"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

“Tanta retórica o que faz é causar danos, Santos”


Por Timoleón Jiménez, Comandante em Chefe do Secretariado do Comando Central das FARC-EP

O Presidente Santos respondeu calculando cada palavra ao se referir em Nova Iorque às ofertas de colaboração feitas pelo Presidente José "Pepe" Mujica. Não obstante agradecer a proposta do território uruguaio como possível sede, o primeiro mandatário colombiano preferiu não adiantar nada sobre diálogos com a guerrilha do ELN. Neste tipo de situações é preciso ser muito prudente. As decisões são tomadas de comum acordo, disse Sentos.

Vale a pena acreditar que para o Presidente Santos esta última frase deve inspirar também os diálogos com as FARC As decisões, os acordos hão de ser produto do consenso. Não se pode pretender estar sentado em uma mesa de conversações e que somente o que uma das partes defenda mereça atenção. Se como prega repetidamente Santos, conversa-se é com o inimigo, se a paz consiste em estender pontes entre contrários, os modelos econômico e de democracia, verdadeiras causas da confrontação social e armada, necessariamente devem ser modificados.

Nas mais recentes intervenções do Presidente Santos, seu discurso aponta para destacar com uma grave e irresponsável distorção de que o conflito armado colombiano, a guerra, essa que passou a chamar de mula ou vaca morta atravessada no caminho, é atribuível de maneira exclusiva à insurreição. O terrorismo de Estado, as execuções extrajudiciais, o paramilitarismo, o êxodo forçado e demais horrores, segundo ele, são  atribuíveis somente a nós. Os interesses norte-americanos, a oligarquia colombiana, seus forças armadas, suas políticas antipopulares e violentas, sua corrupção e suas repressões são completamente alheios e inocentes.

Se é verdade que várias gerações de colombianos não conheceram um só dia de paz na vida, muito menos se pode desconhecer que o pior da existência coube sempre aos setores mais pobres, à imensa maioria e não exatamente às famílias engomadinhas que durante mais de um século conduziram o país para benefício de setores minoritários. Que Santos pai o filho tenham prestado seu serviço militar na Marinha ou no Exército. Isso está muito longe de serem comparados com os humildes colombianos que arriscam a vida no campo de batalha. As odiosas distinções de classe e os privilégios perversos não desaparecem com frases enternecedoras.

O fechado regime bipartidarista, a violência selvagem em que lançou suas raízes desde a primeira metade do século XX, incitada por famílias como os Santos, segundo suas próprias e espantosas revelações recentes, a brutal distribuição da terra que se prolonga até os inícios deste século, as políticas econômicas dirigidas a favorecer sempre a banqueiros, empresários, fazendeiros e companhias estrangeiras às custas do aviltamento da vida dos trabalhadores e camponeses, a militarização crescente. a criminalização da luta social, o vandalismo policial, a conjunção de corrupção, narcotráfico e paramilitarismo, o extermínio da União Patriótica e dos setores mais destacado do movimento sindical, camponês e popular, a guerra suja, os crimes cometidos pelas forças armadas em nome da contra-insurgência, o capitalismo selvagem implementado no país com as políticas neoliberais; para a oligarquia governante nenhum desses fenômenos da vida colombiana guarda relação alguma com o conflito armado existente no país. De modo que basta nossa vontade para por fim a tudo.

O que temos afirmado como FARC desde o começo das aproximações com o atual governo é que, para por fim definitivamente ao conflito, é necessário remover todas essas causas reais da confrontação. Após um longo processo denominado de Encontro Exploratório, assinamos com o governo nacional um Acordo Geral que todo mundo conhece. Quando o fizemos, as duas partes coincidimos em que o desenvolvimento dos pontos da agenda acordada seria cumprido no espírito das distintas considerações que integraram seu preâmbulo. No entanto, nossos delegados sempre topam com a atitude governamental de considerar que o Acordo só compreende os pontos da Agenda aos quais, além disso, insistem em outorgar tal restrição, que somente o que eles levam à Mesa merece ser considerado.

Cumpridas as coisas dessa maneira, e isso já foi explicado amplamente pelos nossos porta-vozes, o governo nacional insiste em suas imposições unilaterais. Já conta com seu marco legal para a paz, um modelo de justiça transicional esboçado sem contar com a nossa opinião para nada e que, além disso, o Presidente Santos o promove até nas Nações Unidas como a única fórmula que considera válida para os pontos sobre vítimas e participação política. Já tem pronta sua lei de referendo para referendar os acordos finais. Afirma que, uma vez desmobilizada, a guerrilha deverá mudar de lado e se somar à política estatal de erradicação de cultivos ilícitos, porque ele decidiu assim, antes de tratar do tema nos fóruns respectivos e na Mesa de Diálogos. De modo que a responsabilidade pelo conflito deverá ser toda assumida por nós.

E, além disso, pressiona com a conversa fiada de que o tempo e a paciência dos colombianos estão se esgotando. Os protestos, as passeatas e as paralizações recentes demonstram que isso pode ser verdade, mas não no sentido que aponta o Presidente. Seu tal Pacto Nacional pelo Agro não passa de mais um de seus "falsos positivos". Os problemas, a inconformidade e a rebeldia continuam vivas. O que encurta, na realidade, é o tempo para definir sua candidatura à reeleição, e é evidente seu afã de exibir para o país um acordo de paz. Mas nem sequer por isso assume uma posição que facilite a negociação. Somos nós os que devemos ceder a seus afãs e assinar o quanto antes o que ele quer. Volta a nos chamar de terroristas, ufana-se de haver derramado nosso sangue como ninguém nos últimos cinquenta anos e exibe em cada mão a cabeça de um membro do Secretariado das FARC.

Postas assim as coisas, cada gesto nosso de reconciliação significa debilidade. Haver passado sobre o cadáver do camarada Afonso Cano, o fato de termos aceitado os dois enviados ao primeiro encontro quando não eram os que oficialmente nos haviam dito; até nossa sincera vontade de assinar uma paz digna e justa é interpretada como o resultado da derrota militar. E o que dizer da proposta de cessar fogos bilateral. E de cada uma das propostas à Mesa. Ainda a estas alturas, três anos depois de fracassar com sua operação militar Espada de Honra e de sua Prosperidade Democrática, e apesar de suas manifestações para encontrar uma saída política, Santos, alucinado, confia que pode nos submeter com grunhidos. Já estamos muito velhos para isso. A chave está em consensuar, em mudar para melhor essa atitude arrogante e mesquinha.
Enquanto isso acontece, diante de tão grande ofensiva discursiva e midiática contra nós e o que acontece na Mesa de Diálogos, com o exclusivo propósito de que o país e o mundo conheçam verdadeiramente o que ocorre, decidi autorizar os nossos porta-vozes em Havana a elaborarem um informe ao povo colombiano. Temos uma grande responsabilidade perante ele, e tanta retórica o que faz é causar danos, Santos.

TIMOLEÓN JIMENEZ
Chefe do Estado Maior Central das FARC-EP

25 de setembro de 2013.