La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 19 de maio de 2013 Nossa Lista de Mercado
Diz o presidente que as propostas
que as FARC apresentam ante os meios de comunicação se parecem cada vez mais
com uma Lista de Mercado.
Nos agrada a comparação, porque
nos relembra a lista triste dos pobres quando vão comprar no armazém do vizinho
produtos da cesta básica como arroz, chocolate ou azeite. E nossa gente não
pede, por exemplo, meio quilo de arroz, mas sim 50 gramas; não meio quilo de chocolate
– como deveria ser –, mas sim três barrinhas; não um frasco de azeite, e sim 2
onças... Por Deus! Não têm dinheiro para pagar o produto completo. Os que
comercializam nos supermercados de camada seis não entendem isto. Não entendem
a Juan Pueblo, entre consternado e angustiado, constatando que já não há “pão
de a cem”. Só a perfídia do governo e de seus tortos burocratas da estatística
esconde a subumana realidade para semear a falsa percepção de que o país
progride. Os do governo dizem: “aumentamos as exportações”, porém não explicam
que os que exportam nossas riquezas naturais e ficam com os lucros – que
deveriam ser utilizados na solução de nossos graves problemas sociais – são as
transnacionais.
Há pouco, o Departamento
Administrativo Nacional de Estatística [DANE] anunciou a redução do número de
pobres em 10 milhões. Esta suposta redução repentina de 30 para 20 milhões é
uma farsa descarada. A acentuação das políticas neoliberais, o único que produz
é miséria e mais desigualdade. De que cartola sacaria o mágico esse mentiroso e
trêmulo coelho? Utilizando o índice neoliberal e tecnocrático do PIB para medir
sua economia onde não se contabiliza para nada o índice de desenvolvimento
humano nem a existência de uma crise humanitária gerada pelo terrorismo de
Estado.
As manipuladoras e instáveis variáveis
de mediação que utilizam fazem com que a uma família que vive na favela, pelo
fato de não pagar arrendamento – que pode custar 80.000 pesos – lhe somem esse “não
gasto” como se fosse uma renda. Se uma pessoa trabalha duas horas por semana,
ou se rebusca nas ruas, já é um empregado. Assim é que tiram, sem mais nem
mais, o povo da pobreza. No entanto, por mais que depurem a base de dados do
SISBEN, seus registros não baixam da cifra de 30 milhões de pobres num país de
46 milhões de habitantes.
Não importa que incomode ao
governo, porém reiteramos ante o país a lista de mercado que queremos levar a
nossos lares campesinos:
Remover a
injusta concentração da terra em poucas mãos, que é a causa do conflito e da
miséria do campo. Formalizar ou titular 9.5 milhões de hectares em mãos de campesinos
organizados nas Zonas de Reserva Campesina. Desenvolver um tipo de mineração
ligada ao investimento social, sem impactos negativos na produção de alimentos
e no meio ambiente. Frear a estrangeirização da terra. Proteger a economia
campesina frente ao TLC. Laboralização do trabalho rural que estabeleça um
salário mínimo para os diaristas. Que aos trabalhadores do campo se lhes
garanta direitos reconhecidos como o de previdência, saúde, educação, férias e
seguridade social em geral. O campo colombiano deve modernizar-se privilegiando
a economia campesina e abandonando de todas as maneiras suas irritantes
expressões feudais.
Agora,
estamos à espera das conclusões do Foro sobre Participação Política para armar
uma nova lista de insumos que saciem a fome secular de democracia,
desmilitarize o Estado e a sociedade, e permita ao Constituinte Primário, o
povo soberano, construir com suas próprias mãos o tratado de paz que a Colômbia
requer.
Nossa “Lista
de Mercado” não sugere uma revolução por decreto, simplesmente reivindica os
interesses mais sentidos das pobrezas e reclama o cumprimento, pelo menos, de
normas constitucionais e legais vigentes.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP