A artilharia política
Que
sentido têm as palavras do presidente Juan Manuel Santos na Europa,
onde se supõe que está solicitando apoio para o que ele chama o
pós-conflito, cheias de pedantismo e de agressividade guerreirista,
quando diz que é ele o pior inimigo das FARC e que as mesmas estão
fragilizadas? Que têm a ver essas palavras com os diálogos de paz
em Havana? Outra concessão ao militarismo ou reflexo de sua fraqueza
ante o uribismo e o setor militar que não o acompanha?
Trata-se
de
uma falsa saída do mandatário: enfraquece o diálogo, porque
semelhantes palavras só podem gerar confusão no país e
desconfiança na contraparte sobre as verdadeiras intenções
governamentais.
A
estas alturas das conversações de Havana, onde, apesar das
dificuldades que ainda pesam nos resultados e na celeridade do
processo, se avançou bastante, é melhor a artilharia política que
as expressões arrogantes, saídas de tom. A guerrilha das FARC-EP
preferiu fortalecer a delegação de paz com vários quadros
políticos e militares do maior nível, qualificada por Iván Márquez
como “o ingresso de uma verdadeira artilharia política em favor da
paz”, distante de dar força à guerra, o qual é um caminho, no
entendido de que se está dialogando sob os rigores da confrontação
armada.
Em
resposta a este gesto positivo, aparece em toda sua magnitude a
mesquinharia do estabelecimento burguês. Manchetes na “grande
imprensa” e amplo espaço nos grandes meios de comunicação estão
dedicados a qualificar aos integrantes da “artilharia política”
que chegam das montanhas da Colômbia para serem protagonistas de
primeira linha neste esforço de paz.
Vários
membros do Secretariado e integrantes do Estado-Maior Central estão
em Havana. É a melhor demonstração de que todos os blocos e
frentes guerrilheiros respaldam os diálogos. Paz com democracia e
justiça social é o desafio da Colômbia hoje, se realmente há o
interesse de todas as partes, e neste sentido sobra o pedantismo de
quem se crê vencedor quando não o é, porque ninguém está sentado
em Havana na condição de derrotado.
Que
tirem da cabeça essa alucinação! Militares ativos que estão pela
paz disseram reservadamente que saúdam essa decisão das FARC-EP,
porque dá força e contundência às decisões que a delegação
adote em Havana. Ainda que alguns tenham o temor de que, se se vão
todos os chefes, podem perder o controle sobre as tropas insurgentes
no país. Nada a ver, pelo contrário, o que sobressai é que o
Secretariado, o Estado-Maior Central e seu Comandante têm a
suficiente autoridade nas fileiras guerrilheiras. O Governo deve
entender que, se há vontade política
de resolver o conflito,
a paz está próxima.
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Equipe
ANNCOL - Brasil