Jorge Eliécer Gaitán
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La
Habana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 9 de abril de 2014
“A
fome não tem cor política; não é liberal nem é conservadora/ Na
Colômbia existe uma plutocracia liberal-conservadora que asfixia o
povo/ O país político não pode submeter o país nacional / O povo
é superior a seus dirigentes / Povo: pela restauração moral À
carga! Por vossa vitória À carga! Pela derrota da oligarquia À
carga!”.
Estas
palavras de Jorge Eliécer Gaitán têm plena e absoluta vigência na
Colômbia do presente. Com elas expressamos nossa solidariedade às
vítimas desta guerra de meio século imposta pelas oligarquias e
rendemos com sua oração pela paz a mais profunda homenagem de
respeito e reconhecimento ao tribuno do povo, quem, com palavras
premonitórias, advertiu que se a oligarquia o matasse “o país se
naufraga e as águas demorarão cinquenta anos em regressar ao seu
nível normal”.
"Oração
pela Paz"
Discurso
pronunciado por Jorge Eliécer Gaitán em 7 de Fevereiro
de
1948 durante a Manifestação do Silêncio em Bogotá.
"Senhor
Presidente Mariano Ospina Pérez: Sob o peso de uma profunda emoção
me dirijo a Vossa Excelência, interpretando o querer e a vontade
desta imensa multidão que esconde seu ardente coração, dilacerado
por tanta injustiça, sob um silêncio clamoroso, para pedir que haja
paz e piedade para a pátria.
Em
todo o dia de hoje, Excelentíssimo senhor, a capital da Colômbia
presenciou um espetáculo que não tem precedentes em sua história.
Gentes que vieram de todo o país, de todas as latitudes –dos
planos ardentes e das frias altiplanuras- chegaram a congregar-se
nesta praça, berço de nossas liberdades, para expressar a
irrevogável decisão de defender seus direitos. Duas horas faz que a
imensa multidão desemboca nesta praça e não se ouviu, no entanto,
um só grito, porque no fundo dos corações só se escuta o golpe da
emoção. Durante as grandes tempestades a força subterrânea é
muito mais poderosa, e esta tem o poder de impor a paz quando os que
estão obrigados a impô-la não a impõem.
Senhor
Presidente: Aqui não se ouvem aplausos: Só se veem bandeiras negras
que se agitam!
Senhor
Presidente: Vós, que sois um homem de universidade, deves
compreender do que é capaz a disciplina de um partido, que consegue
contrariar as leis da psicologia coletiva para esconder a emoção
num silêncio, como o desta imensa multidão. Bem compreendes que um
partido que consegue isto, muito facilmente poderia reagir sob o
estímulo da legítima defesa.
Nenhuma
coletividade no mundo deu uma demonstração superior à presente.
Porém, se esta manifestação sucede, é porque há algo grave, e
não por triviais razões. Há um partido de ordem capaz de realizar
este ato para evitar que o sangue siga derramando-se e para que as
leis se cumpram, porque elas são a expressão da consciência geral.
Não me enganei quando disse que creio na consciência do povo,
porque esse conceito foi ratificado amplamente nesta demonstração,
onde as ovações e os aplausos desaparecem para que só se escute o
rumor emocionado dos milhares de bandeiras negras, que aqui se
trouxeram para relembrar aos nossos homens vilmente assassinados.
Senhor
Presidente: Serenamente, tranquilamente, com a emoção que atravessa
o espírito dos cidadãos que lotam esta praça, lhes pedimos que
exerceis vosso mandato, o mesmo que lhe deu o povo, para devolver ao
país a tranquilidade pública. Tudo depende agora de vós! Os que
encharcam em sangue o território da pátria cessariam em sua cega
perfídia. Esses espíritos de má intenção calariam ao simples
império de vossa vontade.
Amamos
profundamente a esta nação e não queremos que nossa barca
vitoriosa tenha que navegar sobre rios de sangue para o porto de seu
destino inexorável.
Senhor
Presidente: Nesta ocasião não lhe pedimos teses econômicas ou
políticas. Apenas lhe pedimos que nossa pátria não transite por
caminhos que nos envergonhem ante próprios e estranhos. Lhe pedimos
feitos de paz e de civilização!
Nós,
senhor Presidente, não somos covardes. Somos descendentes dos bravos
que aniquilaram as tiranias neste solo sagrado. Somos capazes de
sacrificar nossas vidas para salvar a paz e a liberdade da Colômbia!
Impeça,
senhor, a violência. Queremos a defesa da vida humana, que é o que
um povo pode pedir. Em vez desta força cega desatada, devemos
aproveitar a capacidade de trabalho do povo para benefício do
progresso da Colômbia.
Senhor
Presidente: Nossa bandeira está enlutada e esta silenciosa multidão
e este grito mudo de nossos corações só lhes clama: que nos trate
a nós, a nossas mães, a nossas esposas, a nossos filhos e a nossos
bens como quereis que tratem a vós, a vossa mãe, a vossa esposa, a
vossos filhos e a vossos bens!
Lhes
dizemos, finalmente, Excelentíssimo senhor: Bem-aventurados os que
entendem que as palavras de concórdia e de paz não devem servir
para ocultar sentimentos de rancor e extermínio. Mal-aventurados os
que no governo ocultam por trás da bondade das palavras a impiedade
para os homens de seu povo, porque eles serão assinalados com o dedo
da ignomínia nas páginas da história!”
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP