A quimera do capitalismo "amável"
Publicado por Unidad y Resistencia na segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
TEODORO SANTANA
Imagine
que, por uma desgraça, você sofra de uma grave enfermidade. E que então
um médico lhe explique, claramente, que você necessita de uma cirurgia e
de quimioterapia. Outro médico lhe diz que bastam uns calmantes e
prescreve que você continue com sua “vida normal”. O primeiro e sua
terapia serão, sem dúvida, mais desagradáveis para você, porém o
curarão. O segundo lhe será apresentado com “melhor estampa”, mas o
levará para a tumba.
Diante
da brutal crise do capitalismo – e não dos capitalistas – e diante das
ferozes políticas de cortes e ajustes, é mais sedutora a ideia de
“voltar à normalidade”, aos “bons velhos tempos”, que a implantação de
medidas radicais, ações difíceis e coletivas que cortem o mal pela raiz.
Ao final das contas, bate em todos nós a esperança de que aconteça
algo, de que venha alguém, que solucione as coisas e reverta a nossa
situação para uma mais suportável.
Nesses
momentos, sempre aparecem os curandeiros, os “mágicos”, os que oferecem
soluções que não exijam sacrifícios, mas imposições de mãos, de ervas
mágicas, de poções milagrosas. O que for para não ter de recorrer á
cirurgia.
Daí
a proliferação daqueles que nos oferecem soluções benignas, facilmente
aceitáveis, à crise capitalista. Bastaria, segundo estes simpáticos
taumaturgos, voltar ao “Estado de Bem-estar”, ao “Estado [capitalista]
Democrático e Social de Direito”, quintessência de todas as bondades.
Com alguns comprimidos fiscais e uns retoques na legislação trabalhista,
o problema está solucionado. Tudo isso ingerido com infusões puramente
eleitoreiras, porque, em sua cabeça, não cabe outra forma de administrar
a solução que não seja a estritamente “legal”.
Para
não ganhar poderosos inimigos e para não ter que brigar com o “senso
comum” burguês, não ocorre aos nossos moderadíssimos ilusionistas
iniciarem um tratamento que possa atacar a essência do capitalismo.
Nacionalização dos bancos? Não, por Deus! Sair da trama imperialista
UE-OTAN-euro? Deixe de radicalismos! Descolonização das Canárias? Nem
que não fossem europeus!
O
que estes aprendizes de bruxos querem não é acabar com o capitalismo,
só retrocedê-lo a sua forma mais “amável”. Por isso falam de um programa
de “mínimos” (isto é, que não perturbe ninguém). E claro, o mínimo é
não tocar a dominação capitalista. Não é como se fossem uns “vermelhos
de merda”.
O problema é que não enxergam – ou não querem enxergar – que o sistema capitalista, que entrou em uma fase histórica de quebra
de suas potências imperialistas centrais, não pode voltar a ser
“amável”, ainda que queira. Os cortes e os ajustes não são fruto do
capricho ou da maldade intrínseca dos grandes capitalistas e de seus
partidos lacaios, os quais atingiram o limite dos trabalhadores.
O
que ocorre é que, simplesmente, tendo o capitalismo chegado a este
ponto, é impossível que ele sobreviva a não ser aumentando o máximo
possível – e até o impossível – a taxa de mais valia. Não pode permitir
que se estanque nem que se retroceda. E para ele, a única coisa a ser
feita é tirar o dinheiro de nossos salários, reduzindo tanto os diretos
(o que nos pagam pelas folhas de pagamento) como os indiretos (saúde,
educação, auxílio desemprego, pensões, serviços sociais, etc).
Por
mais que falemos de que, em vez de ajuste, se faça “investimentos para o
crescimento”, tal coisa é impossível se não se dispõe de capital. Já
quiseram os próprios capitalistas poder entrar em uma fase de
crescimento. Porém, ela não é possível se só se dispõe do capital
público, isto é, da parte do capital proveniente dos impostos – por mais
“justos” ou “progressivos” que sejam -: é preciso dispor de todo o capital. E isso significa que é preciso expropriar todo seu capital (e de seus meios de produção) aos capitalistas.
Claro
que estes – e seus servidores – não vão consentir pacificamente. Como
ocorreu sempre na história, vão atirar com toda a artilharia –
literalmente – contra quem pretenda tal “atentado” contra seus
sacrossantos “direitos”, contra suas leis, contra sua Constituição,
contra seu “Estado de Direito”.
E
nossos modernos feiticeiros reformistas não estão conseguindo resolver a
tremenda bagunça. Por Deus, se só querem ganhar umas eleições, não se
metam em uma guerra! Programa de “mínimos”, por favor, que estes
ferrados comunistas – “radicais”, “dogmáticos”, “antigos” – nos querem
meter em apuros!
Nem
um maldito caso faria a estes eternos fracassados curandeiros do
capitalismo, se não fosse porque sua “medicina”, levantar falsas
expectativas entre a classe operária e os setores populares,
afastando-os da verdadeira solução. Por fim, a tendência humana é a de
preferir saídas fáceis, ainda que sejam ilusórias, a soluções difíceis,
complicadas e dramáticas.
“Desgraçadamente, nós, / que queríamos preparar o caminho o para a amabilidade / não pudemos ser amáveis”,
escrevia Bertolt Brecht. Sim, todos nós gostaríamos de um caminho
afável. Porém, temos o doloroso dever de explicar ao paciente, às nossas
irmãs e irmãos, às trabalhadoras e aos trabalhadores, que não existem
soluções fáceis. E também o dever inevitável de prepará-los e
organizá-los para a revolução.
Fonte: [http://teodorosantana. blogspot.com/]
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)