Delegação de paz FARC-EP finaliza oitavo ciclo na mesa de diálogos en La Habana, Cuba
Abril foi o mês em que, mais além do recesso
que se deram as partes para buscar fórmulas dinamizadoras do processo e
analisar propostas em benefício das maiorias oprimidas na miséria, se
produziram fatos de muita transcendência, como a Marcha pela Paz de 9 de abril,
e o Foro sobre Participação Política, que entregaram respaldo massivo e insumos
ao processo de diálogo, que busca uma solução política ao longo conflito social
e armado que estremece a Colômbia.
A marcha do 9 de abril foi um grito multitudinário da pátria pela paz, que pôs em seu lugar a direita guerreirista insensata que mete lenha na fogueira da guerra, porém que não manda seus filhos para morrer na confrontação.
Quer dizer que o clamor e a oração pela paz de
Jorge Eliécer Gaitán, sessenta anos depois, segue tremulando no coração dos
colombianos. Já é hora de que as águas agitadas pelo assassinato do tribuno,
pela violência política e pela exclusão que transbordaram as oligarquias
regressem a seu nível normal.
No Foro de fins de abril, as forças participantes indicaram que um problema fundamental a resolver para limpar o caminho para a paz é a necessidade urgente de estabelecer uma verdadeira democracia para a Colômbia.
Mais que para a guerrilha imersa num processo
de paz, o que exigimos do Estado é participação política para a cidadania,
democracia plena, fazer realidade a convicção do Libertador Simón Bolívar, de
que a soberania do povo é a única autoridade legítima das nações.
Que o povo fale da arquitetura do Novo Estado para um cenário de paz, da mudança das políticas econômicas que, durante décadas, têm sacrificado aos colombianos, do sentimento de soberania pátria, de uma nova doutrina militar distanciada da Doutrina da Segurança Nacional que enganou por tantos anos aos militares, fazendo-os voltar seus fuzis contra um “inimigo interno”, que era seu próprio povo.
Um governo democrático não persegue nem reprime a opção política. Educa os cidadãos e os militares na cultura da tolerância. Não permite o assassinato dos que reclamam suas terras violentamente despojadas. Contém a mão criminosa que começou a exterminar dirigentes da nascente Marcha Patriótica, e proscreve à perpetuidade condutas degradantes como os “falsos positivos” e o deslocamento forçado da população campesina.
“Peçam perdão”, é o coro orquestrado dos meios massivos de comunicação aos que legitimamente se levantaram em armas contra a violência institucional. É o cálculo da perfídia para ocultar os verdadeiros vitimários. Perdão deve implorar um Estado que suprimiu tantos seres humanos de maneira desalmada com sua política econômica. Pela fome e pelo analfabetismo, pela concentração violenta da terra, pela guerra que impôs para defender mesquinhos interesses, pela entrega da soberania, pelo deslocamento forçado, pelos massacres que enlutaram lares humildes, pelos desaparecidos, pelos perseguidos e encarcerados, pelas crianças que morrem de fome, pelas mulheres e homens que sentem sobre suas costas o estalo do chicote da miséria...
Quanto a guerrilha das FARC, da mão do povo, temos dito que qualquer erro que fosse cometido em desenvolvimento do conflito e da resistência armada a que nos obrigou o terror das elites no poder, estamos dispostos a revisá-lo em função da reconciliação. Porém, nenhuma autoridade moral têm os vitimários e seus tribunais para julgar-nos. Coloquemos em mãos da Assembleia Nacional Constituinte, do povo que é o soberano, as decisões fundamentais que devem formar o tratado de paz que a Colômbia necessita. Que ela emita sua sábia sentença, entre outros, sobre a conduta dos contendores, e cure as feridas da pátria e estabeleça a reconciliação perpétua sobre bases de equidade, democracia, liberdade, dignidade e soberania.
Nenhuma contribuição fazem à paz mentiras como as lançadas no estado [departamento] de Sucre pelo ministro de agricultura Juan Camilo Restrepo e outros altos funcionários públicos. Se repete a cena enganosa do governo em San Vicente del Caguán impingindo às FARC o despojo de terras aos campesinos. Nem um só centímetro dos Montes de María e das savanas de Sucre e de Bolívar foi nem é propriedade das FARC-EP, que têm combatido até as últimas consequências pelos interesses das pobrezas perseguidas pelo terror do Estado e de uns caciques, que, aliados com o paramilitarismo e a Infantaria de Marinha, semearam de fossas comuns esse martirizado cenário de ordenhadores e diaristas, de pequenos lavradores, que por décadas têm vivido em condições de feudalismo.
É o despojo a sangue e fogo protagonizado por sinistros personagens como Álvaro “El Gordo” García, o que têm sofrido os campesinos de Sucre. Não são as FARC as que usurparam a terra; pois a história de terror e saqueio e morte nessa região tem como protagonistas impostores trapaceiros como Miguel Ángel Nule Amín, o ex-governador uribista Salvador Arana, os Guerra Tulena e De La Espriella, ou os Visbal Martelo, entre tantos outros criminosos que, com sua credencial de políticos e pecuaristas, se aliaram com o sanguinário paramilitar Rodrigo Cadena para perpetrar as mais terríveis matanças.
Ninguém pode esquecer que o acionar das FARC em defesa dos campesinos se fez contra os que executaram massacres como os de El Salado, Macayepo, Pichilín e Chengue.
Por que o ministro de agricultura, em vez de lançar mentiras que encobrem a impunidade, não lembra ao país que elementos como o comandante da Primeira Brigada da Armada Nacional, contra-almirante Rodrigo Quiñones, são responsáveis diretos da tragédia e luto do povo sucrenho ao atuar em cumplicidade com bandos paramilitares e políticos assassinos?
Senhor ministro, não seja cúmplice de tanta atrocidade. Você sabe bem que os Montes de María e a savana limítrofe estão infestados de testas de ferro desses assassinos, que cinicamente atuam como “portadores de boa-fé” de uma terras – o ministério o sabe – que foram arrebatadas a campesinos humildes.
O povo colombiano mobilizado hoje pela paz não deve tolerar este tipo de procedimentos que não fazem mais que sabotar os esforços de reconciliação e os avanços ostensivos na construção do acordo, que hoje pode apresentar na Mesa de Havana.
Nos corresponde a todos defender, com corpo e alma, a solução política do conflito social e armado. Aqui estão as FARC plenas de otimismo e determinação, com uma equipe reforçada com novos quadros, entre os quais se encontra outro integrante do Secretariado, o comandante Pablo Catatumbo, brindando criatividade ao propósito da paz.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP