Que significa tudo isto, Senhor Presidente?
Recentemente,
conhecemos declarações oficiais do mais alto nível que negam a
existência de grupos paramilitares, apesar da evidência diária de
ameaças e crimes contra dirigentes sociais, políticos e populares
que levam a firma de vários desses grupos de assassinos.
A
realidade assinala outra coisa. No dia 30 de janeiro se produziu o
crime do dirigente campesino Jáminton Andrés Ávila, do município
de Yondó, no Nordeste de Antioquia, líder, entre outras
organizações, da Zona de Reserva Campesina do Río Cimitarra, ao
tempo em que se denunciam de novo as ameaças de morte contra o
dirigente de ANZORC, César Jerez.
Em
Cumbitarra, estado de Nariño, no último 23 de janeiro, se produziu
um combate entre unidades da Frente 29 das FARC-EP e os membros de um
grupo paramilitar que tinha fixado uma reserva na corregedoria de
Remolinos e ameaçava com avançar até Palo Grande. O saldo foi de
um paramilitar morto e mais dois feridos. Após esse acontecimento,
marcou presença em Sidón, parte alta de Remolinos, uma patrulha do
Exército que entrou decididamente a apoiá-los.
Reforçados
pela tropa oficial, os paramilitares penetraram até as veredas Palo
Grande e La Perdiz, de onde começaram a enviar chamamentos aos
comerciantes de Sidón, Sánchez e Remolinos, para que se apresentem
ante eles com somas que oscilam entre 5 e 20 milhões de pesos, sob a
ameaça de morrerem no caso de se negarem [a pagar]. Segundo o
expressado à população pelos paramilitares protegidos pelo
Exército, se encontram à espera de mais homens e armas.
Por
outra parte, a 30 de janeiro, em altas horas da noite, se apresentou
uma patrulha da força-tarefa Apolo do Exército Nacional, na casa de
um morador da vereda El Tierrero, município de Caloto, Cauca,
destroçando as portas e causando toda uma desordem, após o que
procederam a arrancar de sua cama, à força, o chefe da família.
Ante os gritos e súplicas de sua esposa e filhos, a comunidade se
apresentou, as quais as tropas tentaram rechaçar empregando suas
armas de fogo, fuzis e lança granadas MGL. Só a valentia da
população decidida a impedir a arbitrariedade oficial obrigou a
tropa a retirar-se, que expressou abertamente ameaças contra a
população e seus habitantes.
No
município de Chaparral, sul do Tolima, se incrementam as operações
militares na área rural, particularmente nas corregedorias La Marina
e León, onde patrulhas de 10 soldados profissionais que levam
consigo mulheres, enviam às casas da comunidade pequenos grupos
vestidos à paisana, com uma ou mais mulheres, a que se apresentem
como guerrilheiros que reclamam remessas, dinheiros ou qualquer outro
encargo depositado ali para eles. Ante a surpresa e a negativa da
população, mais tarde chega a tropa fardada nas mesmas casas,
arrasando completamente seu interior e levando até a mais mínima
das provisões das pobres famílias campesinas.
Continuam
as operações militares nas áreas da Frente 15 e na região do
Guayabero, no Meta, com tropas que avançam por terra, tomam posse de
lugares dominantes e dali se dedicam a bombardear com granadas de
morteiro 120 mm a área circundante. Sobra dizer que a orientação
que se deu às unidades guerrilheiras é a de responder de maneira
contundente.
Que
significa tudo isso, senhor Presidente? Estamos à beira de assumir o
tema da diminuição da intensidade do conflito, em meio a um
cessar-fogo unilateral rigorosamente cumprido por nossa organização.
Discutir sobre assuntos como o desminado ou a violência sexual em
meio à guerra não representa para nós nenhum problema, sempre que
sejam atendidas as dificuldades apresentadas em ambos os bandos.
Porém, há de se ter em conta que nossa atitude atual tem
contribuído para que as vítimas da confrontação sejam cada dia
menos. Uma atitude semelhante por parte do Estado faria mais
rapidamente realizável o velho anseio de pôr fim aos sofrimentos do
povo colombiano.
SECRETARIADO
DO ESTADO-MAIOR CENTRAL DAS FARC-EP
La
Habana, 3 de fevereiro de 2015.
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Equipe
ANNCOL - Brasil