"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Carta aberta dos presos políticos à Senadora Piedad Córdoba

Prisões da Colômbia.

Senadora Piedad Córdoba.
Associação "Colombianos pela Paz".

Nossa calorosa saudação bolivariana.

Somos prisioneiros de guerra confinados nas prisões do regime narco-terrorista de Uribe Vélez, pelo "delito atroz" de lutar pela "Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo".

Senadora Piedad, és sinônimo de dignidade, de povo, de soberania. E é aí onde confluímos, você, Bolívar, nós, personalidades e intelectuais, movimentos sociais, partidos políticos e milhões de colombianos que temos dito: basta de exploração, de corrupção, de entrega da soberania, de terrorismo de estado…

Cada um dizendo o mesmo a partir do seu lugar. O seu, o parlamento, a universidade, a praça pública, foros nacionais e internacionais; e, por que não?, os meios de comunicação. São cenários vedados ao povo, mas que você, com coragem e grandeza patriótica, os aproveita para confrontar o regime fascista, chamando o povo a o subverter e a se levantar contra o terrorismo de estado.
Você e nós somos conscientes da existência de um conflito social e armado, que tem suas raízes nas profundas desigualdades econômicas, que as classes dominantes vêm tratando pela força.

Estamos de acordo que a solução para o conflito é política, para poder assim, por meio do diálogo fraterno e da Reconciliação Nacional, construir a Pátria que desejamos, em paz e com justiça social, e não seguir transitando pelo despenhadeiro da guerra civil.

Neste confronto, que já se prolonga por cinco décadas, foram sacrificadas várias gerações de jovens. O custo tem sido alto, com milhares de mortos, desaparecidos, exilados, presos, pessoas expulsas de suas terras. Já na primeira década do século XXI não podemos seguir sendo um povo de bárbaros, cheios de anacronismos; é responsabilidade nossa construir um futuro melhor para as próximas gerações e dizer com Salvador Allende: "Se abrirão as avenidas por onde marchará o homem novo".

Consideramos que o elemento fundamental do diálogo político, que conduzirá à abertura e à ampliação do espaço democrático, constitui-se da libertação dos prisioneiros de guerra mediante um acordo e intercâmbio humanitário.

Somos conscientes de que as condições dos detidos nas selvas por nossa organização não são as melhores, pois há sempre o imprevisto de um assalto, um bombardeio do exército oficial ou algum irresponsável "cerco humanitário"; isso é duro para os chamados "políticos", expostos também a enfermidades tropicais, assim como a viver num meio não tão cômodo como seus apartamentos e escritórios, o mesmo onde decretavam a guerra e davam ao povo leis o­nerosas.

Diferente é a situação de policiais e soldados profissionais, que conscientemente optaram por empunhar as armas contra o povo, atuando como mercenários de um sistema injusto. Eles sabiam dos riscos que corriam e foram derrotados no campo de batalha.

Afortunadamente estão em mãos de um exército revolucionário com um profundo espírito humanista, que lhes tem dado um tratamento digno, não obstante as condições adversas, e, só por complacência e medo do que seus chefes lhes possam fazer, quando são libertados criticam a guerrilha.

Mas no nosso caso estamos nas entranhas do monstro, que utiliza a "justiça" como vingança e a prisão como castigo, para nos fazer pagar o preço por termos nos levantado contra a infâmia.

Frente à opinião pública, eles têm feito parecer como se o único drama dantesco fosse o dos retidos pela guerrilha. Tinta, papel e engodo têm sobrado para que eles se apresentem como heróis e convertam a situação num meio de propaganda suja contra a insurgência, encobrindo a criminalidade do governo, que aliado com o para-militarismo afoga em sangue a geografia nacional.

Os meios de comunicação se obstinam em fazer crer ao Povo Colombiano que no conflito só existem vítimas de um único lado. As vítimas do terrorismo de estado não existem em suas reportagens, nem é mencionada nunca, por exemplo, a situação das mulheres e mães de família que decidiram lutar por um futuro melhor para seus filhos, e que neste momento se encontram detidas nas fossas de morte que são as prisões colombianas.

Eles tampouco vêem nem mostram nunca os filhos das guerrilheiras farianas que se encontram em mãos do estado, crianças que nasceram e cresceram no cativeiro e que levam o estigma da prisão desde o seu nascimento, só por causa da condição digna que ostentam suas mães, verdadeiras revolucionárias.

Toda a propaganda midiática de que se ocupam as cadeias noticiosas afeitas ao ditador, é apenas um lado da moeda, que oculta a situação e os presos políticos, prisioneiros de guerra e presos de consciência, produtos da aplicação da política de segurança democrática, baseada em falsos positivos, detenções massivas, e montagens dos organismos de segurança de estado, infiltrados pelo para-militarismo e associados a sapos e delatores que buscam benefícios econômicos e jurídicos, amparados no corrompido sistema de recompensas e a política de desmobilização e reinserção.

Para nós, guerrilheiros, dão um tratamento muito diferente dos outros. Aos para-políticos e paramilitares são concedidos benefícios e comodidades; celas especiais com celular e computador, com visitas até três vezes na semana. Nós, pelo contrario, somos isolados do entorno social e familiar, enviados a cárceres distantes na geografia nacional, com temperaturas extremas, onde nossas famílias, de baixos recursos econômicos, não podem nos visitar.

Para nós, regimes especiais: visitas conjugais a cada 45 dias por 40 minutos; visitas quinzenais de apenas um turno. Fazem-nos recordar as penas de desterro, proibidas pela constituição. As celas de presos políticos, numa medida que atenta contra nossa integridade pessoal, estão sendo eliminadas, obrigando-nos desta maneira a conviver com a delinqüência comum e os paramilitares, violando flagrantemente a Lei 65 de 1993, que fala da seleção e classificação da população reclusa.

Somos vítimas de falsos positivos, para ocultar a corrupção da instituição penitenciaria, fazendo montagens de fugas e supostos complôs para desestabilizar ao déspota e seus cortesãos. Vemos pela TV carniceiros como Rito Alejo del Río, para-políticos ou chefes paramilitares conduzidos pela guarda penitenciária como se fossem seus guarda-costas, enquanto nós somos algemados pelos pés e mãos, até mesmo para um exame médico.

Violam-nos permanentemente o devido processo, a inocência até que se prove o contrário, e outros direitos de caráter constitucional; somos exibidos como troféu de guerra; dificultam-nos o acesso aos advogados com as transferências constantes a diferentes prisões; assim mesmo, nos debilitam o direito de igualdade ante a lei, negando-nos benefícios jurídicos e administrativos: progressão de fase, prisão domiciliar, permissão das 72 horas, casa por cárcere, etc., aumentando o tempo de confinamento.

Nos pressionam para que traiamos e reneguemos nossa organização, fazendo chantagem através de mais duras condições e regimes de encarceramento. Os verdadeiros revolucionários na Colômbia estamos condenados na prática à cadeia perpétua, porque desde que a justiça inventou os delitos conexos, toda rebelião é somente o aumento da sentença.

Enquanto isso, os genocidas de armas e moto-serra que, sem nenhum indício de vergonha, reconhecem até 2.000 homicídios graças ao extravagante elemento jurídico conhecido como "Lei de Justiça e Paz", pagam sentenças de 8 anos salvando-se da CPI por seus crimes de lesa-humanidade e legalizando aos poucos suas descomunais fortunas, fruto do narcotráfico, do roubo ao erário público, de saques, do deslocamento forçado e da usurpação das terras dos camponeses.

Mas todas estas realidades, pão diário nas prisões, são ocultadas e ignoradas. Os meios oficiais só registram as pantomimas e farsas organizadas pelo estado, as marchas habilmente manipuladas ou os atos a partir das prisões promovidos pela ONG holandesa "Mãos pela Paz", dirigida por Ludovine Sampolle, onde se agrupa uma pocilga de traidores e arrependidos, a denegrir as organizações revolucionárias, e cujo único propósito é o de vender a tese de que nas prisões não há presos políticos, nem prisioneiros de guerra que querem voltar a seus postos de combate.

Senadora Piedad Córdoba e personalidades interessadas no futuro de nosso país, por estas e muitas razões mais, lhes estamos convidando desde as masmorras do regime a continuar e a não desanimar na busca do Intercâmbio Humanitário; a que junto com os estudantes possa se materializar o Mandato Estudantil pelo Acordo Humanitário, e que com Hebe de Bonafini, Presidenta das Madres de la Plaza de Mayo na Argentina e a comunidade internacional, levantemos com força a consignia para conscientizar nossas famílias, companheiros, amigos, colombianos e colombianas em geral de que "Não somos delinqüentes, não somos terroristas… Somos Prisioneiros de Guerra…

Intercâmbio Humanitário JÁ!!"

"Poderão atar nossas mãos, mas jamais nossos sonhos de Justiça e Liberdade".
Presos Políticos e Prisioneiros de Guerra

FARC-EP
Cárceres da Colômbia