes no Brasil e América Latina no sentido de que o novo patamar de relações comerciais com a China não venha significar um aprofundamento da condição histórica de exportadora de bens primários por parte dos latino-americanos. Aí cabem, ao Estado brasileiro e aos de outros países dessa parte do mundo, cuidar da modernização de sua indústria, da garantia de sua competitividade, da subordinação dos interesses financeiros aos interesses da produção, da expansão do mercado interno, a partir do que poderemos estar, com relação à China e a todo o mundo, com uma pauta de exportação e importação mais equilibrada, produzindo e exportando produtos de maior valor agregado.


Ex-Diretor Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis e membro do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil.


Publicado no portal Vermelho, 16 e 17 de janeiro de 2014.