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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Intervenção militar dos EUA: mais guerras, melhores negócios

O coronel-aviador da Força Aérea Brasileira, Sued Castro Lima, avaliou a intervenção militar estadunidense na América Latina. As ações dos Estados Unidos serão intensificadas com a instalação, agora em setembro, de sete bases militares na Colômbia. Para Sued, "os sucessivos conflitos bélicos em que o país tem se envolvido confirmam a avaliação de que 'quanto mais guerras, melhores negócios'"

Sued Lima é graduado em Engenharia Civil e membro fundador do Observatório das Nacionalidades, entidade de pesquisa ligada à UFC (Universidade Federal do Ceará, estado na região Nordeste do Brasil) e à UECE (Universidade Estadual do Ceará). Já participou de diversas missões militares nos EUA, Israel, Argentina, Chile e Rússia. Deixou o serviço ativo em 1998.

Confira a primeira parte (de duas) da entrevista que o coronel concedeu à agência Adital.

Adital - Como o senhor avalia a atual intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina?

Sued Castro Lima - Avalio essas intervenções como coerentes com todo o histórico de ações militares e políticas que têm caracterizado a trajetória dos EUA nas relações internacionais, desde o século XIX. São cerca de três dezenas de intervenções armadas e incontáveis ações golpistas para destituir ou tentar destituir governos de países latino-americanos que eventualmente não atendam os interesses imperiais da grande potência. Cuba é a campeã de intervenções armadas sofridas, com pelo menos seis casos, inclusive após a vitória da revolução de Fidel. Refiro-me à tentativa de invasão da ilha, no ataque à Baia dos Porcos, em 1961. Algumas dessas intervenções redundaram em anexação de extensas regiões, como no caso do México, em 1846, que perdeu metade de seu território, a parte mais rica, hoje os Estados da Califórnia, Novo México e Texas.

Adital - Na sua avaliação, essa intervenção militar está relacionada a aspectos como intervenção econômica e política? De que modo?

Sued Castro Lima - Os governos norte-americanos sempre atuaram, em maior ou menor escala, para atender os interesses do poder econômico do país. Em 1961, o presidente Dwight Eisenhower, general e herói de guerra, reconheceu publicamente que o chamado complexo militar-industrial influenciava decididamente nas políticas interna e externa dos Estados Unidos.

Os sucessivos conflitos bélicos em que o país tem se envolvido confirmam a avaliação de que "quanto mais guerras, melhores negócios". São guerras que têm três sentidos destacados: testar novos tipos de armamentos, fazer o marketing desses produtos e impor os interesses globais da grande potência imperial.

Há uma declaração de um general dos marines (fuzileiros navais), Smedley D. Butler, feita em tom de ironia, já em 1935, que responde bem à pergunta: "Nos 33 anos que passei no serviço ativo, atuei na maioria das vezes como um gangster a serviço do capitalismo. "Ajudei" a tornar o México um lugar seguro para os interesses petrolíferos norte-americanos, "ajudei" a tornar o Haiti e Cuba um lugar decente para os rapazes do National City Bank recolherem rendas, "ajudei" a purificar a Nicarágua para a casa bancária dos Irmãos Brown, "limpei" a República Dominicana para os interesses açucareiros e "ajudei" a endireitar Honduras para as companhias norte-americanas de frutas."

Adital - Algo mudou na política intervencionista dos EUA a partir da posse de Barack Obama?

Sued Castro Lima - Até o momento, não está visível um novo rumo na política externa dos EUA. O governo Obama pouco tem feito de efetivo para conter o genocídio do povo palestino pelo Estado de Israel, reproduzindo o comportamento dos governos republicanos, em que os presidentes falavam muita coisa e pouco faziam; amplia a guerra no Afeganistão; mantém tropas no Iraque; desenvolve retórica intervencionista contra a Coreia do Norte e o Iran; não atua firmemente contra o golpe militar que depôs o presidente hondurenho Manuel Zelaya; e amplia sua presença militar na América do Sul, com as bases na Colômbia e no Peru.Deve-se considerar, em verdade, que a margem de manobra de qualquer governo progressista norte-americano é bastante estreita em face do poderio da indústria de armamento, e correlatas, e dos conglomerados financeiros, que impõem seus interesses com firmeza e despudor.

Adital - O que representa, para a América Latina, a instalação das bases militares na Colômbia? E para o Brasil?

Sued Castro Lima - Segundo o pensador francês Michel Foucault, um dos instrumentos do exercício do poder resulta da presença física do dominador. Através dessa presença, pode ostentar a força destruidora que lhe é própria, intimidando o mais fraco.

Já o estrategista britânico Liddell Hart, que viveu no século passado, considerava que um dos maiores objetivos estratégicos do comandante militar é o de ter acesso prévio ao mais amplo grau de conhecimento sobre as forças do virtual inimigo, como ocupam o terreno, como pensam, quem são seu chefes, como se preparam, enfim, avaliar seus pontos fortes e suas vulnerabilidades. A presença militar no território de potencial conflito armado ajuda a resolver bem tais questões, pois possibilita a observação e o acompanhamento dos acontecimentos que interessam ao potencial invasor, abrindo-lhe acesso a informações cruciais para o desencadeamento de seus eventuais propósitos de intervenção militar.A concessão do governo de Uribe à instalação em território colombiano de sete bases militares operadas por milhares de soldados norte-americanos tem duplo efeito: fere a soberania de seu país e mina a União Sul-americana de Nações (Unasul), com o seu Conselho de Defesa, ainda embrionários, filhos diletos da política externa e da estratégia de defesa regional desenvolvidas pelo governo Lula.