"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Assim os ‘paras’ assassinaram 13.919 pessoas entre 1997 e 2005. A lista do holocausto paramilitar no Estado do Norte de Santander


Um arquivo, no qual aparecem descritas 13.919 pessoas mortas entre 1997 e 2005, contém, também, os comentários de alguns dos paramilitares que operaram no estado sobre 966 dessas pessoas, assassinadas sob as ordens de, entre outros, Jorge Iván Laverde Zapata, vulgo El Iguano, ex-comandante da Frente Fronteiras das Autodefesas Unidas de Colômbia [AUC].



Primeira entrega: 1999-2001
As histórias sobre o horror paramilitar que se viveu no Norte de Santander entre 1999 e 2004 pareceriam não acabar nunca.
Os assassinatos, os massacres, os desaparecimentos, os deslocamentos, as violações e as torturas foram o diário viver de grande parte dos habitantes do estado que, durante 5 anos, suportaram as inclemências de mais de 1.000 homens que, sob o pretexto de erradicar as guerrilhas das FARC e do ELN, chegaram a esta região do país para terminar convertidos em narcotraficantes ávidos de poder e dinheiro.
La Opinión teve acesso exclusivo a um arquivo confidencial, propriedade de vários ex-paramilitares postulados ao processo de Justiça e Paz no qual, sem nenhum tipo de pudor, relatam, com excessivo detalhe, os pormenores sobre 966 assassinatos cometidos em Cúcuta, Tibú e La Gabarra.
Nesta espécie de “lista do horror”, os ex-comandantes Jorge Iván Laverde Zapata, vulgo El Iguano; Albeiro Valderrama Machado, vulgo Piedras Blancas; Lenin Giovanni Palma Bermúdez, vulgo Álex, e José Mauricio Moncada, vulgo Mocoseco, entre outros, contam como, seguindo ordens ou por iniciativa própria, levaram a cabo mortes seletivas, massacres, mutilações e desaparecimentos de cadáveres durante a tomada que fizeram de grande parte do território norte-santandereano.
Alguns dos episódios narrados a seguir, nas próprias palavras de seus autores, escondem atrás de si a verdade de centenas de homicídios, dos quais só até hoje se saberá a forma em que se cometeram e a motivação que existiu para que se levassem a cabo.
No arquivo ao qual este diário teve acesso, os depoimentos dos paramilitares aparecem diferenciados por cores numa grande tabela de Excel, onde os responsáveis desses crimes não só comentam suas mortes como também que se advertem entre si das possíveis contradições nas quais poderiam estar caindo ante as denúncias que fazia o então fiscal de Justiça e Paz, Leonardo Augusto Cabana Fonseca, pelas inconsistências apresentadas nos relatos de alguns crimes.
Nos comentários, os ‘paras’ se cuidam de não ir repetir fatos ou equivocar-se nas datas em que cometeram os crimes, deixando advertências como ‘prestemos atenção porque esta morte não pode ser na mesma hora da outra porque nos contradizemos’.
A seguir, La Opinión extrai trechos dos escabrosos relatos feitos pelos paramilitares sobre a forma em que foram assassinadas essas pessoas.
O total das vítimas e os comentários feitos sobre suas mortes podem ser consultados na página web www.laopinion.com.co/victimas/, onde, ademais, se pode realizar buscas por nome, sexo, lugar, vitimário, ano e mês em que teve ocorrência o fato.
As primeiras mortes
Os primeiros quatro crimes sobre os quais um paramilitar se pronuncia no arquivo foram cometidos a 29 de maio de 1999 na vereda Socuavo, do município de Tibú. Nesse dia as vítimas foram Jorge Camilo González, Gerardo Berbesí, Rafael Claro e Omar Osorio.
Segundo a anotação feita por Albeiro Valderrama Machado, vulgo Piedras Blancas, quem depois chegou a ser comandante em Pamplona, nesse dia o massacre foi cometido por um grupo de 240 homens sob o mando de vulgo Camilo [Armando Alberto Pérez Betancourt, fugitivo da justiça]. O grupo ia acompanhado de dois informantes, os quais eram os encarregados de assinalar os supostos membros da guerrilha que viviam na zona.
Os informantes eram conhecidos com os vulgos de Carlos Cúcuta e Saraguro. Todos [os mortos] ficaram na via. Eles vinham de La Gabarra. Vulgo Cordillera [Adelmiro Manco Sepúlveda, quem se suicidou em La Gabarra] matou dois senhores num casebre. Não pude averiguar os nomes”.
Massacre em Aguaclara
Em 10 de julho de 1999, passadas as 6 da manhã, três pessoas foram metralhadas na corregedoria de Aguaclara. Nesse dia, segundo o consignado por Jorge Iván Laverde Zapata, vulgo El Iguano, então comandante da Frente Fronteiras, 15 homens armados pertencentes às Autodefesas Unidas de Colômbia chegaram até esse lugar em busca das pessoas que “conforme os informantes conhecidos como William Ortiz [vulgo Ramoncito] e vulgo Valvulina, foram expostas como integrantes, auxiliadoras ou colaboradoras das FARC, para serem assassinadas”.
Uma vez chegados a Aguaclara, os 15 homens ingressaram de maneira violenta nas moradias e obrigaram os residentes a reunir-se no campo de futebol localizado no parque central da corregedoria.
Ali, os dois informantes que iam com os ‘paras’ assinalaram a Jorge Enrique López, Jesús Fabio González Medina e Jorge Humberto Vera. Os três foram “assassinados à maneira de execução com tiros na cabeça ante o olhar e impotência de seus vizinhos, deixando em sua passagem pichações nas paredes das casas anunciando a presença das AUCs”.
No massacre participaram, além de El Iguano, Ómar Yesid López Alarcón, vulgo 18; Édgar Cercado, vulgo Papo [chefe de uma gangue delinquente que operava em Cúcuta quando os ‘paras’ chegaram e que era conhecida como Los Polleros]; Ramón de las Aguas Ospino, vulgo Chaca [também de Los Polleros]; Alfredo Julio Guzmán, vulgo Chirrí e Jimmy Viloria, vulgo Jairo Sicario.
Percorrido mortal por Atalaya
William Ortiz [vulgo Ramoncito] e vulgo Valvulina, os dois informantes que acompanharam El Iguano no massacre de Aguaclara, acompanharam-no um mês mais tarde, em 8 de agosto de 1999, num percorrido mortal pela cidadela de Juan Atalaya.
Segundo o dito por El Iguano, nesse dia, em horas da noite, vulgo Ramoncito e Valvulina se dirigiram com um grupo de 15 homens pertencente a um esquadrão da morte da Frente Fronteiras para os bairros Belisario e Nuevo Horizonte, onde, sob pressões, obrigaram os residentes a sair de suas casas e esperar nas ruas as indicações dos ‘paras’.
Como se tratasse de um julgamento, os dois ‘dedos-duros’ levantaram seus dedos acusadores contra Jhon Jairo Bermúdez Daza, Luis Giovanny Bermúdez Daza, Orfis Alirio Barbosa y Jair Alfonso Cañizares Ortiz. Aos quatro os acusaram de serem ‘elenos’ [do ELN]. Todos foram justiçados diante de seus vizinhos e seus corpos deixados nas ruas, que se converteram em rios de sangue.
Mutilar corpos e atirar ao rio
Em seu intento de ingressar em La Gabarra, os paramilitares não pouparam esforços em práticas cruéis para semear o terror entre os moradores e apagar todo rastro de suas ações.
Segundo Piedras Blancas, os senhores José Ángel Quintero Veja, Kennedy Sierra Reyes e uma pessoa à qual chamavam Chango os assassinaram enquanto patrulhavam com o major Hernández do Exército na via que de Tibú conduz a La Gabarra.
Fizemos um destacamento com o grupo de Cordillera. Levávamos os guias [informantes], os quais nos mostraram Quintero, que dirigia um [caminhão] 350 e Chango uma canoa. Foram executados por Cobra. Um foi lançado ao rio e o outro foi enterrado num cacaual, que o rio terminou levando”.


Tomada de La Gabarra
Desde 10 até 23 de agosto de 1999, a corregedoria de La Gabarra foi cenário de um dos piores massacres dos quais este país teve notícia.
Nessas duas semanas, os homens do Bloco Catatumbo, que levavam mais de dois meses tratando de meter-se neste povoado para apoderar-se de seu lucrativo negócio da coca, fizeram o inimaginável com mais de 35 pessoas, segundo as cifras oficiais, ainda que nunca se conseguiu estabelecer com exatidão o número de pessoas que morreram.
Vulgo Piedras Blancas, com uma linguagem crua, sem poupar detalhes, contou no arquivo de vítimas ao qual La Opinión teve acesso, parte do que realmente ocorreu nesses dias.
[Vulgo] Camilo ordenou o ingresso a La Gabarra [...], a mim me tocou assegurar La Pesa e o bar Villaluz. Ali houveram [sic] dois mortos; um, [vulgo] El Gato Mono matou com um fuzil porque se lhe atirou a quitá-lo e o outro era um pesero que quase apunhala a [vulgo] Toronja, quem lhe disparou com uma escopeta de repetição. [Vulgo] Cobra também lhe aplicou uma machadada na cabeça”.
No bar Villaluz, os ‘paras’ retiveram cerca de 300 pessoas, enquanto esperavam os ‘informantes’ que iam assinalar os guerrilheiros que reconhecessem.
Os guias nunca chegaram para assinalar as pessoas. Estivemos mais ou menos duas horas, de 7:30 a 9:30 da noite. Estávamos regados por El Mirador e Vetas. Nos recolheram selecionados, da primeira esquadra de [vulgo] Cordillera fomos 20. Iam Cobra, Cordillera, Gringo, Toronja, Barbas, Chacal, Osito [Edilfredo Esquivel Ruiz], Gato, me parece que Niñito, Chamba, Roque e Madera. Fomos a Mata de Coco, onde Camilo estava. Lá nos ordenaram que aos que os informantes [que iam encapuzados] assinalassem, havia que matá-los. Não sei se iam Saraguro e Carlos Cúcuta”.
As verdadeiras intenções do ingresso a La Gabarra por parte dos ‘paras’ ficam esclarecidas quando Piedras Blancas fala de Los Azules, o célebre grupo enviado por Salvatore Mancuso para que se encarregasse de todo o concernente ao negócio da droga. Este grupo, se sabe que esteve comandado por vulgo Marcos Gavilán [Roberto Vargas Gutiérrez] celebremente conhecido pelo assassinato dos jovens estudantes da Universidad de Los Andes Mateo Matamala e Margarita Gómez, em San Bernardo del Viento [Córdoba].
Entramos com 60 homens em La Gabarra. Também ia o grupo de Los Azules. Eles vinham de Córdoba. O comandante deles era Marcos; iam uniformizados de azul e eram mais ou menos 30 homens que supostamente se encarregavam da droga. Eu conheci Marcos, Alex, Pocopelo, Jeringa e Computador. Esse grupo a passava em Finca Bonita, que era uma granja de um homem que lhe chamavam El Policía”.


Falsos positivos para o Exército
Simultaneamente ao massacre em La Gabarra, os paramilitares tiveram tempo de ‘ajudar’ o Exército com uns falsos positivos que lhes permitiram demonstrar resultados operacionais enquanto eles cometiam seus crimes sem nenhum tipo de pressão por parte das autoridades.
Em palavras de Piedras Blancas, foi vulgo Mauricio [José Bernardo Lozada Artuz] quem ordenou que recolhessem de El Mirador quatro rapazes para que os levassem a Vetas, os uniformizassem, lhes pusessem coletes e provedores e os deixassem a mercê dos soldados “os quais lhes dispararam”.
As vítimas foram Néstor Alfonso Campos Sánchez, Alfonso Edier Álvarez Lara, Diomar Vargas Vera e um mais que não pôde ser identificado.
Eu tirei um relógio de um garoto que estávamos necessitando para prestar guarda. A ideia era que a população acreditasse que nos estávamos dando chumbo com o exército. Os rapazes foram trazidos do quilômetro 25, onde Mauricio estava”.
Uma vez cometido o crime e enquanto se retiravam, Cordillera teve tempo de matar a pauladas um senhor que ficou registrado como N.N. porque, supostamente, era quem avisava a guerrilha que os ‘paras’ iam subindo pela rodovia em direção a La Gabarra.


Só se salvaram duas mulheres e duas crianças
Na madrugada de 15 de setembro de 1999, sobre a via que de Cúcuta conduz a Salazar de las Palmas, à altura da vereda Quebrada Seca do município de Santiago, El Iguano, junto a 7 dos homens que integravam seu esquadrão da morte, interceptou um veículo no qual viajavam 10 pessoas.
Aos ocupantes da camionete de placas BEI894 obrigaram-nos a descer e retiveram seus documentos. Depois, afastaram duas mulheres e duas crianças que viajavam ali e procederam a “estender no piso com a boca pra baixo a Horacio Ovalles Álvarez, Jesús María Blanco Vergara, Luis Adán Rodríguez Vergara, Alberto Alexander Rojas Blanco, Víctor Ramón Parada Lizcano e Eliseo Rojas Manrique”.
A todos eles, segundo o relato feito por El Iguano, mataram disparando-lhes na cabeça e no corpo “à maneira de execução, ao ser assinalados como integrantes do grupo subversivo do ELN”.
Na única casa que havia na zona, os paramilitares deixaram pintadas pichações que diziam “chegamos para ficar”, “a guerra apenas começa”, “sabemos tudo e todos morrerão”. AUC
Neste massacre participaram, além de El Iguano, Carlos Arturo Núñez, vulgo Richard; os membros do bando Los Polleros William Ortiz [Ramoncito] e vulgo Valvulina; Manuel Antonio Combariza, vulgo Jorge Marinillo; Luis Alfonso Mora Serna, vulgo Manuel El Cuñado; Juan Carlos Pinedo Oviedo, vulgo Oviedo, e Diofre Llanos Duque, vulgo Ramazzoti.


Lá há um pouco de fossas’
Em novembro de 1999, Piedras Blancas foi testemunha do assassinato de um jovem ‘aparentando 14 anos, branquinho, de 1m55cm, que foi assinalado de ser guerrilheiro e exaltou-se com Cordillera’.
O corpo do adolescente foi enterrado em Caño Guadua [Tibú], onde, segundo esse ex-paramilitar, “há um pouco de fossas das autodefesas. Eu enterrei um senhor que era financeiro das FARC em El Suspiro e El Brandy. Chacal também sabe de fossas para o outro lado do rio [Catatumbo]”.


Queimamos ele para que não cheirasse mal’
Em janeiro de 2000, quando os homens do Bloco Catatumbo se consolidavam em Tibú e seus arredores, um jovem identificado como Juan Ríos foi assassinado pelo destacamento que vulgo Mauricio liderava.
Não satisfeitos em matá-lo, penduraram-no num pau.
Piedras Blancas, que vinha cuidando da retaguarda junto a outro grupo de paramilitares, encontrou o cadáver ‘guindado num pau, em avançado estado de putrefação’. A única solução que se lhes ocorreu a estes homens para amenizar o mau cheiro que o cadáver exalava foi ‘tocar-lhe fogo para que não fedesse muito’.


Mataram-no a pauladas
Na escola da vereda Morrofrío, em La Gabarra, Édgar Omar Galviz Melgarejo foi assassinado a pauladas por um grupo de paramilitares que patrulhava o setor vestindo objetos militares e braceletes do ELN.
Segundo conta Piedras Blancas no arquivo ao qual La Opinión teve acesso, Galviz se encontrou com um grupo de ‘paras’ que lhe obrigaram a deter sua marcha quando se mobilizava numa mula. A estes lhes disse que ia ver outras mulas que tinha pastando mais adiante. Os ‘paras’ deixaram-no ir.
Mais adiante, quando se encontrou com os paramilitares que simulavam pertencer ao ELN, se identificou como membro dessa guerrilha e lhes advertiu, sem saber que estes eram ‘paras’, que um grupo das Auc estava emboscado na escola de Morrofrío.
A Cordillera lhe informaram do sucedido e este ordenou que o matassem a pauladas”.


O indígena cuja morte revolucionou a La Gabarra
A 29 de abril de 2000, a corregedoria de La Gabarra se levantou contra os paramilitares por culpa da morte do indígena Obed Dora Cebra.
No relato feito por Piedras Blancas sobre este acontecimento, se diz que foi por ordem do comandante Camilo que se recolheu o indígena sem que ninguém se desse conta e se lhe levou à tropa que estava no quilômetro 60, onde vulgo Crispeta o esperava.
Este índio, ao desaparecer, se revolucionou La Gabarra, inclusive a mim me cercaram e quase me matam, só não aconteceu porque saquei a pistola e disparei para conseguir sair daí. Ao tenente Castiblanco da Polícia lhe tocou falar com vulgo Camilo para ver o que faziam. Camilo ordenou que o desenterrassem e o deixassem onde pudessem encontrá-lo. Vulgo Madera me entregou ele, envolvi-o num plástico, montei-o numa barca e o levei até Bocas de San Miguel, onde o deixei numa prainha em frente a uma casa”.
Até este lugar chegou o grupo de Cordillera, disfarçado de guerrilheiros, para fazer o povo acreditar que a morte do indígena era culpa da guerrilha.
Mataram este índio porque Santos Ropero [Luis Carlos Ropero Díaz] o acusou de ser colaborador da guerrilha. Cordillera o havia tido amarrado por três dias, soltou-o e lhe disse que não podia voltar a La Gabarra. Como o indígena voltou, por isso o mataram”.


O guarda-costas do prefeito de El Zulia deu a informação
Um policial, guarda-costas do ex-prefeito de El Zulia Juan Alberto Carrero [conhecido por ter sido sequestrado pelo ELN no avião de Avianca, onde também caiu o senador Juan Manuel Corzo], foi quem disse aos paramilitares que operavam neste município que José Antonio Rojas [gari do parque] e Miguel Ángel Castellanos, supostamente tinham nexos com a guerrilha.
Os dois homens foram assassinados a 30 de julho e em suas mortes participaram, entre outros, El Iguano; Yesid López Alarcón, vulgo Gustavo 18; Wilmer Ruiz Cruz, vulgo Carpati, e José Dagoberto Urando, vulgo Walter.


Os políticos de El Zulia que trabalharam com os ‘paras’
Em setembro de 2000, Juan Ramón Jiménez foi assassinado por vulgo Perrito e Jeta Agüada. A morte de Juan, segundo o depoimento de vulgo Charpas, um paramilitar que operou em El Zulia, foi ordenada por um vereador desse município que tinha problemas com a vítima por [causa de] umas terras.
O vereador, de sobrenome Bayona, falou com vulgo Walter [então comandante em El Zulia e quem posteriormente escaparia deste lugar com um dinheiro que roubou das Auc, produto de uma venda de droga] e o indispôs com a vítima, acusando-o de ser homossexual e de tratar de corromper menores”, escreveu Charpas no arquivo.
No entanto, este paramilitar também comentou sobre as reuniões que os ‘paras’ tiveram com vários ex-prefeitos deste município e como um deles chegou, inclusive, a sugerir o assassinato de uma mulher a quem conheciam neste povoado como ‘Martha La Peliona”.


Mandei queimá-lo
Vulgo Hernán [Armando Rafael Mejía Guerra] se fez tristemente célebre no país por ser o primeiro paramilitar que falou da existência de uns fornos onde seus homens, enquanto foi comandante em Villa del Rosario, incineravam suas vítimas e as que lhe enviavam outros comandantes ‘paras’ da área metropolitana.
No arquivo ao qual La Opinión teve acesso, a primeira menção que se faz destes fornos foi pelo assassinato de Jorge Enrique Ruiz Carreño, ocorrida, segundo Hernán, a 24 de março de 2001.
Nesse dia, levaram Jorge para a parte alta da corregedoria de Juan Frío com a intenção de ‘arrancar-lhe’ uma informação que, no entanto, não se especifica. Vulgo Julio e Gonzalo [de quem não aparecem os nomes] foram os que o assassinaram.
Eu dei a ordem de queimá-lo [...], depois se avisou a Monsalve [quem recolhia os mortos dos ‘paras’ em Villa del Rosario] para que fosse recolher uns cadáveres. [No entanto] não se pôde recolher apenas um porque o outro se desintegrava. Na parte alta do engenho [em Juan Frío] havia um forno e para os lados da granja La Carolina havia outro”.


Matamos ele a pedra’
William Marino Wallens Villafane, um vigilante de Ecopetrol em Tibú, foi apedrejado por vulgo Pantera [William Rodríguez Grimaldo], seguindo ordens de vulgo Mauro [José Bernardo Lozada Artuz, comandante desse município]. Wallens havia acusado de ser guerrilheiro um engenheiro de Ecopetrol, de sobrenome Chamorro, que colaborava com as Auc. Os fatos sucederam em 29 de maio de 2009.
Segundo Pantera, esperaram Wallens na saída de Ecopetrol até as 10 da noite, porém este conseguiu evadir-se. Mais tarde, foi interceptado e levado até um beco, junto a um potreiro, onde o matou a pedra em companhia de outro ‘para’ de sobrenome Bonilla. O corpo de Wallens foi enterrado no mesmo potreiro onde morreu, junto à moto de sua propriedade e que seu corpo havia sido cortado aos pedaços.


Três dias: cinco mulheres assassinadas
Entre 8 e 11 de setembro de 2001, cinco mulheres foram assassinadas pelos homens de vulgo Hernán nas ruas de Villa del Rosario. Se trata de Diana Paola Torres Hernández [assassinada a 8 de setembro] e Yuldrary Manrique Carrillo, Eliana Bueno Hidalgo, Diana Paola Valdés Monsalve e Wendy Carolina Valdés Monsalve, assassinadas num mesmo feito em 11 de setembro.
Segundo o relato de Hernán, a primeira mulher foi assassinada porque saía com um jovem acusado de ser ladrão e pertencer ao ELN. As outras quatro mulheres foram assassinadas porque, supostamente, queriam infiltrar-se nas Auc que operavam no município histórico para ‘cortar o pescoço’ dos seus integrantes. Ademais, acusavam-nas de serem amigas de Jonathan Mogollón, um homem com o qual as Auc tinha conflitos neste município.


Irmã de um comandante das FARC
Edinson José Baldovino Toro, vulgo Pérez, candidato ao processo de Justiça e Paz, contou em detalhe como foi assassinada, em 21 de dezembro de 2001, Orfelina Pérez Ureña, na corregedoria de Luis Vero [Sardinata].
Nesse dia, e sendo comandantes da zona vulgo Tigre 7 e Gustavo 18, chegaram até a loja que Orfelina tinha e levaram-na, aduzindo que ela vendia cerveja para a guerrilha e, talvez o mais grave, que era a irmã do comandante guerrilheiro das FARC conhecido como Flaminio.
Nesse mesmo dia, junto a Orfelina, foram assassinados outros dois jovens desmobilizados do EPL. Vulgo Pérez manifestou não saber o que passou com os corpos destas três pessoas.