A alocução presidencial de Juan Manuel Santos Calderón
Por
Nelson
Lombana Silva
Tivemos
a oportunidade de ouvir ontem à noite a alocução presidencial de
Juan Manuel Santos Calderón. Que alocução mais contraditória e
mentirosa! A pessoa tem que ser exageradamente alienada ou com mínima
falta de conhecimentos para acreditar numa só frase de sua maquiada
intervenção.
Mais
parece uma campanha gigantesca midiática contra a insurgência e
mais além contra o processo de paz. É como dizer: quero a paz,
porém faço a guerra.
“A
paz é um valor supremo para os colombianos e um anseio nacional. Por
isso tomei a decisão de adiantar o processo de paz com as Farc, com
firmeza e com sentido de responsabilidade, consciente de que este
caminho não seria fácil de percorrer”.
Zomba
o presidente do clamor nacional, da urgência da paz que o país
necessita, especialmente o país nacional do qual falara Gaitán.
Santos não começa os diálogos pensando no povo, outra grande
mentira. Pensa nas multinacionais e transnacionais, pensa no recorte
dos dinheiros ao Plano Colômbia, pensa com a lógica dos Estados
Unidos.
Firmeza?
Qual firmeza, se assume postura pusilânime ante as broncas do
fascista Uribe e da atrevida e sabotadora postura de seu “ministrinho
mauricinho” de defesa Juan Carlos Pinzón?
Se é
consciente de que não seria fácil o percorrido, por que claudica
com facilidade ante a primeira adversidade? Em suas primeiras
declarações põe claramente o óbvio: Que fazia o ministro sozinho,
à paisana, na boca do lobo? A quem cabe na cabeça que um general,
cuja característica fundamental é a covardia, vai desafiar ao
inimigo de classe sozinho com seu fuzil e mais dois acompanhantes? Se
era tão “machão”, por que não reagiu levando o rifle consigo,
segundo versões do lugarejo Las Mercedes? A sensação é de que o
próprio presidente sabe que aí tem coisa encoberta e que as forças
militares não estão dizendo a verdade. No entanto, é ovelha com
sua classe e fera com o povo.
“Creiam-me:
Conversar em meio ao conflito é a forma mais efetiva para pôr ponto
final a esta absurda guerra”. Se isso é certo e o vem
implementando contra o querer do povo e inclusive da comunidade
internacional pacifista, por que se lamenta dos fatos acontecidos?
Por acaso, estava convencido da impossibilidade de reação da
insurgência? E mais: Que disse dos bombardeios indiscriminados e
desproporcionais, violadores a todas as luzes do Direito
Internacional Humanitário, nos quais caíram combatentes e,
inclusive, população civil?
Que
contradição mais bárbara! Que absurdo dos absurdos. Há um
comandante, aparentemente dos elenos [do ELN-n.t.], detido e não se
sabe de seu paradeiro. Deu a ordem de assassinar, completamente
indefeso, o comandante fariano Alfonso Cano e a insurgência não
saiu a dizer como carpideira que punha fim às aproximações.
Presidente Santos que pouca palavra tem. Não é a guerrilha a
obrigada a reiniciar os diálogos porque ela não se retirou da mesa,
é o governo nacional. Que vergonha!
“O
acima dito não significa que não se possam dar os primeiros passos
para desescalar o conflito, como já vimos discutindo há algum tempo
com as Farc. Há que ser claros: Ainda que estamos negociando em meio
ao conflito, as Farc têm que entender que à paz não se chega
recrudescendo as ações violentas e minando a confiança”.
Qual é
a ordem que você, senhor presidente, deu às forças militares?
Recrudescer os ataques. Que disse em sua recente visita a Ibagué?
Que a guerrilha podia correr a mesma sorte de Alfonso Cano. Isso não
é um grito de guerra? Isso se pode interpretar como gesto de paz? Só
se tem que entender uma parte e [com] a outra quê [passa]? Em
resumidas contas, não quer um cessar bilateral ao fogo, não condena
as saídas em falso da força pública, se lamenta que a guerrilha se
defenda e, sobretudo, deseja que ela não passe à ofensiva, que não
faça nada, cruze os braços e dê “mamão”, como se diz na gíria
popular. Porra, que estrategista! E mais: Que confiança tem dado
junto a seus militares? Nem um só gesto de paz. Por outro lado, a
guerrilha, sim, tem dado mostras de paz, as quais são obscurecidas
pelos meios massivos de comunicação, os quais, hipocritamente, se
autodefinem neutros e objetivos.
“As
Farc são responsáveis pela integridade física e devem devolvê-los
de imediato. Os colombianos exigimos sua libertação. É o momento
para que demonstrem seu compromisso com o processo de Havana.
Enquanto esta situação não se solucione, ouça bem: enquanto esta
situação não se solucione, reiterei aos negociadores do governo,
com os quais estive reunido por todo o dia de hoje, que não poderão
viajar a Havana para retomar as conversações. Às Farc lhes exijo,
e não só eu, a nação e toda a comunidade internacional exigem que
demonstrem sua vontade de paz com ações e não só com palavras”.
Que
cínica é a oligarquia colombiana! A quem enganas, avô! Que gestos
de paz tem feito o governo? Guerra, impunidade, impostos,
bombardeios, falsos positivos etc. Se tivesse autoridade para propor
gestos, outro galo cantaria. Presidente Santos: você disse que havia
tomado a decisão de ordenar o assassinato do comandante Alfonso
Cano, com o qual estava fazendo aproximações. Não crê você que o
correto teria sido ordenar a seus militares que o detivessem, lhe
prestassem os primeiros socorros e o colocassem ante um juiz da
República? Por acaso, a constituição nacional tem contemplada a
pena de morte?
“Confio
em que, com a intervenção dos países garantidores, com os quais já
entramos em contato para oferecer nossa colaboração, se possa
encontrar rapidamente a resposta que o país [a oligarquia] está
esperando”.
Fala
de celeridade somente porque caiu um “peixe gordo” da oligarquia.
Por que não assumiu com os soldados prisioneiros de guerra em
combate apresentado recentemente no estado de Arauca a mesma conduta
de celeridade? Simples: o general pertence à oligarquia e o soldado
ao povo. Simples, assim.
“O
compromisso das Farc está posto à prova. De sua decisão depende
seguir avançando para o fim do conflito e da reconciliação. Sempre
é mais fácil optar pela violência. É de valentes optar pela paz.
E essa paz só se constrói com gestos de paz e com sentido de
responsabilidade histórica”.
O
compromisso do governo nacional está posto à prova. De sua decisão
depende seguir avançando. A guerrilha não se retirou da mesa. Está
cumprindo o ordenado pelo presidente de dialogar em meio ao conflito.
Dolorosamente há que dizê-lo: Quem arranque a cabeça, a leva!
O
governo tem que amarrar as calças e deter os inimigos da paz dentro
e fora do governo e dentro e fora da Colômbia. Todos eles estão
perfeitamente identificados. Incluindo ao senhor general Rubén Darío
Alzate Mora, que suspeitosamente vai ao campo de batalha acompanhado
somente de duas pessoas e sua dotação pessoal. Dispensa sua
escolta. Tudo parece indicar que o primeiro a saber do caso foi
“casualmente” o senador Uribe Vélez. Que coincidência!
De
todas as maneiras, o povo colombiano não pode ficar quieto, deve
mobilizar-se para pressionar o governo Santos para que retome as
conversações na maior brevidade possível. O povo deve apoderar-se
da causa da paz em todas as partes. Claro, uma paz com dignidade.
Quer dizer, com justiça social. Este impasse deve ser resolvido
já
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Equipe
ANNCOL - Brasil