'O ELN e as Farc estão trabalhando plenamente para concretizar os Diálogos de Paz'
“Nossa organização adotou uma
definição e tem claro que busca a saída política para o
conflito”, define sem meias palavras o comandante Juan Carlos
Cuellar, porta-voz do Exército de Libertação Nacional –ELN -
desde seu lugar de reclusão. O Resumo Latino-Americano* teve acesso
à prisão de Bellavista e conversou com os guerrilheiros que
integram o Movimento de Presos Políticos "Camilo Torres
Restrepo” sobre a conjuntura colombiana, a relação com as Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a situação dos
presos e a saída política para o conflito armado. Apresentamos a
seguir um adiantamento da extensa reportagem, que será publicada na
edição impressa do Resumo Latino-Americano do mês de maio.
A penitenciária de Bellavista se
encontra na periferia de Medellín. Lá nos recebeu um grupo de
presos políticos da guerrilha camilista, liderados por Juan Carlos
Cuellar, que foi comandante da Frente de Guerra Sul-Ocidental, quando
o capturaram em 2008. Atualmente, Cuellar é porta-voz do ELN e
interlocutor ante diversos setores populares, entre os quais se
destaca o espaço Clamor Social pela Paz.
O encontro derivou em uma conversa
amena. A busca de uma saída política implica a concretização da
esperada Mesa de Diálogo entre o ELN e o governo, que se some à que
protagonizam as Farc em Havana? O quanto há de certo nas versões
que dizem que esses diálogos já estão ocorrendo, e, se é assim,
por que não são públicos? As respostas a essas perguntas poderiam
comprometer possíveis gestões, nos explicam os guerrilheiros com
amabilidade. Ainda assim Cuellar reconhece: "Sei das versões
dadas inclusive por funcionários do governo. Podem ser certas ou
não, se eles afirmam isso terão suas razões”. E acrescenta: "O
comando do ELN já definiu para seus porta-vozes para essa instância,
que estão prontos. São membros do Comando Nacional e comandantes de
região”.
Cuellar foi o principal animador de
uma das tantas tentativas prévios de diálogo com o Estado em 2006,
quando o ELN impulsionou as "Casas de Paz”, que buscaram
envolver setores sociais nas conversações. "A organização
tem uma experiência não apenas durante o governo anterior, quando
se puseram em marcha as Casas de Paz”, relata o líder
guerrilheiro”. Antes havia impulsionado os Diálogos de Tlaxcala
[México, 1992, com o presidente César Gaviria], o Encontro e
Diálogo em Maguncia [Alemanha, 1998, sob a presidência de Ernesto
Samper], com [o presidente Andrés] Pastrana, em Río Verde
[Colômbia, 1998], ou em Cuba [2002, presidência de Uribe]. De todas
essas experiências saem conclusões, aprendizagens”, afirma. O ELN
crê nas intenções do presidente Santos? Cuellar explica: "A
organização está convencida que tem que haver uma saída política,
mas isso não quer dizer que o governo queira o mesmo. Nessa peleja
estamos. Há reparos quando se vê que no passado não se pôde
concretizar um processo de Paz, mas hoje a sociedade está mais
madura. Ainda assim é preciso ver que atitude o governo toma”.
Conjuntura eleitoral ou
participação popular para a saída política ao conflito
"Hoje, a saída política para o
conflito está atravessada pela conjuntura eleitoral”, analisa o
dirigente guerrilheiro. "Para Santos, é vital mostrar avanços
imediatos por essa conjuntura, para o ELN, isso não é o
determinante. Como disse Iván Márquez [porta-voz das Farc em
Havana]: ´O que nós dizemos nos diálogos será usado na conjuntura
eleitoral´. Mas o certo é que a direita busca ratificar o modelo
extrativista de acumulação, destruindo a economia própria de
nossas comunidades, e para reverter isso é necessária a
participação da sociedade”, ressalta Cuellar, e interpela os
delegados sociais e religiosos presentes: "É necessário ver
como se articula essa intenção da insurgência com a dinâmica
própria do movimento social. Parar essa guerra, reclamar o cessar
bilateral do fogo,impulsionar dinâmicas humanitárias,
esses têm que ser as amarrações do processo de paz com a agenda do
movimento popular”.
* Versão completa na edición
impresa de Resumen Latinoamericano del mes de mayo.
* Reportaje realizado conjuntamente
con la Agencia de Comunicación de los Pueblos Colombia Informa,
www.colombiainforma.info