"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Detalhes de depoimento que envolve Uribe com massacre

“Alguns mataram com um tiro na nuca, de bruço, na praça do povo; também juraram um jovem de 14 anos,...”
GONZALO GUILLEN y GERARDO REYES


El Nuevo Herald

CORTESIA COLPRENSA
Francisco Enrique Villalba Hernández

O ex paramilitar colombiano Francisco Enrique Villalba Hernández declarou na Promotoria Geral da Colômbia em fevereiro passado que o presidente Álvaro Uribe e seu irmão Santiago participaram no planejamento de um massacre no norte do departamento de Antioquia, segundo uma cópia do depoimento obtido por El Nuevo Herald.

Parte da confissão de Cillalba, cuja credibilidade Uribe atacou esta semana, foi utilizada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para condenar a Colômbia por esse massacre, que ocorreu no caserío El Aro em 1997, segundo uma extensa sentença desse tribunal há dois anos.

Villalba não comprometeu o mandante nem a seu irmão nos depoimentos ante a CIDH, mas seu relato foi parte das provas que serviram ao tribunal para concluir que na matança de El Aro agentes da força pública colaboraram com grupos das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) para assassinar a sangue frio pelo menos 15 camponeses “indefesos, de outros tirando seus bens e gerando terror e despejo”, segundo a sentença, de 160 páginas.

A mesma sentença cita um depoimento no sentido de que o governo do departamento de Antioquia, então a cargo do hoje presidente Uribe, se negou a prestar proteção aos habitantes de El Aro ao saber que o ataque paramilitar era iminente.

“Ante essa situação, como dois meses antes da invasão, a Junta de Ação Comunal de El Aro pediu proteção ao governo [de Antioquia], a qual foi outorgada”, expressa a sentença da CDIH.

Até agora só se conheciam indireta e parcialmente alguns aspectos da declaração de Villalba ante a promotoria colombiana revelados por Uribe surpreendentemente durante uma entrevista de rádio essa semana para repudiar partes do depoimento do ex-paramilitar.

Mas El Nuevo Herald obteve uma cópia completa da declaração que, com efeito, contém reiterados depoimentos de Villalba de que Uribe, quando era governador do departamento de Antioquia, se rodeava com os chefes máximos da AUC e deu carta branca para levar a cabo o massacre.

“[Álvaro Uribe nos disse] que o que tivesse que fazer que fizéssemos”, declarou Villalba ao descrever uma reunião que participaram líderes da AUC, militares e os irmãos Álvaro e Santiago Uribe.

A declaração de 19 páginas de Villaba descreve com nome e detalhes uma estreita relação de cumplicidade e camaradagem entre autoridades militares e policiais com os cabeças dos esquadrões da morte.

Villalba denunciou a morte de funcionários da promotoria que investigavam o massacre, o assassinato de ativistas de direitos humanos que colaboravam com as autoridades no esclarecimento do que fizeram e três atentados, um deles com ciauro que colocaram em uma bebida de malte.

A declaração contém pelo menos duas inconsistências: que um dos militares que Villalba mencionou como participante em uma reunião no final de 1997 tinha falecido em abril desse ano e que a data do massacre não foi em novembro, como ele sustentou, mas em outubro desse ano.

Quando os paramilitares chegaram a El Aro, um casario de uns 500 habitantes numa zona montanhosa do norte do departamento de Antioquia, levavam uma lista de suas vítimas, relatou Villalba ao diário El Colombiano de Medellín. Alguns mataram com um tiro na nuca, de bruços, na praça do povoado; também acabaram com um jovem de 14 anos, mas no caso do dono da venda, Marco Aurelio Areiza Osorio, um comerciante de 64 anos, apreciado na região por sua generosidade, os paramilitares se maltrataram com uma espantosa frieza.

Segundo os testemunhos obtidos por Human Right Watch e jornalistas colombianos, ordenaram ao comerciante que preparasse um cozido, e depois que o serviu o amarraram a uma laranjeira e, vivo, arrancaram seu coração, em seguida os olhos e depois os testículos.

Algumas crianças que se esconderam perto da praça viram tudo “Ele mugia alto e logo gritava como uma criança”, disse um dos menores aos jornalistas Carlos Giraldo e Miguel Garrido, do El Colombiano.

Os paramilitares entraram em El Aro no sábado, 25 de outubro, um dia antes das eleições municipais. A tomada do povoado durou uns quatro dias, durante os quais uns 120 paramilitares com uniformes das AUC assassinaram camponeses, violentaram mulheres, saquearam comércios e roubaram umas 900 cabeças de gado, segundo documentos judiciais. Villalba, de 36 anos, confessou que havia participado deste e outros massacres das AUC.

Três meses depois dos feitos de El Aro, se apresentou ante as autoridades judiciais porque estava cansado de tantas mortes e haviam planejado atentados com os quais não concordava, disse. Hoje cumpre uma pena de 33 anos de prisão na penitenciária La Picota de Bogotá.

Três meses depois dos feitos de El Aro, se apresentou ante as autoridades judiciais porque estava cansado de tantas mortes e haviam planejado atentados com os quais não concordava, disse. Hoje cumpre uma pena de 33 anos de prisão na penitenciária La Picota de Bogotá.

Segundo suas declarações a polícia, o Exército e as AUC planejaram a tomada de El Aro para castigar os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e resgatar uns oito pecuaristas e comerciantes que os rebeldes teriam seqüestrado.

Villalba assegurou que três dias antes da incursão em El Aro houve uma reunião na propriedade de um fazendeiro – que não identificou – em um município de La Caucana, no noroeste de Antioquia. Ao encontro assistiram além de autoridades militares da IV Brigada e da polícia, cabeças das AUC e os irmãos Uribe, acrescentou.

“Esteve também Santiago Uribe e Álvaro Uribe, que era governador quando ocorreu”, disse a testemunha.

À pergunta se conhecia anteriormente os Uribe, Villalba respondeu que no caso de Álvaro não, mas que Santiago “sempre foi conhecido na organização porque tem um bloco de Autodefesa em Santa Rosa de Osos”.

Villalba afirmou que se inteirou de quem era Uribe depois do massacre quando o então governador se apresentou na mesma fazenda para parabenizá-los pelo êxito na operação.
“Soube que era Álvaro Uribe porque se apresentou, falou conosco e disse que a operação havia sido um êxito, que os seqüestrados haviam saído sãos e salvos”, disse Villalba. “Ali chegou com um segurança, de sobrenome Serna”, acrescentou.

Os oito seqüestrados foram libertados.

Esta semana Uribe assegurou que jamais esteve em La Caucana.

Villalba declarou à promotoria que anos depois viu novamente na escolta, mas dessa vez como guarda do Instituto Nacional Penitenciário (INPEC), na prisão de La Picota de Bogotá. Serna o reconheceu e o cumprimentou, acrescentou.

Na reunião prévia ao massacre estiveram presentes os cabeças das AUC Carlos Castaño, então chefe máximo da organização e que foi assassinado; Salvatore Mancuso, segundo no mando, e outros que identificou com os apelidos de “Noventa”, “Cobra”, o Negro Ricardo e Junior.

Também compareceu um homem a quem identificou, vacilando, como José Ardila, das organizações de autodefesas camponesas legalizadas pelo governo e conhecidas como as Convivir.

Ao referir se ao paradeiro de Ardila, Villalba disse: “[Ardila] estava declarando contra Álvaro Uribe, o tiraram da prisão, estava condenado a 60 anos e desapareceram com ele, não sei onde estará”.

Mancuso foi condenado pela justiça colombiana a 40 anos de prisão pelo massacre de El Aro e La Granja. Neste último foram torturadas e assassinadas cinco pessoas em 11 de julho de 1996.

Segundo o declarante, Álvaro Uribe “foi convidado por Carlos Castaño” para a reunião prévia ao massacre e logo apresentado por Mancuso ante os presentes.

Nesta reunião Uribe falou em público, detalhou Villalba. “Álvaro Uribe fazia recomendações, que os seqüestrados todos saíssem salvos e que fizéssemos o que tivesse que ser feito”, disse a testemunha.

Quanto a fazenda onde se realizou as reuniões, o ex-paramilitar assinalou que “a esquerda há uns currais e uma cocheira, esta fazenda não tinha nome todavia existe, nós chegamos um dia antes [da reunião], com meus 22 homens”.

Villalba declarou na frente de Carlos A. Camargo Hernández, nono promotor especializado da Unidade Nacional de Promotoria de Direitos Humanos e de Direito Internacional Humanitário, que o encontro “foi de dia, começou por volta das 10 da manhã e terminou [às] 3 da tarde, depois que almoçaram e tudo”.

Segundo a testemunha, Mancuso e Castaño chegaram “em um helicóptero cinza, pequeno, [que] baixou na fazenda diretamente” e na área “havíamos (sic) por volta de 100 homens [do esquadrão da morte] com os do povoado e os 22 que eu tinha'.

Quando o promotor perguntou se os esquadrões da morte receberam ajuda da força pública, Villalba declarou: “Sim doutor, da IV Brigada [do Exército]. O digo porque antes do massacre houve uma reunião; houveram (sic) retiradas de tropas da reserva [do controle militar na área], suspendidas as reservas de tropa na estrada”.

Villalba disse ao promotor que anteriormente as suas declarações de fevereiro deste ano haviam entregado a justiça detalhes deste e outros massacres a funcionário do Corpo Técnico de Investigações da Promotoria Geral de Medellín.

Também declarou sobre a participação dos irmãos Uribe, da qual ficaram gravações em fitas, indicou.

Mas “as gravações acabaram nas mãos de Mancuso”, explicou Villalba, e os funcionários do CTI foram assassinados em setembro de 1999,

“A eles mataram em Medellín, os mataram gente das bandas de La Terraza e mandaram que eu me calasse”, disse.

La Terraza é uma enorme agência de assassinos de aluguel de Medellín que tem operado debaixo da direção de poderosos narcotraficantes e paramilitares.

Sobre a reunião que participaram os irmãos Uribe Vélez, disse Villalba, também falou várias vezes com o diretor do CTI de Medellín, “um senhor de óculos, jovem, e comentei [da reunião] de La Caucana e não disse nada, ficou calado”.

A testemunha assegurou que também falou sobre este tema com María Teresa Gallo, promotora especializada de terrorismo e direitos humanos.

“Prometeu-me muitas coisas, como trocar de identidade, tirar-me da cadeia e mandar-me para outro país”, disse.

Em janeiro de 2007 Villalba foi transferido de Medellín para declarar contra o militar Juan Manuel Grajales por outro massacre cometido por paramilitares em novembro de 1997 em La Balsita, município de Dabeiba, Antioquia.

Nessa oportunidade foram assassinadas 15 pessoas e entre os responsáveis, assegura, “também estava o irmão de Álvaro Uribe, Santiago, que emprestou cerca de 20 capangas para isso”.

Villalba tem uma segunda condenação de 37 anos de prisão pelo massacre de La Balsita. Os capangas que foram emprestados pelo irmão do presidente Uribe, pertenciam ao bando paramilitar Los Doce Apóstoles, que segundo várias versões judiciais era comandada diretamente por Santiago Uribe.

Villalba afirmou que em 13 de fevereiro de 1998 decidiu entregar se voluntariamente à Promotoria, pois militares na ativa, narcotraficantes e paramilitares planejavam vários crimes com quem não estava de acordo.

Os planos se cumpriram. Segundo a testemunha, este grupo assassinou o periodista e humorista Jaime Garzón, o advogado Jaime Umaña e o defensor de direitos humanos Jesús Maria Valle Jaramillo.

Valle tinha advertido desde 1996 que narcotraficantes, militares e esquadrões da morte se dispunham a cometer o massacre de El Aro. Em resposta, o hoje presidente Uribe, então governador de Antioquia, acusou publicamente a Valle de ser inimigo das forças armadas e o exército o processou por calúnia.

Logo foi assassinado em Medellín.

Valle, disse Villalba, “o matou a os próximos de La Terraza e a mim mandaram que não falasse [...] mandaram matá-lo pelas investigações que levava sobre o massacre de Aro. Era um dos que me ajudava porque soube quando eu me entreguei e iam me matar para que não dissesse nada”.

O promotor que estava encarregado da investigação de Valle teve que sair do país, disse.

Além do presidente Uribe e seu irmão Santiago, nos processos judiciais figuram o ex general Carlos Alberto Ospina – comandante das forças armadas durante o primeiro governo de Uribe--, quem no momento do ocorrido era comandante da Quarta Brigada de Exército, acantonada em Medellín, e o general de Exército Alfonso Manosalva Florez, que segundo testemunhas como Villalba e Mancuso entregaram aos esquadrões da morte a lista de pessoas que deveriam matar em La Granja e El Aro.

O presidente Uribe sinalizou como uma das inconsistências da declaração de Villalba que a afirmação que Manosalva estava presente um uma reunião em novembro de 1997 com líderes paramilitares quando esse havia falecido em abril desse ano.

Villalva relatou que tinha sido vítima de três atentados. O primeiro ocorreu na prisão da cidade de Palmira depois de ter falado com o promotor Gallo.

“Um muchacho das autodefesas, Edison Parra, [condenado por homicídio em Llano, me deu uma punhalada no lado esquerdo, na altura do peito”.


Dois meses depois, “no mesmo pátio fizeram outro atentado com cianureto em uma Poný Malta [marca de bebida de malte). Foi Edwin Tirado, também da AUC, que agora está na prisão de Montería, ele era um ex trabalhador de Mancuso”.

“Os atentados atribuíram a Mancuso, nesses dias eu estava declarando contra a Força Pública”, acrescentou.