"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 11 de janeiro de 2014

O Exército da Colômbia: um peão no xadrez da CIA


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Por Pablo Catatumbo – integrante da Delegação de Paz e do Secretariado das FARC-EP.

Nas últimas semanas a opinião pública conheceu importantes revelações de meios [de comunicação] internacionais sobre a ingerência direta da comunidade de inteligência do governo dos Estados Unidos em nossos assuntos internos, com gravíssimas repercussões dentro do marco das relações do governo colombiano com países vizinhos, assim como no desenvolvimento do conflito social e armado que a Colômbia vive.


Confirmam estes documentos a grande quantidade de pronunciamentos das FARC-EP a respeito da transnacionalização do conflito colombiano e a crescente dependência e servilismo das forças armadas do Estado colombiano ao aparelho militar estadunidense.


Quando assinalamos e denunciamos este fato já há uns quatro anos, fomos tachados de fantasiosos, de exagerados e até de dinossauros: o discurso anti-imperialista –enfatizavam alguns- é algo caduco e sem apoio no mundo atual.
Porém, agora, a crua realidade nos ratifica e volta a pôr as coisas em sua medida objetiva: o aparelho militar colombiano não é mais que uma engrenagem dentro da maquinaria de guerra dos EUA, demonstrando-se que a insurgência colombiana não combate simplesmente a um inimigo, mas sim ao imperialismo mais poderoso que tenha existido sobre a face da Terra.


Neste sentido, é justo e necessário ressaltar um elemento central das revelações em menção. A forma como se implementou a tecnologia que permite a realização de bombardeios aéreos georreferenciados a acampamentos das FARC-EP utilizando tecnologia de última geração, contra guerrilheiros sem nenhuma possibilidade de resposta ou de defesa.


Se faz menção ao papel reitor da embaixada estadunidense em Bogotá dentro de todo este processo, assim como a complexa atividade da comunidade de inteligência do mesmo país dentro do território colombiano.


Porém, o mais indignante das revelações é que, uma vez implementada a tecnologia da qual falamos, a CIA se atribuiu o monopólio do conhecimento dos mecanismos de encriptação das bombas, e o governo colombiano, submisso, aceitou, ocultando essa decisão ao povo colombiano. Na linguagem simples, isto quer dizer que os bombardeios só podiam realizar-se se havia expressa autorização da Agência Central de Inteligência, CIA.


O denunciado pelo Washington Post dá conta do irrefutável caráter dependente de um exército mercenário que, cada vez mais, perde seu caráter nacional e assume um papel de lacaio e de peão de xadrez no marco do plano de dominação do Império.
Entregar o comando das operações militares a um exército estrangeiro e ocultá-lo ao país durante anos é um delito de Lesa-Pátria, é uma infâmia que mancha nossa soberania e independência e constitui delito de traição à pátria.


Nem sequer Chiang Kai Shek, um presidente títere da chamada China nacionalista, aceitou a entrega do monopólio da direção de suas tropas em plena guerra contra o Japão, quando, no verão de 1944, o presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt solicitou a transferência do comando de suas tropas para o general Stilwell, com o argumento de que os Estados Unidos estavam abastecendo-os. A resposta de Chinag Kai Shek foi a expulsão e a solicitação de retorno do general Stilwell a Washington.


Sob essa direta ingerência estrangeira, morreram heroicamente nossos camaradas Raúl Reyes, Jorge Briceño, Martín Caballero, Acacio Medina e dezenas de outros guerrilheiros mártires da luta anti-imperialista.


Nenhuma destas vitórias militares do inimigo são vitórias do exército colombiano. São mérito da armadura militar do imperialismo estadunidense, que é o inimigo que combatemos esforçadamente todos os dias.


Falsamente, o regime construiu uma matriz midiática baseada numa espetaculosidade que em nada se corresponde com o direito de pessoas, e numa falsa glória que nem é própria, nem é mostra de audácia, muito menos de capacidade militar.


Tudo isto se tornou público em momentos em que as FARC-EP desenvolvemos conversações de paz com o governo da Colômbia. Que, ainda assim, mantenhamos em alto nosso compromisso com a paz e a busca de uma saída política civilizada ao conflito, o sinal de nossa sinceridade e altura como revolucionários.


Paralelamente a isto, quase desde o início mesmo dos diálogos, e fazendo uso de “malwares” de última geração [programas de intoxicação informática e introdução de vírus], se iniciaram operações encobertas buscando infectar os computadores de contatos eletrônicos das FARC-EP, para levar a cabo operações de controle e identificação, ao tempo em que se promoveram intensivas operações de desinformação e de desprestígio contra os integrantes da nossa Delegação em Havana, utilizando correios massivos, contas falsas nas redes sociais e a ressonância cúmplice de alguns meios de comunicação.


Da mesma maneira, se repetiram sucessivos ataques contra os servidores das páginas web farianas, tanto da página oficial da Delegação como contra a da Delegação de Paz. A conta oficial da Delegação das FARC em facebook teve que ser alterada em várias ocasiões, pois a sabotagem impede seu correto funcionamento.


Ao anterior há que somar numerosas ações de aberto boicote ao processo de paz. A revelação que fizera o Coronel Orozco, do Exército, a Álvaro Uribe, das coordenadas de extração dos comandantes Sergio Ibañez e Laura Villa é uma delas.


Igualmente, ocorreram várias tergiversações a alguns comunicados e algumas entrevistas dadas pelos integrantes de nossa Delegação de Paz, às quais se somam sucessivas campanhas “anônimas” que conseguem ampla repercussão na mídia, retomando temas batidos, como a suposta vida burguesa da Delegação de Paz em Havana, a campanha de desprestígio contra Santrich e Alexandra Nariño, a foto de Iván numa moto Harley-Davidson, como se isso fosse um delito, as fotos do Catamarán, ou de Ricardo Téllez em Havana, supostos escândalos sexuais por parte de integrantes desta delegação, ou sua vinculação com a mineração ilegal sem fundamento algum e o fraudulento link da revista Semana apresentando a Laura Villa como ex-guerrilheira.


Cabe perguntar: Quem pode estar por detrás de tudo isto?


A mais recente delas dá luz sobre a origem destas campanhas de sabotagem contra a paz que o nosso povo anseia. Nos referimos à campanha iniciada desde a rede de emissoras do Exército Nacional, tergiversando as declarações do comandante Pablo Catatumbo, integrante do Secretariado das FARC-EP, numa entrevista com a jornalista Natalia Orozco. 


Desde as emissoras do Exército e da página web da Terceira Divisão se falseia o conteúdo de suas declarações e se lhe apresenta como se se tratasse de um ex-guerrilheiro ou desmobilizado que desfruta de privilégios em Havana, Cuba. Se trata, pois, da corroboração do papel do Ministério de Defesa por trás de toda esta armadura midiática. O que nos leva à seguinte reflexão:


Está o Ministério de Defesa por fora da engrenagem do governo Santos, cuja bandeira de campanha é que a paz dialogada é possível? É o ministro de Guerra Pinzón e os seus uma ilhota reacionária?


Ou, pelo contrário, a aposta do regime segue sendo a de seguir recorrendo a essa política de dupla via da cenoura e do porrete, a de oferecer o diálogo, porém, ao mesmo tempo, torná-lo inviável, mantendo ao mesmo tempo o incremento do gasto militar e o acrescentamento ilimitado de sua máquina de guerra, sob pena de que se firme um acordo de paz sem conteúdos.


A experiência de quatro processos anteriores na busca de uma saída política ao longo conflito com as FARC-EP demonstra que essa estratégia não funciona.


Isso só pode conduzir a aumentar a desconfiança entre as partes e a distanciar as possibilidades de alcançar em breve um acordo em consenso, que signifique para a Colômbia a assinatura de um verdadeiro tratado de paz em direção a pôr fim ao longo conflito armado, que encaminhe o país pelos caminhos de uma Paz estável e duradoura.


La Habana, 7 de janeiro de 2014.
Tradução: Joaquim Lisboa Neto