"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

FARC-EP Saúdam a Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas



La Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 10 de fevereiro de 2015
Compatriotas relatores
Víctor Manuel Moncayo Cruz e Eduardo Pizarro Leongómez
Comissionada Maria Emma Wills e demais integrantes da
Comissão histórica do conflito e suas vítimas.


«Seja o que for, já não nos encontramos nos tempos em que a história das nações era escrita por historiógrafos privilegiados aos quais se lhes dava inteira fé sem exame... são os povos os que devem escrever seus anais e julgar aos grandes homens.» Simón Bolívar (Diario de Bucaramanga).


Apreciamos imensamente o trabalho realizado pela “Comissão histórica do conflito e suas vítimas”. Somos conscientes de que vocês não contaram com as melhores condições para realizar suas elaborações, sobretudo pela insuficiência de tempo. Não obstante, estamos convencidos de que souberam compreender que a dinâmica imposta por um processo como o que adiantamos não dá espera, e responderam ao chamado que lhes fez a Mesa de diálogos desde Havana. Certamente sempre se considerará que o realizado poderia ser melhor, se se tem em conta o rigor que demanda todo esforço intelectual e investigativo que se preze ser sensato e particularmente este que será um insumo fundamental para aprofundar na busca da verdade a respeito das causas e consequências da longa confrontação política, social e armada da qual a Colômbia padece, o qual gera imensas expectativas na opinião nacional frente aos resultados que agora se fazem públicos.
Suas contribuições ao entendimento da complexidade do conflito, assim como as análises que contribuam para seu trâmite pela via exclusivamente política, serão, com certeza, indiscutíveis. Além disso, suas aproximações à problemática das vítimas e à definição das responsabilidades, assuntos que, ao lado da busca de soluções à miséria, desigualdade e à carência de democracia se encontram no centro de nossas preocupações.
Desde o início mesmo dos diálogos, propusemos uma comissão que se ocupasse do esclarecimento da verdade histórica do conflito. Após mais de um ano de formulação da dita iniciativa, o Governo nacional respondeu positivamente a nossa proposta e se compôs a “Comissão histórica do conflito e suas Vítimas”. Em igual sentido, estamos certos de que se concretizará o acordo sobre a “Comissão de esclarecimento e não repetição”, com cujo trabalho se complementará o esforço por alcançar o propósito de construção da verdade histórica como parte de nosso compromisso com as vítimas e, em geral, com o país.
Tal propósito, evidentemente, representa uma tarefa pendente, sobretudo se se leva em conta que, sendo o conhecimento da história uma condição inevitável para traçar o curso do porvir, o qual é axiomático, a realidade histórica e sua interpretação também se converteram num campo de batalha. Paralelamente com as pretensões de uma vitória militar sobre nosso levantamento armado, que, aliás, nunca chegou, fizeram carreira a falsificação e o negacionismo. Por mero dispositivo e através da manipulação midiática, se pretendeu fazer desaparecer a existência do conflito e com isso a perspectiva de uma solução política e a possibilidade de encontrar a reconciliação em condições de justiça e vida digna.
Nossa longa e legítima luta buscou ser desprestigiada e apresentada como parte das atividades próprias de uma indústria criminal; nosso acionar guerrilheiro foi convertido em simples comissão de delitos, tipificados na longa lista do direito penal. Ainda hoje, os setores mais atrasados da opinião pública e funcionários mal-intencionados do Estado, inimigos da paz, como o Procurador Geral da Nação, persistem nessa ideia. Sua intenção é clara: apagar o inapagável; estimular a ideia de que nossa luta guerrilheira é a invenção de um grupo de indivíduos para se enriquecerem e, de passagem, ultrajar a população e convertê-la em objeto de vitimização; promover o ódio e a vingança entre os colombianos; suprimir de golpe a possibilidade da rebelião armada e continuar pelo caminho do desconhecimento do delito político e suas conexidades, ainda sabedores de que tal despropósito pode levar o processo de diálogo a uma sem saída.
Daí a importância do retorno à história. Só ela permite compreender nosso presente e projetar nosso futuro. O que ansiamos nós outros é o da paz com democracia verdadeira e justiça social, é o da reconciliação nacional. E esse retorno à história o concebemos como uma construção complexa na qual devem ter espaço todas as vozes. Por isso, nosso entendimento da Comissão partiu da necessária consideração de múltiplas perspectivas de análises e enfoques, sempre sob a suposição que ainda em presença deles há fatos e evidências históricas indiscutíveis; que o relato histórico não é só um assunto de interpretação, senão que deve ser elaborado precisamente com base numa rigorosa avaliação dos fatos e das evidências.
Somos conscientes das dificuldades para a elaboração do referido relato. Começando, como já assinalaram alguns historiadores, que para uma história do conflito faltam ainda por explorar –com o devido julgamento- as fontes guerrilheiras e os ainda não abertos arquivos do Estado, sem deixar de lado inclusive os de governos estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos que, como é bem sabido, têm jogado um papel determinante em nossa história. A elaboração dessa história ainda nos espera.
Quando acordamos a composição da Comissão, conhecendo os limites que a investigação histórica impõe, assinalamos que não pretendíamos que se realizasse uma nova investigação, senão que, a partir das já existentes e confiando no conhecimento dos expertos, se pudesse adiantar um exercício de interpretação que contribuísse para compreender a complexidade do conflito colombiano, suas causas e origens, sua persistência, os impactos gerados por este sobre a população e, ademais, que contribuísse na definição das responsabilidades. Não buscávamos um relato único; entre outras coisas, porque a história que nos aguarda não é a dos vencedores. Pretendíamos, reiteramos, que as mais diversas vozes fossem ouvidas, inclusive aquelas que teórica e epistemologicamente se podem situar no campo da história feita desde a subalternidade.
Estamos certos de que conseguimos essa incumbência. Os informes dos doze expertos, assim como o informe da relatoria, com sua aproximação teórica, metodológica e interpretativa diversa, enriquecerão as discussões da Mesa e, não nos cabe a menor dúvida, marcarão uma etapa no debate nacional, acadêmico e da opinião pública acerca da história do conflito social e armado. As vítimas do conflito contarão com um inevitável referente para compreender o que passou e especialmente pensar em como superar o que faz com que a vitimização se reproduza e persista.
Nesse sentido, queremos agradecer-lhes pelo trabalho realizado. Estejam certos de que o Informe da Comissão representa uma contribuição substantiva ao processo de paz. Seus alcances ainda não podem ser percebidos na devida dimensão. Certamente irá suscitar reações e inquietações diversas que deveremos assumir com sabedoria, sensatez, probidade e a obrigação ética de comprometer-nos em aliviar, como dizia o Libertador Simón Bolívar, “os horrores da guerra”, favorecendo a reconciliação. De tal maneira, então, que muito útil seria manter coesa e em funcionamento a equipe de estudiosos que integram a Comissão histórica do conflito e suas vítimas, a fim de continuar contando com tão importante fonte de consulta e assessoria no curso dos debates que levamos ao redor do ponto 5 da Agenda, referido a Vítimas, e os que já estamos às portas de abordar em relação com a finalização do conflito.
DELEGAÇÃO DE PAZ DAS FARC-EP
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Equipe ANNCOL - Brasil