Comunicado fim de 15 ciclo
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La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 13 de Outubro de 2013
Alcançamos
hoje outro porto intermediário na linha do tempo que conduz ao
destino de paz que a história reservou à Colômbia.
Nossa
fé e nossa certeza brotam da determinação de pôr fim a um
conflito de meio século de existência.
As
guerras não são eternas; elas devem ter um final. Se ambas as
partes têm vontade sincera, ninguém pode contra a paz. Porém, o
governo tem a responsabilidade de não permitir que se nos escape
esta esperança, porque possui em suas mãos a decisão das mudanças,
de abrir as portas à democracia, e de atender ao clamor de um povo
que exige paz com justiça social.
Todos
sabemos que a paz não é o silêncio dos fuzis. Concedemos ao
governo que, para dar curso à construção da paz, há que deter a
confrontação. Sim, porém a razão impõe que, antes de assinar o
acordo final, é necessário combinar o conteúdo das reformas
institucionais, que, o mesmo governo reconhece, devem ser
implementadas após sua firma.
A paz
não pode depender de promessas e de palavras sonoras, enfáticas,
porém de vida efêmera. As palavras, vistas desde o contexto
histórico da solução de conflitos na Colômbia, sempre se
converteram em mentira e em traição. Confiados nelas, caíram
abatidos pelas balas comandantes guerrilheiros da dimensão de
Guadalupe Salcedo, Jacobo Prías Alape e Carlos Pizarro Leon Gómez,
entre outros.
É
indispensável, para a geração de confiança, pactuar o que se
desenvolverá mais tarde, revestir juridicamente o eventual Acordo,
convertê-lo em norma pétrea para que nenhum governo caia na
tentação de desconhecê-lo; e, sobretudo, há que guarnecê-lo das
ingerências da juridicidade internacional com o desdobramento da
bandeira da soberania jurídica, e com o fato certo – que todos os
colombianos devemos reivindicar -, e é que nenhuma armadura jurídica
internacional pode estar acima da decisão do soberano, do
constituinte primário.
Seria
um sofisma pensar que o governo na mesa representa a toda a
sociedade. É óbvio que ao que se enfrenta a contraparte é aos
anseios das maiorias pobres, delineados nos foros temáticos
convocados por iniciativa da mesa de diálogo, e que as FARC
assumiram como insumos para o debate e a formulação de propostas ao
governo, porque entendem que uma verdadeira agenda de paz só é
legítima se responde a esses interesses das maiorias nacionais.
O povo
não é um convidado de pedra no processo; segundo o espírito do
acordo, ele deve ser um criador, e ao final o protagonista principal
da referenda. Disso se trata quando se diz que “a paz é assunto da
sociedade em seu conjunto que requer da participação de todos, sem
distinção”.
Ninguém
poderia conceber, por exemplo, que, num país onde a maioria de sua
população vive nas cidades, para definir os fundamentos da paz, não
seja de agenda tocar a problemática urbana.
Assim
as coisas, reiteramos que um dos compromissos pactuados entre governo
e FARC é que “as discussões da mesa não se farão públicas”.
Em nenhum ramal do acordado se utiliza a palavra confidencialidade, e
muito menos referida ao já combinado. E isto é importante porque, à
parte de que, se se quer transparência, nunca será pertinente o
segredismo, e, para que o povo possa opinar e decidir, é necessário
que tenha conhecimento dos avanços que se concretizam.
Após
apresentar cerca de 100 propostas para a Participação Política,
depois de que no mesmo tempo respondêssemos a todas as inquietações
que fora da ordem da agenda apresentou o governo, e após mostrar um
desempenho que preenche as 24 horas do dia para destravar desacordos
e mostrar soluções carregadas de bom senso e absoluta vontade de
reconciliação, não é sensato que se pretenda mostrar a
insurgência como a parte do diálogo que freia os ritmos para o
avanço do processo.
Apesar
de que, na prática, o tratamento repressivo que se lhe dá ao
protesto cidadão não mostra uma real vontade de solução aos
problemas sociais; se se observa bem, se se analisa detidamente o que
em matéria de acordos se pactuou em Havana, a opinião nacional
poderá perceber que, de nossa parte, as pontes que estendemos estão
alicerçadas sobre os cimentos e colunas de preceitos e normativas
que não ultrapassam o ordenamento constitucional. Porém, pelo visto
até agora, para o governo, cumprir com um mandato constitucional
entranha uma autêntica revolução de alçados em armas. Por isso,
nos convida a converter em bandeiras preceitos constitucionais,
lançar-nos com elas a umas eleições, triunfar e, já no governo,
fazê-las realidade.
Não é
realista pretender que admitamos que faça carreira a unilateralidade
nas determinações sobre temas cruciais, como o marco jurídico para
a paz e o assunto do referendo, a respeito dos quais existia o
compromisso de combiná-los na mesa de conversações.
Quem
coloca, então, os obstáculos, se do que se trata é que o diálogo
seja expedito, sem embaraços?
Se,
quando falamos de celeridade, nos referimos a tempos necessários,
estes não podem ter uma dimensão tão breve que faça impossível
refletir da melhor maneira sobre os problemas que causaram uma guerra
de mais de meio século. Muito menos os ciclos devem ser
desperdiçados andando e desandando labirintos gramaticais nem
distraindo a atenção em futilidades em detrimento da solução aos
problemas fundamentais, concretos, que com linguagem simples está
propondo o povo nas ruas.
Se se
mantém o absurdo de não dar a conhecer com mais frequência a
plenitude do que se convém em cada ciclo, de onde se tira a maluca
ideia de que o lento avanço lhe resta apoio às conversações? Como
pode saber o país qual é a dimensão desse avanço se se lhe priva
de uma informação a que tem direito? Quanto razão tem o comandante
Timoleón. Não é justo colocar sobre os ombros do processo a
desaprovação que a chamada opinião pública tem com respeito aos
que conduzem a política oficial, como tampouco que não se avalie o
dano que lhe produz sua vinculação ao processo eleitoral.
Desde
Oslo e muito antes o governo sabe que, quando tomamos a decisão de
iniciar o processo de paz, nosso propósito de fundo era discutir e
buscar solução aos problemas estruturais que geraram o conflito
político, social e armado que dessangra o nosso país. Com essa
convicção, se firmou o acordo de Havana, tal como de maneira muito
breve, porém precisa, se deixa assentado em seu preâmbulo. Assim
que não são pertinentes nem corretas as interpretações
restritivas que como constante se lhe pretende impor, assim como
obstáculo, ao desenvolvimento das discussões.
Só os
que sempre acreditaram na ignorância de nosso povo podem considerar
que a Colômbia esteja confundida ou não tenha claro o propósito
das conversações. Nós, sim, temos confiança na sabedoria do povo
comum e por isso temos retomado suas contribuições, suas
reivindicações, seus sonhos de nação, para fazer possível o que
sempre se lhe negou: expressar e ter vida digna.
Neste
encerramento de ciclo, o país deve ter clara uma grande verdade:
temos trabalhado a fundo cada dia; não tem havido jornada na qual
não apresentemos propostas e soluções; não tem havido dia em que
não propiciemos um avanço; por isso, ainda que nos sentimos
abraçados pelo manto do dever cumprido, estamos redobrando nossos
esforços para que possamos dar o mais breve possível a boa-nova de
um informe satisfatório sobre o ponto de participação política,
que preencha de otimismo e maior convicção os corações dessa
imensa massa de despossuídos que verdadeiramente anseia a conquista
da paz.
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP