"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 5 de setembro de 2009

O eixo do mal está em outro lugar


O controle norteamericano sobre Uribe vai mais além do que um dia puderam ter com Noriega no Panamá.

Por: Juan Carlos Monedero *
Fonte: http://www.telesurtv.net/noticias/opinion/



Uma qualidade estranha da existência de presidentes como Álvaro Uribe é que permite tomar, sem margem de erro, o pulso moral da política internacional.

Sua notada atividade, incluindo bombardeios a países vizinhos, e a trincheira que cava com suas políticas contra a dissidência – assassinato de civis pelo Exército e sua apresentação como guerrilheiros, o fustigamento mortal de comunidades indígenas, ou o fato de que 70% dos sindicalistas assassinados no mundo sejam colombianos – poderia ajudar a pensar que o eixo do mal está em outro lugar, diferente ao que normalmente se refere. Mas a política internacional é o reino hobbesiano por excelência.

No dinâmico cenário latinoamericano, a presença anacrônica de um governo de direita dura e plenamente alinhado com a política mais rançosa EUA relembra com certo exagero aqueles ventos antigos da política de contenção, segundo a qual não há outro cenário de relações internacionais que aquele que marca o princípio de comigo ou contra mim. Já o dizia Roosevelt sobre Somoza e ninguém foi contra: “É um filho de uma cadela, mas é o nosso filho de cadela”. Com uma lógica de zíper geográfico, a Honduras de Micheletti faz igualmente a sua parte.


Os golpes não se avalizam

Com o declínio do PAN mexicano, Uribe se converteu na peça chave da estratégia norteamericana, empenhada em remendar os rasgos neoconservadores de Bush na sua primeira tentativa messiânica de evangelizar os judeus ajudando-os previamente a triturar os árabes. Assim, os golpes se condenam, mas se avalizam; a IV Frota volta a operar; instalam-se bases militares; a política antidrogas se monopoliza entre o maior produtor e o maior consumidor; e se estigmatiza qualquer política alternativa que sai desse esquema.

A política do pátio dos fundos exige governantes algo mais do que amáveis com os interesses norteamericanos. Num documento desclassificado de setembro de 1991, o DEA norteamericano assinala que Uribe foi um importante ator do cartel de Medellín, amigo pessoal de Pablo Escobar e responsável na alta política colombiana pelos contatos com o narcotráfico e os paramilitares.

Igualmente assinala-se que o assassinato do seu pai – frequentemente apresentado pelo próprio Uribe como argumento para seu compromisso contra a guerrilha – foi fruto de vingança interna das lutas entre clãs do narcotráfico.


Tantas reeleições quanto forem necessárias

Com semelhante histórico, é evidente que o controle norteamericano sobre Uribe vai para além, inclusive, do que um dia puderam ter com Noriega no Panamá. Como se viu na reunião da Unasul em Bariloche, corresponde a Uribe, na sua estrita solidão, defender os interesses dos EUA na região. Bases militares estrangeiras incluídas. Isso, igualmente, dá muitas pistas das razões de Uribe para conseguir se manter na Presidência da Colômbia. Um seguro jurídico para fora e para dentro. O que o obriga a tantas reeleições quanto forem necessárias.

Não deixa de chamar a atenção que a reeleição de Chávez, motivada pela incapacidade da revolução bolivariana de articular outras lideranças capazes de aprofundar os resultados do processo, tenha sido estigmatizada à altura do golpe constitucional de Hitler em 1933, enquanto que a reeleição de Uribe apresenta-se como um honrado exercício democrático. De fato, e como anunciou a oposição, o debate sobre das bondades ou maldades democráticas da reeleição nem sequer foi mencionado. A discussão era outra.

A Câmara de Representantes colombiana, onde quase a metade dos congressistas uribistas são investigados, processados ou sob suspeita de vínculos com o narcotráfico, o paramilitarismo ou corrupção, acaba de aprovar um projeto de lei que permite a Uribe um terceiro mandato. Como em tantas ocasiões, a democracia colombiana tem uma última salvaguarda na Corte Constitucional.

Mas a política internacional não costuma se deter na gramática jurídica. E ainda menos quando o trio Chávez, Morales e Correa, pagam a conta de tudo que é realmente preocupante. Não esqueçamos: o relevante é que Uribe é “um dos nossos”.


* Juan Carlos Monedero é professor de ciência política na Universidade Complutense (Madrid).