"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

OAXACA EM LUTA REQUER APOIO E COBERTURA NACIONAL

Pedro Echeverría V.

1. Com o apoio de bloqueios efetuados na capital oaxaqueña, a 22ª Seção do SNTE iniciou na última sexta-feira (16) uma série de mobilizações em todo o Estado, em acordo com a Assembléia Estatal, para pedir o início das discussões com a Secretaria de Governo (SG).

As atividades em Oaxaca começaram com um bloqueio nas proximidades de um cruzamento na parte oeste da capital, às 8h30, com centenas professores que ali aportaram, assim como um caminhão que colocaram interceptando as ruas. Na zona sul outro contingente de professores iniciou outro bloqueio também em um cruzamento chamado Cinco Senhores, perto da Ciudad Universitaria pouco antes das 9 horas; o caos intensificou-se em toda a região. No Aeroporto Internacional desta cidade os mestres também realizaram uma concentração e um bloqueio parcial do cruzamento diante desse prédio.

2. Mesmo que aparentemente as lutas dos oaxaqueños tenha um aspecto regionalista, as reivindicações da 22ª Seção (CNTE) vão além das questões específicas da categoria dos professores, isto é, mesmo que Oaxaca pareça um estado isolado do centro e da sociedade capitalista nacional, as demandas pelas quais eles lutaram, pelo menos a partir de maio de 2006, têm claramente alcance nacional. Eles não reduzem suas demandas a aumentos salariais, auxílios ou “privilégios” do magistério (tal como a imprensa propaga), mas lutam por uma educação democrática, igualitária e a serviço do povo, exigindo: livros, bolsas de estudos, cafés da manhã escolares, trabalho e bons salários para os pais de família, liberdade para manifestar-se e a renúncia do governador opressor. Mas principalmente exigem, da Secretaria de Governo, a instalação de uma mesa de diálogo para discutir os problemas e buscar soluções.

3. Entretanto, há problemas graves como os que foram presos injustamente pelas suas lutas. Como Abraham Ramírez e companheiros, na prisão de Pochutla, Oaxaca. Eles escreveram: “Hoje, 15 de janeiro de 2009, cumprimos 4 anos de seqüestro pelas mãos daqueles que, amparados pelas leis, seqüestram, raptam, matam a nossos irmãos que se opõem aos projetos do assassino Ulises Ruiz Ortiz (URO) e seus cães de caça que reprimem a lutadores sociais cujo único delito é reivindicar os seus direitos porque, como sabem, nossos corações rebeldes jamais ficarão calados perante as injustiças. Nem correntes, nem cadeados, nem muros poderão calar nossas vozes. “Povo: se ficamos submissos a esta situação os nossos filhos pagarão as conseqüências. Nascemos livres. Amamos a liberdade. E por ver tantos homens escravizados sem correntes não daremos trégua em nossa luta”.

4. A verdade é que em Oaxaca, Guerrero e Chiapas a luta de classes não pode esconder-se porque está “à flor de pele”. A miséria não se esconde e os negócios em benefício de multimilionários estão à vista. Enquanto que, por publicações e experiências pessoais, pode-se ver que há alguns estados onde as lutas não são profundas, não chegam à contestação radical, e os governos reprimem pouco (como ocorre em Yucatán, Campeche, talvez em Colima, Nayari, Aguascalientes, Guanajuato onde se sabe muito pouco sobre lutas e repressões), nos três estados do sul/sudeste acima mencionados as lutas dos trabalhadores são tremendas e a repressão governamental também é brutal e aberta. Também por isso as forças do exército e da polícia estão distribuídas de forma desigual.

5. Não devemos esquecer que Oaxaca, Guerrero e Chiapas, estados da República onde a “civilização ocidental” ou capitalista não pôde penetrar com a liberdade e ferocidade com que o fez no resto do país, foram ao mesmo tempo às localidades menos atendidas pelos diferentes governos da nação. Foram vítimas da enorme exploração de seus recursos naturais e humanos, mas os investimentos em agricultura, pesca e outras fontes produtivas que tanto necessitam seus habitantes foram mínimos e absurdamente insuficientes. Por esse motivo esses povos indígenas e camponeses, junto com seus professores, sempre hão estarão mobilizados e em luta defendendo-se dos fazendeiros, dos saqueadores de florestas, petróleo e água. Nesses estados, os governos só se preocuparam em realizar projetos em benefício dos grandes exploradores.

6. Oaxaca, cuja história de lutas camponesas e de profissionais em educação ocorre nos últimos 40 anos contra governos do PRI, que se organizaram contra o povo, começou novamente a levantar-se. Por sua vez o povo de Guerrero viu nascer várias guerrilhas. Entre as mais conhecidas estiveram a de Jenaro Vázquez, Lucio Cabañas e o EPR; mas também há lutas camponesas contra saques de terras e corrupção eleitoral. Em Chiapas são os indígenas que batalham há várias décadas contra fazendeiros e seus capatazes; mas a região ganhou muito prestígio a partir do levantamento do EZLN em 1994. Os três estados, quase totalmente agrários, foram dominados há oito décadas pelo PRI, mesmo que nos últimos anos a fração mais direitista do PRD tenha assumido os governos de Guerrero e Chiapas, governando-os como se fossem priístas.

7. Nas batalhas que os professores da CNTE de Oaxaca e a APPO fizeram no segundo semestre de 2006, essencialmente contra o governo do Estado, nenhuma organização forte de esquerda e centro-esquerda lhes deu apoio direto. As organizações fortes da época eram o PRD, que estava em campanha e pós-campanha presidencial; o EZLN que estava em A Outra Campanha, e os sindicatos do Diálogo Nacional. A todos eles pareceu importar participar de uma falácia que participar da batalha mais importante da época. Por outro lado as TVs (Televisa, TV Azteca), as rádios (Radio Fórmula e demais), a imprensa quase que inteira se dedicou a caluniar o movimento, assim como a lançar acusações e denúncias sem fundamento contra seus dirigentes. A realidade é que os oaxaqueños se viram quase sós. Até mesmo os deputados do PRD de Oaxaca votaram sempre junto aos do PRI e do PAN.

8. Três anos depois estão a ponto de iniciarem-se novamente as campanhas eleitorais. O PRI parece ter todas as possibilidades de ganhar amplamente as eleições, mesmo que, por força das regras partidárias, os priístas tenham que negociar com o PRD e o PAN. Apesar do governador de Oaxaca ser um repressor assassino, o PRI e o PAN têm lhe apoiado abertamente e é lógico que o apoiarão até o fim do mandato. Mas os oaxaqueños, apesar de saberem que agora é mais difícil derrubá-lo, não deixarão de lutar contra esse governo porque o consideram neofascista. Os oaxaqueños continuarão sendo uma importante vanguarda dos movimentos de libertação dos trabalhadores. E mesmo que não se obtenham triunfos acachapantes e concretos, o importante é que a consciência do povo cresce e cria raízes e esse exemplo se estende a todo o país. Façamos o máximo para manifestar o nosso apoio direto.