"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 20 de julho de 2014

Escreve Iván Marquez à colunista Natalia Springer: “Devemos alcanzar a paz”


Natalia Springer, colunista do diário El Tiempo, em sua nota “Como acabar o processo de paz”, se referiu a este desde uma ótica difícil que não permite ver a luz da reconciliação que muitos colombianos percebem no horizonte como esperança que não pode deixar escapar.

 
A paz, como ápice de todos os direitos e como anseio crescente das maiorias nacionais, não se pode confundir com os sentimentos da metade dos cidadãos que votam num país onde quase sempre triunfa a abstenção; uma abstenção que atrai e congrega como bola de nove a descrença e o desencanto de muita gente perante seus governantes.
 
A anistia e o indulto aplicados aos delitos políticos e seus conexos não são uma perversão, como crê Springer, senão o produto de séculos de jurisprudência. As rebeliões, um direito legítimo dos povos, consagrado desde 1948 na Declaração dos Direitos Humanos da ONU. Duzentos anos atrás, o Libertador conceituava que “O homem social pode conspirar contra toda lei positiva que tenha encurvada sua nuca, escudando-se com a lei natural”. Em Colômbia a rebelião é o delito político por excelência, e precisamente o delito político concebido em sua integralidade originária, isto é, com os denominados delitos conexos subsumidos nele, contém os instrumentos jurídicos que podem limpar o caminho para a paz e a reconciliação, desde logo com o complemento necessário da solução às causas estruturais da rebelião.
 
Por isso dizemos que não viemos a Havana para negociar impunidades. As estatísticas das Nações Unidas atribuem ao Estado e a seus paramilitares a responsabilidade de mais de 80 por cento das vitimizações, em muitos casos através de crimes internacionais caracterizados pela sistematicidade e pelo cálculo, circunstância que dificulta o acesso a benefícios jurídicos.
 
Agora, ao falar de máximos responsáveis, devemos afirmar claramente que a cadeia de mando não se esgota nos Estados-Maiores do Exército e da Polícia, senão que vai mais além e toca o Palácio de Nariño. O assunto não pode ser explicado pelas elites como o comportamento anômalo de umas maçãs podres, quando as ordens à instituição armada partiram do livre arbítrio e da premeditação dos poderosos. De verdade que o problema das vítimas do conflito é assunto complexo que não se pode expedir com argumentos levianos nem sofismas.
 
Por sua parte, Uribe Vélez, aproximando seu imenso rabo-de-palha do fogo, posando de serafim totalmente alheio de sua condição de máximo responsável, estima que não pode ter paz com impunidade. Não somente comprometido com crimes de lesa-humanidade, tem se dedicado a obstruir a justiça tirando do país seus alfiles da delinquência Luis Carlos Restrepo, María del Pilar Hurtado e vulgo “Uribito” para evitar seu encarceramento. O grave é que, ante estes delitos notórios, a autoridade judicial, paralisada como estátua, não atua. É como se o promotor dos “falsos positivos” tivesse um pacto com o diabo no qual nenhuma autoridade terrenal pode tocá-lo. O mito de um Uribe-fita-veda terá que rodar pelo solo.
 
É urgente pôr em marcha a Comissão Histórica do Conflito e suas Vítimas para esclarecer o assunto das responsabilidades, para que seu relato ilumine como farol a verdade que as vítimas do conflito reclamam. Há muita “gente bem”, e envaidecida, que lava as mãos como Pilatos frente ao dessangramento e a violência nacional, ainda que arrastem o pesado fardo oculto de máximos responsáveis. Responsáveis são os partidos políticos, os ideólogos do paramilitarismo como estratégia contra insurgente do Estado, os terra-tenentes, os pecuaristas, os generais, alguns bananeiros e palmicultores, certos banqueiros, a narco-para-política, os comandantes das forças, os que idealizaram os “falsos positivos”, a grande imprensa instigadora da guerra, reconhecidos purpurados da igreja, os implementadores da política neoliberal que produziu milhares e milhares de mortos e milhões de pobres, o governo dos Estados Unidos, que interveio desde o princípio de maneira direta no conflito, e também a insurgência, porém noutro plano, que não é o dos que geraram esta guerra.
 
Natalia, “os responsáveis do horror são os que atualmente nos estão representando como sociedade”. Não se horrorize pelo hipotético, senão pelo que tem a seu lado: um Estado capturado por poderes mafiosos e estruturas narco-paramilitares, o cancro da corrupção, a impunidade, a exclusão política, a militarização da sociedade, a intolerância, a miséria e a desigualdade, a ocupação militar por uma potência estrangeira, o saqueio de umas riquezas naturais que poderiam ser utilizadas para a redenção social do país...
 
Esta situação tem que mudar. Aos colombianos não nos resta outro caminho que o da retificação de tantas injustiças e a disposição do espírito coletivo para a reconciliação, porque a guerra perpétua não pode ser nosso destino. Para edificar a paz este país necessita de bases consistentes de justiça social, democracia e soberania. Sem que emirja o humano sentimento da compreensão e do perdão, não haverá paz. Teremos que desterrar dos corações a vingança e o ódio, a exclusão e a intolerância. À paz deveremos consagrar nossos melhores empreendimentos, para isolar com todas as nossas forças e fazer com que marche ao nosso lado durante os séculos futuros.
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 Publicado por AFP NOTICIAS para Agencia Fariana de Prensa - Bloque Cdte. Jorge Briceño