“No segundo turno os colombianos vão decidir por nossas teses”
Aída
Avella Esquivel, fórmula vice-presidencial da candidata à
presidência da República Clara López, assegura em diálogo com La
Nación que não tem pensado em fazer alianças.
Filha
de mãe oriunda
do município de Campo Alegre, estado do Huila, e
pai do estado de Boyacá,
Aída Avella Esquivel é a fórmula vice-presidencial da candidata à
presidência pelo Polo Democrático, Clara López.
Após
muitos anos no exílio, esta militante da Unión Patriótica voltou
porque pensou que era o momento de fazê-lo. Apresentou seu nome à
Presidência pela coletividade, porém, depois de muitas
aproximações, suas ideias se fundiram com as de López e agora são
duas mulheres aspirando a mudar o rumo do país.
Para
Avella Esquivel, é claro que na Colômbia chegou a hora de tomar
outro rumo em que, segundo assinala, a corrupção não tem espaço
enquanto a conservação do meio ambiente, a educação e a saúde
serão prioridade.
Como
anda o ambiente de campanha para a esquerda?
Bem.
Há muito entusiasmo em todo o país, muita gente tem nos recebido em
muitas regiões do país. Causou muito impacto esta fórmula de duas
mulheres que propõem uma mudança de modelo econômico. As mulheres
e muitos homens também se aproximaram porque falamos outra linguagem
e temos sérios compromisso para dar outro rumo e uma mudança que o
país inteiro pede aos gritos.
O que
vocês estão propondo?
Muitas
coisas que os outros candidatos não propõem. Primeiro, a mudança
de modelo econômico, porque pensamos que a democracia tem que ser
participativa, na qual os cidadãos tenham opinião. Uma das coisas
que se lhes deve consultar é se estão de acordo com a exploração
de minerais em suas regiões, porque o que encontramos em zonas como
Casanare é que o povo está se opondo às explorações. Porém não
só ali, o povo deve ser consultado com seus planos de
desenvolvimento, inclusive os prefeitos e governadores têm que dar a
conhecer ao seu povo o que é que vão fazer com os recursos que
chegam do nível central. Ninguém fala do mar e para nós é uma
fonte de riqueza e de trabalho que há que conservar para
reindustrializar o país como um dos mecanismos da mudança do modelo
econômico.
Você
tocou num tema como o da consulta que se deve fazer aos cidadãos
sobre a exploração de seus recursos, que se propõe nesse caso, se
aqui em
Neiva seus moradores estão
atravessando uma problemática com a bacia do rio Las Ceibas?
Para nosso governo, a
prioridade será a água. É incrível que neste país o que se está
tocando são nossas fontes hídricas, e nós proibiríamos que as
fontes de água sejam tocadas para a exploração mineira, porque
prioriza a saúde dos colombianos. É que não é só em Neiva, um
terço do país está sendo tocado como o Páramo de Santurbán, em
Bogotá já começam a fazer exploração na parte baixa do páramo
de Sumapaz, e se se toca isso, se toca a Orinoquía, e isso é mudar
o sistema ecológico de toda esta região. Estão secando a laguna de
Tota em Boyacá porque estão explorando petróleo e isso é muito
grave. Por isso, acreditamos que há que revisar as concessões
mineiras que vão contra a saúde dos cidadãos, declarar zonas de
reserva.
Qual é a proposta para
enfrentar a mudança climática?
Os países, têm que pôr-se
de acordo porque não é problema de um só. Cremos que na regulação
está a selva amazônica que compartilhamos com Brasil, Equador e
parte do Peru, e há que fazer muito trabalho para conservá-la.
Porém, todo o tema do meio ambiente demandará o esforço de todos
os colombianos, e os indígenas que estão dedicados a cuidar dessas
selvas necessitam uma retribuição por parte do Estado, porém
também se requer gente especializada para apoiar este trabalho.
Porém, com base nessa
política mineira que vocês propõem, como fazer para que as
empresas estrangeiras não se espantem ou o investimento se vá?
Nós não nos opomos ao
investimento estrangeiro, ao que nos opomos é a exploração
selvagem dos recursos. Neste momento, em quase todos os países da
América Latina estão pagando 25 por cento pela riqueza extraída,
porém aqui as empresas que estão levando o petróleo nos estão
pagando entre oito e nove por cento. Com o ouro e a prata nos estão
pagando entre 3.2 e cinco por cento e isso não é possível. Porém,
não vão se espantar porque em toda a América Latina estão pagando
no mínimo 17 por cento, e os governos colombianos fizeram péssimos
negócios com os recursos públicos e muito bons com as questões
pessoais. Então, isto tem que ser distribuído de uma maneira
diferente, e se não lhes serve, pois, não se pode fazer porque este
é um país que necessita pagar umas dívidas sociais muito grandes.
Essas propostas soam muito
bonitas e alvissareiras, porém, dá para fazer tudo isso em apenas
quatro anos?
Veja, neste país, o que faz
falta é um pouco de autoridade para fazer as coisas. Não é
possível que um estado tão rico como Casanare não tenha rodovias,
que Arauca, que recebeu milhões de regalias, não tenha um só
município com água potável, como na Guajira, que tem uma mina de
carvão que não nos deixa quase nada. Isso se pode fazer não só em
quatro anos e menos, o que passa é que esta casa há que
organizá-la, porque há muito dinheiro, porém os corruptos o
levaram, e esses corruptos têm que saber que se acabou sua vez. As
mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar a
casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que
os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza
nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos,
porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento
são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos
acabar com isso.
Bem, também se necessita
mais acesso à educação...
Claro, se necessita, antes
que repressão, mais professores, construir escolas aos montões.
Nossas crianças devem estar todo o dia na escola, aprendendo.
Propomos aula durante todo o dia, reforço em determinadas áreas
como a científica, as matemáticas, sem descuidar das humanidades,
as belas artes e os idiomas. A ideia é que, ao terminar o nível
médio, nossas crianças e nossos jovens saiam falando outro idioma,
no mínimo. E o dinheiro para a educação, vamos tirá-lo das
regalias que estão se perdendo, todo esse dinheiro que o Estado
deixou escapar de forma irresponsável. E que, entre outras coisas,
deveriam ser julgados por isso, porque não pode ser que sigam dando
dinheiro às transnacionais. Quatro anos seria mais que suficientes
para entregar um país diferente em saúde e educação que são
direitos, não ofertas.
Porém, uma vez no poder,
vocês não gostariam de se candidatar à reeleição?
Isso
depende. Se
este país crê que fomos bons, e nos dizem vamos reelegê-los, pois,
vamos para a reeleição. É que aqui há que acostumar as pessoas a
serem decentes, este é um país afundado na corrupção e em que se
consegue dinheiro não importa como. Temos que reverter estes
valores, porque esses valores são outros como a honestidade, pensar
nos demais, fazer a paz porque, se chegamos nós [à presidência], a
paz será um fato. O Fundo Monetário Internacional nos exige que não
subsidiemos nossos campesinos, porém faz apenas três semanas que
nos Estados Unidos duplicaram os subsídios de seus campesinos. Eles
podem exportar trigo e cevada a uns preços que aqui não são
compatíveis. Por isso, primeiro nós temos que resgatar nosso
trabalho nacional, o de nossos operários e campesinos. Temos que
reindustrializar o país com todo o trabalho que não só nos dá o
mar, como em outras regiões. É que não entendo como Arauca ou o
Meta não têm refinarias quando têm que despachar entre 1.700 e
2.000 carretas
com petróleo cru até Barrancabermeja. É uma responsabilidade
histórica que nos demonstra que este país não tem tido
governantes.
E que lhes faz pensar que o
país está preparado para eleger um governo de esquerda?
O mundo mudou. Este país
leva dominado mais de dois séculos pelos partidos tradicionais,
ponham-se o rótulo que ponham: Cambio Radical, Centro Democrático...
todos são os mesmos. Porém, nós sabemos que o povo está
inconformado, está cansado de tanta corrupção, porém não somente
isso, de tanta ingovernabilidade, não se sabe governar e, ademais,
isto está repleto de corrupção. Neste país todo mundo rouba, aqui
chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se necessita ser
inteligente para saber que ninguém se enriquece com um salário de
prefeito ou de governador, inclusive de congressista. Essas coisas, o
país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o modelo que estamos
propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe garanto que será
mais eficiente que outros. É fundamental que os cidadãos comecem a
dar-se conta de que podem ser atores e beneficiários também. As
estradas e as vias têm que ser feitas pela gente de cada povoado, é
um dos requisitos para que não comecem a roubar outra vez as coisas.
Antes, nos municípios se contratava a gente do povo, a maquinaria e
as ruas ficavam asfaltadas, como sucedeu em alguns lugarejos em
Arauca onde, hoje em dia, depois de 25 anos, as ruas estão
perfeitas. Isso sucede porque não se dá a “contratitis” dos
grandes senhores que passeiam por todo o país oferecendo dinheiro
aos políticos para que continuem comprando votos. E isso é o que
queremos acabar na Colômbia.
Num eventual governo de
vocês, o processo de paz continuaria em Havana?
Haveria paz. Pela simples
razão de que não somente se continuariam os diálogos em Havana
como também que se incluiria o ELN nas conversações. E vamos até
onde seja possível porque, veja, o problema da terra não é um
problema difícil de resolver. Temos uma lei que não aplicamos e é
a das Reservas Campesinas. É que este Congresso é especializado em
fazer leis para que não se regulamentem como sucede com muitas
outras.
Vocês insistem em revisar
os Tratados de Livre Comércio?
Já o
disse Clara López, o primeiro que faríamos no dia sete de agosto
será instalar a comissão que revise os Tratados de Livre Comércio
[TLCs], porque isso tem impedido que este país se desenvolva e tem
feito com que muitos colombianos fiquem sem trabalho.
Têm
pensado em fazer alianças para um segundo turno?
Não
temos pensado em alianças. Pensamos que chegamos a um segundo
turno,
e nesse segundo turno muitos colombianos vão se decidir por nossas
teses porque são simples, fáceis de executar, desde que haja
vontade política. Isso é o que tem faltado neste país para muitas
coisas, como para fechar as veias da corrupção ligadas à
“contratitis” e isso vai ter que se acabar.
“...[Nós],
As mulheres, vamos pôr ordem neste país e não só há que arrumar
a casa, como também colocá-la decente, este país tem que saber que
os 46 milhões de colombianos têm direito a aceder à riqueza
nacional, e não só os de sempre. Aqui há dinheiro para todos,
porém, em muitas das obras que se fazem na Colômbia, 90 por cento
são roubados e só 10 por cento ficam para investimento. Vamos
acabar com isso”.
“...Neste país todo mundo
rouba, aqui chegam prefeitos pobres e saem milionários. E não se
necessita ser inteligente para saber que ninguém se enriquece com um
salário de prefeito ou de governador, inclusive de congressista.
Essas coisas, o país tem que vê-las. Não estamos dizendo que o
modelo que estamos propondo é o super eficiente, porém, sim, lhe
garanto que será mais eficiente que outros”.
--
Equipe ANNCOL - Brasilanncol.br@gmail.com
http://anncol-brasil.blogspot.com
--
Equipe ANNCOL - Brasilanncol.br@gmail.com
http://anncol-brasil.blogspot.com