Zona Modelo
Assassino junto a assassino...
[Por Iván Cepeda Castro*]
Sob as ordens do General Mario Montoya, em outubro de 2002, o Exército e a Polícia baniram as milícias das Farc da Comuna XIII de Medellín. Desde então, as autoridades tem desejado apresentar esta zona como modelo da política de segurança do presidente Uribe. Na realidade, com o respaldo da Força Pública implantou-se uma zona de controle dos grupos paramilitares comandados por Diego Fernando Murillo, aliás, “Dom Berna”. Depois da operação Orión, os paramilitares notificaram à população as novas normas de conduta que deviam adotar se quisessem permanecer na localidade. Também lhes comunicaram sobre o pagamento de impostos para o “serviço de segurança”. Desalojaram pela força as casas de vários líderes acusados de pertencer às milícias, e converteram essas aldeias em centros de operações do Bloco Cacique Nutibara, que funciona ao lado de dez bases do Exército e oito da Polícia. As casas foram ocupadas pelos paramilitares e suas famílias para exercer uma vigilância permanente sobre a população. Segundo os habitantes da Comuna, membros da Polícia da Estação Laureles realizam patrulhamentos conjuntos com os paramilitares. Os desmobilizados contam com uma empresa Convivir na zona, prestam seus serviços como vigilantes e informantes, controlam as juntas administrativas locais, monopolizam o comércio ilegal de gasolina e o transporte.
O novo regime de controle territorial tem significado uma mudança nos métodos de execução da violência, e da difusão social do medo. Ao invés de crimes massivos e públicos, agora se pratica uma “repressão silenciosa” – como a chama a comunidade – da qual fazem parte o desaparecimento seletivo, os homicídios cometidos com arma branca, e o deslocamento forçado, “gota a gota”. Com estes métodos, 121 pessoas foram assassinadas ou estão desaparecidas desde 2002 na Comuna. As mulheres são vítimas freqüentes de violência sexual. Os jovens são submetidos ao recrutamento forçado. Por seu lado, a administração municipal nega que estes fatos provenham dos paramilitares, e os atribui a emergência de bandos de delinqüentes. Não obstante, tem-se encontrado valas comuns, e alguns dos crimes – como o da senhora Teresa Yarce, em 2004. que pertencia à Associación de Mujeres de Las Independências – mostram claramente uma ação que tende a eliminar os líderes das associações de vítimas.
Noutra coluna que escrevi a propósito da homenagem que tributou o Presidente da República a Mario Montoya, ressaltei que desde finais da década de 1970 este oficial havia sido acusado num periódico mexicano de participar na conformação do esquadrão da morte “Triple A”. Nessa época, o tenente Montoya fazia parte do Batalhão de Inteligência “Charry Solano”, especializado em organizar operações encobertas e ações terroristas. Em dias passados realizou-se um ato de desagravo ao General em virtude da informação colocada no periódico Los Angeles Times, que o vincula diretamente com os paramilitares. Nessa ocasião a homenagem correu por conta da IV Brigada do Exército, que fretou microônibus das empresas de transportes ligadas a “Don Berna“ para trazer os moradores.
Tudo isso ocorreu em Antioquia, onde durante a década de 1990 foi assassinado o advogado Jesús Maria Valle por criticar as cooperativas de segurança Convivir patrocinadas pelo governador Álvaro Uribe; as mesmas que durante essa época serviram a multinacional Chiquita Brands para contratar paramilitares com o fim de matar sindicalistas em suas plantações.