Debate e mobilização popular na batalha pela paz
Por Jaime Caycedo
Turriago
Fonte:www.pacocol.org
Após reiniciar as sessões de diálogo Governo e
FARC em Havana neste novo ano, algumas conclusões preliminares podem
ser tiradas. O processo avançou e mostrou sua viabilidade, ao
contrário das profecias da ultradireita e do poder dos meios de
comunicação. A seriedade dos delineamentos e a prudência das
declarações mostram as diferenças, mas reafirmam a confiança no
caminho escolhido. Os críticos de escritórios gastaram seus
argumentos e existe uma expectativa internacional que expressa
simpatia pelo sucesso.
Na contramão do silêncio dos meios de
comunicação, as 19 audiências adiantadas, num primeiro momento,
pelas Comissões de Paz do Senado e da Câmara; o encontro Povos
Construindo Paz e a realização bem sucedida do Fórum Política de
Desenvolvimento Rural com enfoque territorial, mostram que em amplas
camadas da sociedade preocupadas diretamente com o primeiro ponto da
Agenda e mais além delas, não existe indiferença e sim disposição
de participar propositadamente. O conjunto de propostas não é
apenas agregado à legitimidade do processo. É indicação clara da
necessidade de mudanças de fundo que os órgãos oficiais não podem
continuar ignorando.
Boa parte do que se fez está em conflito com a
atitude limitada do governo. Atua este com uma avaliação puramente
instrumental, com a idéia de que “tudo mude para que continue
sendo igual”. Pensa em ganho eleitoral dos resultados do processo e
isso no curtíssimo prazo de meses que separa as conversações
atuais da campanha pela reeleição de Santos. Não assume com
realismo a complexidade da tarefa empreendida. Prevê que pode
alcançar a desmobilização do adversário em troca de um punhado de
promessas, no limite das questionadas e corruptas instituições
vigentes. Ou que, de repente, um operativo decisivo da guerra, no
meio do diálogo, imponha a força por cima da razão. Por enquanto,
continua atuando apenas com sua visão de classe, sem uma reflexão
sincera diante do país sobre a paz como um problema nacional e
social de importância histórica. O desprezo pelo Preâmbulo do
Acordo geral como “mera presunção ideológica” deveria ser
substituída por uma análise mais compreensiva da realidade
colombiana, no momento em que se sentem os golpes da crise
capitalista mundial.
Devemos dizer com toda responsabilidade: só a
mobilização popular pode fazer cair por terra as ilusões
governamentais de uma paz sem mudanças democráticas que ataquem as
causas profundas da guerra. O enorme descontentamento popular
expressa o movimento real das forças sociais em fase de despertar.
Por outro lado, os debates com presença popular começaram a
desenhar um novo modelo econômico e social rural, compatível com a
paz e com a democratização do Estado e da Sociedade. Esboçam uma
favorável plataforma de luta pela reforma agrária e a
democratização econômica contra a terrível desigualdade que
sustenta e reproduz o modelo neoliberal dominante.
Só a mobilização popular e o amplo movimento de
simpatia e apoio à solução política pode impedir a ruptura do
diálogo por causa da arrogância guerreirista ou o ganho eleitoral.
Todas as forças da democracia, os setores conscientes das forças
militares, as diversas vertentes da insurgência, a intelectualidade
e da cultura, tem a obrigação de atuar de maneira pro ativa para
que o diálogo de paz culmine em êxito. O debate aberto deve
continuar como fórum permanente sobre todos os seis pontos da Agenda
e seu Preâmbulo. Sua relevância nos concerne a todos, nos pertence,
nos impõe responsabilidades. A Ruta
Social Común, as Constituintes Pela
Paz, o Congresso Pela Paz, a ampla convergência de movimentos,
organizações, vítimas, igrejas, intelectuais, etnias, regiões,
universidades, mulheres e jovens tem que trabalhar em coletivo para
alcançar uma imensa demonstração de massas que estreite o vinculo
do descontentamento social com a oportunidade da paz como espaço das
transformações históricas políticas, longamente postergadas.