Sonhos do Presidente Álvaro Uribe Vélez
Por Juan Leonel Pérez e Luís Pedro Lizcano/Colaboradores ABP Colômbia
ABP/25/08/2008
Esse dia acordou mais cedo. Como de costume, leu os jornais. Diziam que contava com o apoio do 95% dos colombianos, mas, fez um gesto de desgosto pois sabia que eram 99%, incluindo, claro, as crianças nascidas o mês anterior. Era a falta de objetividade da imprensa por culpa dum tal de Santos.
Recebeu uma ligação do presidente George W Bush, em agradecimento por fazer mais do que lhe pedia. Sentiu-se muito satisfeito pelo dever cumprido, era gratificante receber o reconhecimento do presidente da nação mais poderosa da terra. Pensou no mal agradecida que era a Humanidade por criticar a pessoa mais humana do planeta, que havia levado a paz a Afeganistão e Iraque e, agora queria levá-la ao Irã. Pareceu-lhe que os unia um mesmo destino. Tanto que faziam os dois pelos seus povos e o único que recebiam era criticas dos mal agradecidos.
Leu uns boletins militares, alterados, lógico. Diziam que franco-atiradores das FARC tinham tombado vários soldados. Pareceu-lhe algo absurdo, já que todo o mundo sabia que estavam derrotadas, que não existiam mais. Faziam isto alguns militares com o fim de pedir mais orçamento. Teria que pôr fim a essa situação.
De maneira súbita, sentiu um sono terrível, talvez pelo efeito das gotinhas homeopáticas. Deitou-se no sofâ e desligou-se completamente.
Sonhou que o país gozava da melhor compreensão entre empresários e trabalhadores. Que a maioria dos dirigentes sindicais tinha morrido por causas indefinidas. Muitos tinham decidido 'democraticamente' sair do país e hoje estavam vivendo muito felizes nos cinco continentes.
A nova geração de dirigentes sindicais não queria saber de greves, denúncias e muito menos de luta de classes. Os empresários tinham aumentado seus lucros por não ter que pagar o aumento anual dos salários nem prestações sociais absurdas. E para melhor segurança, alguns desses dirigentes eram paramilitares experientes em perseguir, desaparecer, torturar e assassinar comunistas.
Sonhou que a guerrilha já era, pois todos seus militantes tinham seguido os sábios conselhos de Navarro Wolf, Gustavo Petro e Lucho Garzón. Os ideólogos da luta eram Valencia Tovar, Alfredo Rangel e Fernando Londoño. Por esse motivo o 99% dos colombianos o apoiavam e tinha ganhado com folga sua quinta re-eleição.
Sentia-se o homem mais feliz da terra. Milhões de colombianos se reuniam na Praça de Bolívar, não para protestar nem pedir emprego, mas para receber um prato de sopa quentinha financiada pelos empresários, os banqueiros, os comerciantes e as multinacionais. Lembrou em seu sonho aquelas épocas quando os empresários tinham que bancar os paramilitares e comprar grandes quantidades de fuzis, metralhadoras e munições.
O povo colombiano vivia na santa paz. Os pobres passavam o tempo pedindo esmolas dos empresários que tinham sabido poupar e produzir. Por isso em atitude generosa davam um prato de sopa todos os dias a esses necessitados que ficaram pobres por não terem sabido administrar suas vidas.
Mas, o mais importante desses mega-abastados tão humanos era que tinham cumprido uma cruzada brutalmente violenta 'contra o comunismo', causando um genocídio de mais de 150.000 pessoas, como se estivessem repetindo o acontecido na década de 1950, quando os governos dessa época assassinaram 300 mil colombianos.
Nesse momento tocou o telefone. Acordou sobresaltado. Era uma voz conhecida. Nada mais e nada menos que a do Comandante da Força Aérea. Senhor presidente, tem sucedido algo muito insólito. Uns cadáveres das FARC, derrubaram um helicóptero. Uribe pensou que se tratava de um pesadelo. Como? Aonde?, perguntou. O General respondeu: Na base militar de Tolemaida. Como? Não pode ser. Essa é a região mais vigiada e segura do país. Sim, senhor Presidente, por isso digo que foi algo insólito. E mais, aí morreram, o Coronel Carlos Gutiérrez (instrutor), o subtenente Nicolás Bedoya (aluno) e o técnico subchefe William Zambrano Triana (tripulante).
Uribe visivelmente enfurecido e como fora de si, jogou com violência o telefone contra a parede, despedaçou o vidro do escritório, jogou fora uns documentos que estava revisando e, com um cinzeiro converteu em fanicos um quadro de Simón Bolívar que estava no centro da parede principal do escritório.
Continue sonhando, Presidente!