CUBA: Com quatro vacinas contra o câncer, a produção de medicamentos em Cuba se posiciona como “a anti indústria”
LA HABANA, julho 4: Especialistas destacam o trabalho dos laboratórios cubanos, que têm objetivos totalmente opostos aos das farmacêuticas tradicionais. Segundo uma pesquisa, o sistema de saúde cubano obtém melhores indicadores de saúde que os Estados Unidos, gastando até vinte vezes menos.
Há um tempo, o Prêmio Nobel de Medicina Richard J.
Roberts denunciou a indústria farmacêutica pelo manejo da produção de medicamentos.
O especialista inglês afirmou que os laboratórios “orientam suas pesquisas não
para a cura das enfermidades, mas sim ao desenvolvimento de medicamentos para
doenças crônicas, muito mais rentáveis economicamente”, deixando como equação
que 90 por cento do orçamento para pesquisa estão destinados às enfermidades de
10 por cento da população mundial”. Esta cara negativa do setor tem uma contra-cara,
um lado menos mercantil, segundo destacam os especialistas. Se trata da
indústria farmacêutica cubana, que, através do papel social de sua medicina, se
posiciona como “a anti indústria”. As quatro vacinas contra o câncer são o melhor
exemplo para esta ideia.
Em primeiro lugar, a indústria médico-farmacêutica
de Cuba tem um forte componente público, o que a transforma numa das principais
fontes de divisas para o país. Em segundo lugar, suas pesquisas vão dirigidas,
em boa parte, a desenvolver vacinas que evitam enfermidades e,
consequentemente, diminuem o gasto da população em medicamentos. Num artigo na
prestigiosa revista Science, os pesquisadores da Universidade de Stanford
[Califórnia] Paul Drain e Michele Barry asseguravam que Cuba “obtém melhores
indicadores de saúde que os Estados Unidos, gastando até vinte vezes menos”. A
razão: a ausência –no modelo cubano- de “pressões e estímulos comerciais por
parte das [indústrias] farmacêuticas e uma exitosa estratégia de educação da
população em prevenção de saúde”.
Ademais, as terapias naturais e tradicionais –como
a medicina herbolária, a acupuntura, a hipnose e muitas outras-, práticas pouco
rentáveis para os fabricantes de medicamentos, estão integradas há muitos anos
no sistema de saúde pública gratuita da ilha.
Por outro lado, em Cuba os medicamentos são distribuídos,
em primeiro lugar, na rede hospitalar pública nacional, de forma gratuita ou
altamente subsidiada –precisamente-, graças às receitas em moeda forte por suas
exportações. A indústria farmacêutica cubana, ademais, apenas destina orçamento
ao gasto publicitário que, no caso das multinacionais, é superior, inclusive,
ao investido na própria pesquisa, destacam os especialistas.
Como emblema desta política totalmente oposta à
indústria, se situam as quatro vacinas contra o câncer, uma esperança para frear
este mal, que, segundo a Organização Mundial da Saúde, causa, a cada ano, cerca
de 8 milhões de casos fatais. Em 2012, Cuba patenteava a primeira vacina
terapêutica contra o câncer de pulmão avançado em nível mundial, a CIMAVAX-EGF.
E em janeiro de 2013 se anunciava a segunda, a chamada Racotumomab. Ensaios
clínicos em 86 países demonstram que estas vacinas, ainda que não curem a
enfermidade, conseguem a redução dos tumores e permitem uma etapa estável da
enfermidade, aumentando esperança e qualidade de vida.
O Centro Imunológico Molecular de Havana,
pertencente ao Estado cubano, é o criador de todas estas vacinas. Já em 1985
desenvolveu a vacina da meningite B, única no mundo, e mais tarde outras, como
as que combatem a hepatite B ou a dengue. Além disso, pesquisa há vários anos
para desenvolver uma vacina contra a AIDS. Outro centro estatal cubano, os
laboratórios LABIOFAM, desenvolve medicamentos homeopáticos também contra o
câncer: é o caso do VIDATOX, elaborado a partir do veneno do escorpião azul.
Cuba exporta estes medicamentos para 26 países, e
participa em empresas mistas em China, Canadá e Espanha. Tudo isto rompe completamente
um estereótipo muito difundido, reforçado pelo silêncio midiático acerca dos
avanços de Cuba e outros países do Sul: que a pesquisa médico-farmacêutica de
vanguarda se produz somente nos países chamados “desenvolvidos”.
O bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba impõe
importantes obstáculos para a comercialização internacional dos produtos
farmacêuticos cubanos, porém também prejudica diretamente a cidadania
norte-americana. Por exemplo, as 80 mil pessoas diabéticas que sofrem nesse
país, a cada ano, a amputação dos dedos de seus pés, não podem ter acesso à
vacina cubana Heperprot P, que as evita precisamente.
FONTE: REVISTA MIRADA PROFESIONAL
Tradução: Joaquim
Lisboa Neto
Tomado de Resumen
Latinoamericano