A dupla moral
[Carlos Lozano Guillén/Diretor Semanário, VOZ]
É inaceitável que o ELN e as FARC estejam se enfrentando militarmente, por múltiplas razões, em diferentes zonas do país, colocando, de passagem, em perigo a vida de civis inermes: dirigentes e militares de esquerda, ativistas sindicais e populares, que não são parte da confrontação entre as duas organizações guerrilheiras. Como revolucionários aspiramos a que o ELN e as FARC superem suas contradições pela via política do debate construtivo e fraternal, e por conseqüência, que respeitem as organizações sindicais e sociais em cada região.
No entanto, é repudiável a atuação de certas ONGs de direitos humanos, de “facilitadores de paz” e de dirigentes de algumas organizações sociais e sindicais, que no país e no exterior se dedicam a promover de forma contundente o pronunciamento exclusivo contra as FARC, como se fosse a única guerrilha responsável da situação. É mais, em casos como o de Cauca, onde se trata da agressão do CRIC contra Fensuagro, pretendem mostrar de má-fé as diferenças como parte da confrontação das forças guerrilheiras. Forma perigosa e irresponsável de atiçar os enfrentamentos e de involucrar aos civis na contenda irracional armada.
O Partido Comunista Colombiano, em particular em Arauca, tem sido o branco dos desaforos do ELN, que não só assassinou vários de seus militantes, como também está expulsando da região outros, com o argumento falacioso que são aliados das FARC.
Curiosamente, o mesmo apontamento que faz a inteligência militar e o paramilitarismo para atentar contra dirigentes e militantes comunistas. Esta situação a ocultan de má-fé os dirigentes de certas ONGs de direitos humanos que pescam no rio revolto da confusão, que no lugar de ajudar a construir pontes de solução política, atiçam os enfrentamentos e afundam as diferenças.
Preferiríamos que esta situação houvesse sido manejada pela via da facilitação amistosa do diálogo para superar os enfrentamentos que só servem aos inimigos do povo. Mas o labor dos oportunistas, que tiraram a luz pública de maneira tendenciosa o problema, obriga a fazer este comentário. O mais importante é que os civis fiquem à margem desta contenda sem nome nem explicação.
Não podem seguir sendo os cenários internacionais nos quais se busca solidariedade com o povo colombiano e as oficinas governamentais uribistas, onde se assumam estes pronunciamentos pelos oportunistas que na hora da verdade estão prestes a pactuar com o Governo. É a forma olímpica de desviar a atenção dos problemas fundamentais. De fazer o jogo ao uribismo e ao militarismo. Ao menos, nós, os verdadeiros revolucionários, não nos deixamos distrair.