Multinacionais da morte
[Por Miguel Suarez *]
A raiz do escândalo sobre a condenação da justiça imperial à multinacional “Chiquita Brands”, aliás “United Fruti Company” por financiar organizações terroristas, à margem da lei, como diriam na Colômbia, o debate sobre o paramilitarismo e sua aplicação continua em pauta.
Para uma pequena mostra, diz-se que a Coca-Cola Serviços da Colômbia, é a companhia mais eficiente do país, graças à aplicação do terrorismo de estado no qual também estão envolvidas outras empresas multinacionais como a Drumon, Nestle, British Petroleum, Repsol, Oxi Petroleum, etc, etc.
As reiteradas denúncias e provas contra estas transnacionais, são prova palpável que o paramilitarismo é a ferramenta da qual se valem os exploradores para preservar seus interesses econômicos e políticos que no caso das multinacionais lhes garantam vultuosos lucros a custo de assassinar sindicalistas, destruir sindicatos e rebaixar as condições salariais dos trabalhadores.
A condenação da Chiquita por financiar o paramilitarismo, é só a ponta do iceberg paramilitar que abarca todos os níveis desse estado oligárquico.
O paramilitarismo não é uma exclusividade da oligarquia colombiana nem tampouco de Álvaro Uribe Vélez, porém é muito claro que durante seu período como governador de Antioquia entre 1995 e 1997, uma de suas conquistas foi o impulso deste.
Uribe em sua administração não só promoveu a criação das Cooperativas de Segurança Privada CONVIVIR, iniciativa destinada a legalizar o paramilitarismo, mas ainda implementou seu “Estado Comunitário” (Estado mafioso), na zona de Urabá, uma zona com um grande nível de organização popular, que foi destruída e que devido ao êxito disso, a oligarquia colombiana, no congresso de Ganaderos, em 1996, aprovou estender essa iniciativa de Uribe Vélez em escala nacional e além disso promover sua candidatura presidencial em 2002 e o reelegeram em 2006.
A Chiquita é uma mostra de como “O terrorismo de estado” foi aplicado pela oligarquia colombiana há muitos anos. O caso do massacre dos bananais ocorrido na população colombiana de Ciénaga em 1929 quando as forças armadas da oligarquia Colombiana abriram fogo contra os trabalhadores assassinando mais de mil deles, com suas mulheres e filhos para defender os interesses da United Fruit Company, é uma mostra da aplicação do terrorismo de estado que se ocultou cuidadosamente do povo colombiano.
A condenação dessa multinacional se dá por fatos parecidos, massacres ocorridos na mesma zona do país, os quais, financiando o paramilitarismo, conseguiram desalojar os camponeses de suas terras e destruir as outras fortes organizações sindicais, para assim forjar um império do terror que apoiadas desde Bogotá por sucessivos governos, os quais, por sua vez tomam medidas que legalizam fortunas de origem duvidosa, acabam por deixar sem castigo os responsáveis pelo terrorismo de estado.
Chiquita não só deu muito dinheiro. Também colaborou para que entrassem no país mais de 3.000 fuzis AK-47 e milhões de munições que foram parar junto aos grupos paramilitares. Na região de Urabá, a zona onde operava a multinacional, registraram entre 1997 e 2004, 62 massacres nos quais morreram 432 pessoas, em sua maioria camponeses pobres, muitos deles trabalhadores das plantações de bananas.
Ademais, mais de 60.000 pessoas tiveram que abandonar suas casas em meio desta limpeza paramilitar impulsionada entre outros por Álvaro Uribe e seu estado mafioso.
Porém, não é só a Chiquita, a Coca-Cola também tem sua história.
Na zona de Urabá, a mesma zona onde Uribe implementou seu “Estado Comunitário” e a mesma zona onde se deu o caso de Chiquita Brands, a Coca-Cola iniciou um experimento financiando paramilitares para destruir a organização sindical, rebaixar as condições de trabalho de seus trabalhadores e diante de seu êxito intentou implementar em todo o pais a sombra da “Segurança Democrática” de Álvaro Uribe Vélez.
Em 1992 o Gerente da Coca-Cola, José Gabriel Castro, acusou publicamente os trabalhadores e ao sindicato de serem agentes da guerrilha. Em 1995 o exército da oligarquia colombiana invadiu as instalações da Cooperativa dos Trabalhadores a Serviço da Coca–Cola e afiliados a SINALTRAINAL, o que repetiu, um ano mais tarde, o Comando de Captura da Polícia.
Em 1996 os paramilitares chegaram à Planta de Coca-Cola em Carepa e dispararam quatro vezes na cabeça, seis no peito e nos testículos de Isidro Segundo Gil, Secretario Geral do Sindicato Nacional de Trabalhadores da Indústria de Alimentos, SINALTRAINAL Seccional Carepa.
Depois do assassinato, os paramilitares entraram à força na sede sindical e lhe atearam fogo.
Depois, nessa mesma tarde, convocam uma reunião de trabalhadores no interior da empresa e ameaçam matar a todos que não renunciassem ao sindicato. Os 43 trabalhadores receberam as cartas de renúncia ao sindicato, datilografadas nas mesmas oficinas da empresa.
Diante da cumplicidade estatal com o paramilitarismo, o sindicato Sintrainal, recorreu à justiça imperial, que nessa ocasião exonerou a empresa Coca-Cola, que de imediato recorreu à injustiça colombiana acusando de terrorismo os sindicalistas que procuravam defender suas vidas.
O advogado da Coca-Cola para o caso foi Jaime Bernal Cuellar, que fora Procurador Geral da Colômbia entre 1994 e 1999, quando foram denunciados os crimes, e foi um dos funcionários estatais que não fizeram nada para deter os assassinatos.
Para o caso Coca-Cola, a política paramilitar traduz-se na redução em três vezes do número de trabalhadores sindicalizados; enquanto que nas multinacionais como a Nestlé somente 3% de seus trabalhadores chega a dez anos de permanência.
Sobre a Drummond, que é uma empresa dedicada a saquear o carbono da Colômbia, conta Francisco Ramírez Cuellar num artigo intitulado “O que custa assassinar sindicalistas” como foi o processo para assassinar os criadores do sindicato dessa empresa.
Cuellar disse que Valmore Locarno Rodríguez, Victo Hugo Orcasita Amaya e Gustavo Soler Mora, assumiram a direção da Sintramienergética seccional El Paso, para buscar melhores condições de trabalho, segurança no trabalho, comida em boas condições, salários dignos, seguridade social para eles e suas famílias; a resposta da empresa foi acusá-los de guerrilheiros.
Rafael García, ex chefe de informática do DAS em declarações à promotoria, disse que esteve presente quando num hotel de Valledupar, Augusto Jiménez, presidente da Drummond da Colômbia, reuniu-se com um enviado do mafioso Jorge 40, para entregar-lhe dinheiro com o qual estes aterrorizaram o sindicato.
Em 12 de Março de 2001, semanas depois de entregue o dinheiro por parte de Jiménez, uma caminhonete cheia de militares-paramilitares fecha um ônibus no qual iam trabalhadores, identificam Valmore Locarno Rodríguez e diante de seus companheiros o assassinam com dois disparos na cabeça, depois derrubam Víctor Hugo Orcasita Amya , levam-no na caminhonete e horas depois aparece torturado e com vários furos de bala no cérebro; em Outubro deste ano ocorre o mesmo com Gustavo Soler Mora, que havia assumido a direção do sindicato depois do assassinato dos companheiros.
Todas as pessoas que quiseram trabalhar na Drummond foram submetidas à aplicação de um detector de mentiras, suas vidas foram investigadas, procuraram informações nos organismos de segurança e certificou-se de que seus “padrinhos” fossem personalidades de Valledupar, amigos dos Araújo ou outra indicação da companhia, para garantir que só entrassem pessoas de “confiança” para a empresa mineira.
Sintramienergética-Funtraenergetica e os familiares dos sindicalistas assassinatos, diante da impunidade que padece o processo na Colômbia, dava conta do peso político que tem Drummond, pois seu representante é Fabio Echeverri Correa, assessor presidencial de Uribe, optaram por acionar a multinacional também diante da “justiça” imperial.
Sobre as petroleiras, a Unión Sindical Obrera, Uso, num documento sobre o tema disse que “Por detrás da chegada da British Petroleum Exploration à Casanare, chegaram os paramilitares”.
Disse o documento que segunda a investigação realizada por Ignácio Gómez sobre o espião alemão Werner Mauss, a história da empresa Sistema de Defesa Limitada, DSL, DSL (Defense System Limitada) contratada pela BP para sua segurança na Colômbia, está intimamente ligada com o aparatoso sistema de defesa britânico e que tem ingerência direta no conflito social e armado que vive a Colômbia e que estes, a DSL, treina grupos paramilitares.
Em artigo publicado em 2002 no Los Angeles Times, denunciava-se que a OXY pagava 750.000 dólares às forças de segurança colombiana e a Associação Cravo Norte – propriedade de ECOPETROL e a OXY, que atua na jazida Cano Limón - em 1996 firmou um “acordo de colaboração” anual de quase dois milhões de dólares para financiar economicamente as unidades da brigada XVIII que cobriam as zonas fronteiriças à jazida.
Segundo o documento de USO, no país estão presentes aproximadamente vinte multinacionais do petróleo que, embora eles tenham denunciado à Britis, nada indica que as restantes companhias em maior ou menor medida não adotem os mesmos procedimentos para garantir suas inversões em segurança;
É preciso mencionar que a Repsol e a OXY invadiram o território indígena U’wa em busca de petróleo, sem o consentimento das comunidades e violentando seus territórios em clara transgressão da Constituição Colombiana, sendo protegidos seus bens e maquinarias por forças militares-paramilitares, que assassinaram vários lideres indígenas.
Diversos agrupamentos sociais, de caráter religioso e partidos políticos suíços, integrados na organização Multi Watch, convocaram uma audiência público os dias 29 e 30 de outubro de 2005, em Berna, para analisar as denúncias de trabalhadores da Nestlé na Colômbia no sentido de que a empresa helvética tenham incorrido em práticas antisindicais que vêm manejando desde muito tempo, em relação também com a morte e desaparecimento de alguns trabalhadores.
Segundo o que se tem visto nos últimos tempos na Colômbia, onde o presidente é um homem com passado de narcotrafiante e de paramilitarismo, com ministro cujas famílias estão a serviço do narcotráfico, onde os ex procuradores convertem-se em advogados de multinacionais que são representadas pelos altos funcionários estatais, com comandantes miltares subornados pelo narcotráfico e com parlamentares que ao mesmo tempo em que aprovam novas leis, ordenam novos massacres, não deixa dúvidas de até onde o paramilitarismo é uma ferramenta do terrorismo de estado aplicado pela oligarquia para paralisar o protesto social, destruir organizações populares para eles continuarem enriquecendo, em detrimento do país e do povo.
A lista de multinacionais apoiando o terrorismo de estado na Colômbia, é bem grande e entre outras se destacam Chiquita, Coca Cola, Nestlé, Drummond, Britis Petroleum, Oxi, Repsol, etc,
O paramilitarismo e Álvaro Uribe Vélez, são sinônimos de morte. Há que recordar que entre 1995 e 1997, quanto Uribe foi governador de Antioquia, desatou-se a mais feroz investida com a Unión Patriótica onde exterminaram este movimento em Urabá e implantaram o “Estado Comunitário”, hoje conhecido como “Segurança Democrática”, projeto da Pax romana que se pretende aplicar em todo o país, onde a participação das multinacionais financiando a guerra contra o povo são um elo fundamental.
Os dados refletem um panorama desolador de desaparecimentos, assassinatos a sangue frio que tão só no primeiro mandato de Uribe chegaram aos onze mil casos, uns 62 mil exilados e em torno de quatro milhões de deslocamentos internos, que são o produto da iniciativa de aplicar em todo o pais, o realizado por Uribe em Urabá.
*Diretor da Rádio Café Estéreo
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