As FARC escrevem sobres os delírios de Santos
Seu
Grande Pacto Nacional Agropecuário e a Mesa de Havana jamais serão as garantias
que sonha para suas políticas neoliberais.
Nós
colombianos levamos décadas, para não dizer séculos, observando como os
governantes oligárquicos representam no imaginário um país muito distinto ao
que realmente é conhecido pelo povo. Com Juan Manuel Santos as coisas alcançam
seu grau mais alto. A alucinação de que dão conta suas mais recentes
intervenções públicas, permite acreditar que o povo deste país também está
vendo a situação nacional com seus olhos de neoliberal confesso.
No
passado, Santos desempenhou papeis estrelares enquanto gestor da economia, da
política e da guerra. Desde os tempos de Gaviria e sua abertura econômica,
passando pelos governos de Pastrana e Uribe, sua passagem pelo Congresso e por
vários ministérios influenciou de modo direto a configuração de nossa
complicada sociedade. Além disso, há muito tempo, seus antecedentes diretos se
encarregaram de definir a sorte de nosso país.
Recentemente,
confessou que seu avô acolhia em casa e apoiava o chefe guerrilheiro liberal
das planícies Guadalupe Salcedo. Seu próprio primo-irmão, Francisco, também
revelou que sua mãe e sua tia, a mamãe de Juan Manuel, recolhiam dinheiro para
as guerrilhas da época. Ninguém ignora o papel das páginas editoriais de El
Tiempo na tomada das decisões mais importantes dos sucessivos governos
nacionais, assim como no febril atiçamento da guerra interna.
Assim,
suas repetidas declarações soam a deslumbramento. Não
percebe a verdade. Enquanto
no Cauca, como ontem em Nariño, anteontem em Boyacá ou, antes, no Catatumbo, os
soldados e o ESMAD reprimem com gases e fisicamente a ferro o povo mobilizado
no protesto, enquanto a Promotoria os processa com montagens sujas, o
Presidente gagueja que em seu governo o diálogo e as soluções acordadas têm a
preeminência sobre a confrontação, a violência e o enfrentamento.
Atreve-se
a recordar as promessas feitas em seu discurso de posse e as supostas ações
empreendidas por seu governo a fim de cumpri-las. Como se não estivesse
acontecendo ante seus olhos o maior protesto social vivido nos últimos tempos
no país, originado precisamente na ausência de todas as coisas que ele prometeu
quando chegou à Presidência. Como se fossem quatro anos e não uns quantos meses
que restam de seu inútil primeiro mandato.
Por isso,
nada mais ridículo que seu novo conto do vigário de Grande Pacto Nacional pelo
Desenvolvimento Agropecuário e pelo Desenvolvimento Rural. De repente, o
Presidente das locomotivas, que diz respeito ao Desenvolvimento Agropecuário e
Rural, considera as marchas incessantes e afirma estar ciente de que suas
políticas para o campo agravaram os problemas, não os solucionando. Assim,
propõe um pacto com os prejudicados por essas políticas neoliberais a fim de
que as validem.
Reunir,
num mesmo cenário, banqueiros, investidores estrangeiros, empresários,
latifundiários, especialistas em livre comercio e camponeses com a corda no
pescoço para traçar a política agropecuária e rural mais conveniente ao país,
seria apenas uma formalidade demagógica. Ainda se tivesse tempo para
realizá-lo, é certo que a voz dos camponeses seria a menos escutada e atendida.
Eles estão condenados a desaparecer nos planos da globalização capitalista.
As
organizações camponeses, de negritude e de indígenas, envoltas na mais pura
conversa, tinham apenas o direito a firmarem sua sentença de extinção. Está
mais que provado, como constataram essas organizações nos distintos espaços de
diálogos aceitos após a greve agrária, que o governo de Juan Manuel Santos tem
já definido seu rumo neoliberal e que nada que possa afetá-lo tem o menor
cabimento nos consensos que prega.
Se Santos
quisesse deliberar livre e amplamente com os camponeses, o teria feito numa
mesa nacional de diálogo com os diferentes setores na greve. Não o fez porque
teme a luta unida das organizações camponesas e populares. Elas, em conjunto,
possuem a potência para desmembrar todos seus planos. Sua negativa em
estabelecer essa mesa se fundou no fato de que não iria duplicar na Colômbia o
processo existente em Havana com as FARC-EP. Teme a sua identificação.
Não lhe
soa que a voz do povo e da guerrilha se confundem. As FARC, assim como os
manifestantes, devem limitar-se a firmar o que seu governo propõe, sua
concepção neoliberal do campo, do conflito e do país em geral. Do rico leque de
propostas da insurgência apenas merecem alguma atenção aquelas que possam ser
funcionais ao intocável modelo econômico e político consagrado por seu governo.
O demais não é visto de forma seria, nem realista, nem sequer sincera.
Quando
fala de momento crucial nas conversações, de aproximação às decisões mais
importantes, de limites materiais no tempo, confessa publicamente que existem
diferenças abismais entre as partes. Diz ter vontade em chegar a acordos, por
mais difíceis que possam parecer, porém, na realidade, aposta em que as FARC se
renderão as suas imposições, que cederão sem remédio a sua vontade neoliberal. E
joga todas suas cartas nesse cálculo.
Promove
expectativas infundadas, difunde nos meios que o acordo final se encontra em
andamento, esgrime a miragem do pós-conflito, dá por certo que daqui a dezembro
ocorrerá a desmobilização, que aceitaremos seu marco jurídico e seu referendo.
Não entende que da maneira como pretende aplacar e submeter a mobilização
social sem afetar em nada a estrutura econômica e política do país, tampouco
poderá chegar a algum acordo com a insurgência.
Nisso consiste sua alucinação. Em acreditar ser real o que
apenas é seu sonho. Não só existe a Colômbia rural que ele descobriu de repente
para contrapô-la à urbana, mas a Colômbia empobrecida, ferida, reprimida,
desenganada e cada vez mais disposta a mudar a raiz das coisas. A que protesta
e marcha, a que atira contra as tropas criminosas. A um ano de anunciadas
conversações de paz, essa Colômbia se levanta, se organiza e se lança à luta.
E nada
vai detê-la. Nem as lisonjas, nem as bravatas do Presidente. Nem suas urgências
eleitorais. Nem seus tanques de guerra, nem suas forças repressivas, nem seus
assassinos. Tratando-se da Mesa da Havana ou do que ocorra no país, não são os
afãs de Santos que definirão o futuro. Inclusive, além do que possa acontecer
nas urnas em março e em maio, o fator verdadeiramente determinante será a força
da luta popular encorajada.
Fonte: http://www.pacocol.org/index. php/noticias/6336-las-farc- escriben-sobre-las- alucinaciones-de-santos
Tradução:
Partido Comunista Brasileiro (PCB)