“Nossa vontade é de reconciliação, não de rendição”: FARC-EP
O
país deve saber que já são mais de 30 as páginas que reúnem os
convênios construídos entre o governo da Colômbia e as FARC-EP na
mesa de Havana, e este avanço certo nos preenche de otimismo para
continuar.
Com
a paciência e a tranquilidade se consegue tudo..., e algo mais.
Benjamin
Franklin
AOS
ABUTRES QUE VIVEM DA MORTE, aos
senhores do medo e da guerra, como chamou o Presidente Santos no dia
de ontem em Viotá, aos que se opõem à paz, os exortamos, desde
Havana, em nome dos 30 milhões de pobres da Colômbia, vítimas da
política neoliberal, que deixem assentar as bases de uma paz estável
e duradoura, com transformações estruturais no político, econômico
e social.
A
injustiça social, a ausência de democracia, de soberania, essa é a
verdadeira mula morta atravessada no caminho da paz. Sim,
compatriotas de Colômbia e de Nossa América, essa é o obstáculo
que devemos afastar do caminho se queremos chegar à reconciliação.
Porém,
preste atenção Presidente Santos!, é uma necessidade moderar a
linguagem perigosa que ordena sem reflexão às Forças Militares e
de Polícia continuar a ofensiva militar até exterminar a
contraparte insurgente. A história tem demonstrado que isso não é
fácil, que com ordens e palavras sonoras dirigidas à galeria não
se pode subjugar o crescente inconformismo social que desperta e
mobiliza povos na Colômbia.
Como
afirma o comandante das FARC, Timoleón Jiménez, é uma mensagem
contraditória dizer que se busca a paz exibindo, ao mesmo tempo, em
cada mão, com sorriso exultante, as cabeças dos líderes da
insurgência com quem se dialoga de paz. Para que esfregar sal em
feridas que não cicatrizam facilmente? Dessa maneira não se
impulsiona nenhum processo de paz, não se gera confiança entre as
partes.
O
governo não deve cair no erro de sempre, de pretender fazer do
processo de paz uma farsa de submissão. Nossa vontade é de
reconciliação, não de rendição.
DO
OVINHO DA SEGURANÇA DEMOCRÁTICA
da qual fala o Presidente, está renascendo o abutre do guerreirismo
uribista; de nada serve disfarçá-lo de galo. De longe se nota que,
como bom carniceiro, quer ver morta a paz para devorá-la. Muito
olho, senhor Presidente, com semelhante criação.
Sempre
estivemos de acordo em meter o acelerador para seguir avançando nos
acordos, porém o caráter expedito de um processo não é um
problema somente de velocidade no tempo. Se requer, ademais, que não
se sigam colocando obstáculos desnecessários a cada proposta que
fazemos para conquistar as transformações sociais das quais você
mesmo falou em seus discursos do sábado, porém que os milhares e
milhares de homens e mulheres que saíram para protestar durante as
semanas anteriores não veem por nenhum lado.
É
difícil crer que as brechas estão se fechando com supostas obras de
infraestrutura, emprego, moradia e educação gratuitas, subsídios a
famílias em ação, bolsas de créditos para os secundaristas etc,
etc. A tendência de crescimento da desigualdade entre os ricos que
se fazem cada vez mais ricos e os pobres que se tornam mais pobres;
essa enorme brecha não se fechará enquanto se sigam executando
absurdos como esse de aumentar em 8 milhões de pesos [cerca de 4.000
dólares] as previdências de parlamentares, ministros e magistrados,
num país onde 12 milhões de compatriotas sobrevivem com menos de um
dólar diário, tratando de resolver suas necessidades fundamentais.
Será
uma empreitada impossível arrancar o povo da pobreza enquanto se
sigam queimando mais de 6 pontos de nosso Produto Interno Bruto no
fogo da guerra.
AO
NOSSO MODO DE VER, muito
foi construído até o momento em matéria de acordos ao longo deste
ano de conversações em meio à confrontação. Quanto mais
haveríamos conquistado se o governo houvesse aceito brindar aos
colombianos a tranquilidade que pode derivar de uma trégua bilateral
de fogos e um cessar de hostilidades?
O
país deve saber que já são mais de 30 as páginas que reúnem os
convênios construídos entre o governo da Colômbia e as FARC-EP na
mesa de Havana, e este avanço certo nos preenche de otimismo para
continuar. Por isso, acreditamos que agora, mais que nunca, todos os
colombianos e a comunidade internacional em geral devem dar um
decidido apoio aos esforços de paz.
Apêndice:
Não
é nada prudente para um processo sério e transcendental como o que
adiantamos impor mecanismos unilaterais de referenda ou tergiversar
propostas como a constituinte que ainda não sustentamos.
Delegação
de Paz das FARC-EP