"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Nova carta a indígenas do Cauca



– 13/05/2013Posted in: Comunicados

Senhores:
Autoridades indígenas Conselho Regional Indígena do Cauca CRIC, Associação de agremiações indígenas do Norte do Cauca ACIN-CXHAB WALA KIWE, Organização Nacional Indígena de Colômbia ONIC. 

Toribío, Cauca.
Apreciados compatriotas e companheiros: 
Recebam a cordial saudação de nossa organização revolucionária. Me dirijo a vocês, em minha condição de Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP, com o propósito de dar resposta a sua carta datada de 29 de abril. [Ler carta]
Começarei por dizer-lhes que nada mais longe da intenção do Secretariado Nacional das FARC que cair em provocações e assumir uma atitude conflitante com as comunidades indígenas do Cauca. Em nosso ânimo pesam muito antigos e profundos laços de afeto e solidariedade para [com] as comunidades aborígenes do país e do continente, razão pela qual mal poderíamos abrigar algum sentimento de hostilidade ou confrontação para elas, menos ainda quando nossos princípios e bandeiras de luta contemplam a cabal reivindicação de seus seculares direitos violentados.
Apesar disso, me vejo obrigado a fazer algumas precisões, mais com o propósito de convidá-los a analisar as coisas com a serenidade e a sensatez que merecem a situação e o momento. Com prévia invocação a sua dignidade e responsabilidade, nos acusam vocês em sua nota de termos um cuidadoso plano de guerra elaborado contra os governos autônomos, legítimos e ancestrais dos povos indígenas do país. Honradamente, humanamente, politicamente, podemos assegurar-lhes que tal apreciação está rotundamente equivocada, não se corresponde para nada com a realidade e mais parece o produto do envenenamento por parte de terceiros interessados. De nossa parte, existe toda a disposição para entender-nos positivamente com vocês, como comunidade, como autoridades indígenas, como irmãos de sonhos e de lutas.
Nós estamos convictos de que o diálogo, de um franco e sadio intercâmbio, sem terceiros atiçadores no meio, brotará um completo entendimento. Nós também temos sido vítimas do comportamento individual de alguns dirigentes indígenas, sem que por isso nos atrevamos acusar a toda a comunidade ou a suas autoridades. Estamos certos, por exemplo, de que o trabalho do médico tradicional Benancio Taquinás com os serviços de inteligência da Força Aérea e do Exército, que conduziu a que unidades nossas fossem reiteradamente bombardeadas ou assaltadas, com diversas perdas humanas e materiais, não era produto da ordem de nenhuma das dignidades indígenas. Por sua própria vontade, ele optou por colocar-se a serviço direto das forças militares no desenvolvimento da guerra.
Se vocês têm queixas ou denúncias contra guerrilheiros ou milicianos que, de algum modo, cometeram abusos ou condutas delituosas contra os indígenas ou sua comunidade, estamos em disposição plena de recebê-las e encaminhá-las, aplicando os corretivos que contemplam nossos estatutos e regulamentos disciplinares. Possuímos uma normatividade e uns princípios muito rigorosos, que todo combatente nosso conhece porque se lhe ensinam e exigem. Temos o convencimento de que uma relação normal e respeitosa entre nós permitiria nosso conhecimento e a devida solução de qualquer arbitrariedade contra vocês. Pensamos que, da mesma maneira, essa relação propiciaria que vocês dessem a devida solução às condutas abertamente hostis contra nós que provenham de qualquer membro de suas comunidades.
O que, por outro lado, prejudica e abre feridas muito difíceis de curar são procedimentos sumários e desacertados como os que referem em sua carta de 29 de abril. Como Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP, lhes asseguro que nenhum dos indígenas capturados, julgados e condenados por vocês num dia tem a menor responsabilidade nos fatos que lhes imputaram, pese a que vários deles foram sentenciados a 40 anos de cárcere. Tais absurdos, cometidos por vocês mesmos contra sua própria gente, antes que gerar unidade e respeito para com as autoridades da comunidade, apontam para a divisão desta e a semear futuros e graves enfrentamentos que, com sábias e prudentes decisões, se teria podido evitar.
Já expressei eu a ACIN, em carta de 20 de julho do ano passado, nossos pontos de vista e atitude para as comunidades e autoridades indígenas do Cauca. Ao tempo em que os convido a repassar entre todos essa missiva, lhes expresso nossa vontade aberta e sincera de dialogar e encontrar entendimentos que nos permitam avançar satisfatoriamente para nossos mútuos anseios de paz e justiça social. Lhes reitero que não somos seus inimigos, inclusive a maioria de suas próprias comunidades assim o entende e assume, fato que, por alguma razão que poderíamos definir e esclarecer, parece produzir algum grau de irritação em certo setor de suas autoridades.
Nessas condições, nos declaramos à espera do contato para reunirmo-nos. Compreenderão que se trata de assuntos que não podem tornar-se públicos porquanto um inimigo mortal de vocês e de nós permanece à espera da menor oportunidade para golpear-nos, reprimi-los ou prendê-los por relacionarem-se conosco.
Lhes reitero nosso abraço de companheiros e irmãos. Hernán Cortés conseguiu subjugar as comunidades astecas do México porque somou a seu exército outras tribos indígenas que, enganadas, o apoiaram. Huáscar, o irmão de Atahualpa, se aliou com Francisco Pizarro e precipitou o derrubamento dos Incas. Ainda nos sangra a todos a ferida do terrível drama dos indígenas de Agualongo, ganhados pelos espanhóis para lutar a favor da Coroa e contra o exército libertador de Bolívar. Essas histórias jamais deveriam ser produzidas e estamos obrigados a impedir que venham a se repetir algum dia. Por Colômbia, por todos os perseguidos deste país, pela justa causa indígena da América, é indispensável nosso entendimento. Estamos dispostos a tudo para consegui-lo.


Atentamente,
Timoleón Jiménez
Montanhas de Colômbia, 12 de maio de 2013.