"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Por que a Televisa não fala dos narcomandatarios/empresarios?

por Pedro Echeverría V./Colaborador ABP México

1. De dentro do automóvel em que transitavam, encapuzados jogaram uma granada de fragmentação, a qual explodiu nas instalações da Televisa na cidade de Monterrey, sem deixar feridos, mas ocasionando grande movimentação de militares, corpos policiais, proteção civil e unidades médicas de emergência.
Os agressores realizaram, além disso, disparos com arma de fogo e colocaram uma cartolina sobre um carro estacionado em frente à empresa, onde escreveram: “Parem de transmitir notícias apenas sobre nós, transmitam também as notícias sobre os narcomandatários. Isto é um aviso”. Ao que parece há também entre os narcotraficantes diferenças políticas: um poderoso grupo está aliado a altos funcionarios da Televisa e do governo e outro lhe exige que não somente fale de “uns narcos” senão que tambiém informe à população mexicana de seus amigos, os tais “outros narcos” que vêm escondendo.

2. A Televisa é a maior empresa televisiva da América Latina e uma das mais poderosas do mundo. No México o monopólio Televisa atende sete em cada dez telespectadores e fatura sete de cada dez pesos dos orçamentos de publicidade do país. Já a Televisión Azteca abocanha 20 por cento da audiencia e da publicidade, enquanto que a rádio e a TV a cabo precisam sobreviver com o que sobra. Concentram-se num par de empresas quase todas as formas de produção da programação televisiva. Segundo se publicou em 2004 “em nenhum lugar do mundo, a não ser no México, uma só empresa opera quatro redes de televisão… Berlusconi opera três redes nacionais na Itália”. Mas, para além de ser uma poderosa mega-empresa transnacional, a Televisa é uma empresa que passa muitas horas do dia deformando a informação e caluniando as classes pobres e marginais.

3. O narcotráfico, já é bem sabido em todo o país, penetrou nas mais altas instituições do poder, entre os grandes empresários, entre os mais altos funcionários do governo, no exército, na polícia, na Igreja e nos meios de informação (Televisa, TV Azteca, Radio Fórmula e outros).
Pensava-se, até uns dez anos atrás, que os narcotraficantes só vendíam drogas nas cercanias das escolas e em alguns rincões muito escondidos. Hoje sabemos que o tráfico está instalado nos mais altos níveis e tem uma grande capacidade de crescimento. Quem sabe agora não devamos nos perguntar quais empresários ou políticos pertencem ao narcotráfico, senão o contrário: quais não tomam parte dele. Por isso quase ninguém mais acredita no suposto combate do exército ao narcotráfico, mas que esto é uma cortina de fumaça para esconder o fracasso do governo Calderón.

4. Quando se lê os conteúdos dos aparatos e cartéis informativos que colocam os narcotraficantes em vários estados exigindo a saida do exército; quando se afirma que em várias regiões do país o povo sem trabalho e na miséria protege e apoia aos narcotraficantes; quando vemos que se atira contra uma empresa funesta como a Televisa, podem alguns pensar que, quem sabe, exista alguma diferenciação entre narcos maus e outros bons, alguns narcos governistas e outros que critican o governo, os de direita e outros de esquerda, os que não têm contato com o povo e outros populistas que repartem dinheiro com os pobres. Quem sabe não deveriamos realizar estudos sociológicos profundos para entender o tipo de ideais cada grupo mantém? Qual é a diferença entre os narcotraficantes e os sequestradores de ricos? Os grandes empresários e governantes mexicanos somente lavam dinheiro ou participam nos altos níveis de decisão do tráfico?

5. No século XVIII, Voltaire, o filósofo enciclopedista francês, pronunciou categoricamente esta frase que temos ouvido ser repetida milhares de vezes por gente honesta, mas, sobretudo por muitos farsantes: “Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas defenderei com minha vida teu direito a dizê-lo”. Voltaire, bom orador e construtor de frases que logo se fizeram célebres, não o seria se, anos depois, tivesse reafirmado sua máxima. Hoje, apesar de estar na moda falar em pluralidade, se pedir inclusão e tolerância, isto contrasta com a realidade. As pessoas aparentemente são tolerantes, mas somente com assuntos que não são de seu interesse, que não são importantes nem definem nada. Para os seguidores das TV, as noticias sanguinolentas, sobre sexo, drogas e futebol são importantes e até se confrontam por isto, quer dizer, chegam a ser intolerantes; já os políticos de esquerda lhes importam menos que um amendoim, assim os toleram; mas em questões de política e ideología se dá o contrário.

6. Podería um político de esquerda, um lutador social comprometido com a causa dos trabalhadores, defender com sua vida os “direitos da Televisa” de xingar a mãe, com suas notas diárias, dos pobres, miseráveis e marginalizados ou de tergiversar em benefício próprio as noticias que deveria dar com objetividade? Recordo que Dostoievski, em alguma parte de sua grande obra, declarou ser intolerante e classificou a tolerância como mediocridade. Penso que, na revolução mexicana de 1910/17, eu teria lutado junto ao anarquismo ou anarco-sindicalismo de Flores Magón, mas ao mesmo tempo teria participado nas batalhas do zapatismo, do villismo e com as massas do Obregonismo e do Carrancismo. Não adotaría, por nenhum motivo, uma conduta excludente ou intolerante com corrente alguma da revolução. Mas haveria de ser intolerante frente aos jornais, revistas e personagens que se opunham à revolução.

7. Voltaire foi um gênio em filosofía e nas idéias políticas. Quem sabe tenha sido um dos teóricos precursores mais importantes da Revolução Francesa, mas assim como se lhe apresenta sua famosa frase, ela perde toda a sua razão prática. Obviamente Bush, Aznar, Calderón, Fox, podem expressá-lo o quanto quiserem, tem o direito individual de expressarem-se como assassinos ou como imbecis, mas não estou disposto a defender com minha vida seus dereitos a dizer o que quizerem. Se nestes momentos pudesse jogar-lhes lama, água ou sapatadas, o faria. Se não fossem personagens importantes e não estivessem frente a um grande auditório, pelo menos lhes mandaría umas trombeteadas; mas só basta imaginar estas empresas de TV e rádio, cujas transmissões chegam a milhões de pessoas, para repudiar abertamente sua atuação. Os meios de informação mexicanos carecem da mínima objetividade; tudo o que fazem é obscurecer. 8. A realidade é que os assassinatos pessoais tem valido muito pouco no decorrer da história, mas me agradaría que se fechem suas empresas televisivas e radiodifusoras para logo depois voltar a abrií-las, mas com um código de ética no qual a objetividade, a pluralidade, a informação séria, joguem o papel mais importante. Quem sabe quando tivermos televisões e rádios, ainda que seja como TV UNAM, Canal Onze, Canal 22, com noticiários que sejam objetivos, reflexivos e críticos, se possa “defender com minha vida o direito a dizê-lo”, como afirmava Voltaire. Mas ninguém poderá aceitar defender a seus inimigos, tal como os meios informativos comerciais, que dedicam muitas horas do dia a caluniar os marginalizados ou, simplesmente, silenciam sobre a atuação política ou cultural da esquerda. Por isso há que se dizer: quanto cinismo se esconde na famosa frase voltairiana! Pode-se ser tolerante com os que pensam diferente, mas não com os que manipulam e deturpam.