As mulheres, a guerra e a paz
Por
Rubin Morro
Integrante
da Delegação de Paz das FARC-EP
As
mulheres sempre estiveram na luta política e nas vitórias dos povos
pela emancipação, justiça e liberdade. Sua presença tem sido
permanente no protagonismo social, político, cultural e econômico,
ainda que seu reconhecimento e visibilidade nessa grande empreitada
tem sido ofuscada, inclusive excluída do desfrute das conquistas,
por padrões patriarcais existentes.
Pelo
contrário, continuam em sua vida cotidiana com o duplo papel, a
dupla jornada de trabalho. Constitui esta uma das facetas mais
excludentes e impositivas que tem levado a mulher à mais horrível
exploração e discriminação.
É
um odioso e profundo empecilho que temos os humanos levado por
milhares de anos arrastando como uma pesada carga, é uma enfermidade
terminal que devemos combater com uma nova concepção da vida e das
relações entre as pessoas, sem importar nossa condição de classe,
raça, credo, sexo e outras realidades diversas de identidade.
Como
se fosse pouco, se lhes destinou especificamente a reprodução, os
trabalhos domésticos; e na vida trabalhista se lhes recompensa com
um salário que está abaixo do que pagam aos homens por cumprir o
mesmo trabalho. No entanto, apesar da existência de normas legais
para vinculá-la ao processo produtivo, depois de fazê-lo, terminam
em responsabilidades secundárias, impondo-se o homem acima dela,
exclusivamente por sua condição masculina.
As
guerras convencionais e os conflitos internos fizeram das mulheres
suas principais vítimas: foram assassinadas, deslocadas, ameaçadas,
são milhares as viúvas e órfãs; milhões as que padeceram de
violências de todas as maneiras e tipos possíveis.
Em
meio a semelhante adversidade, as mulheres continuam construindo seus
sonhos e desejos, através de suas lutas pela igualdade de gênero e
social, pela conquista plena de seus direitos, pelo reconhecimento
como sujeitos sociais e políticos. Daí seu protagonismo no processo
de paz que se desenvolve em Havana.
Porque
é claro que em Colômbia não haverá paz sem o concurso criador e
massivo da mulher, sem sua participação ativa. A inclusão das
mulheres em todas as etapas de construção da paz é um requisito
essencial para a sustentação da mesma.
Um
informe da ONU assinala que em processos de paz, desde 1992 até a
presente data, a participação das mulheres tem sido baixa; no
entanto, nestes processos a violência sexual contra elas tem sido
referenciada no debate. Na década de 1990, na República de El
Salvador na Mesa de Negociação com a Frente Farabundo Martí para a
Libertação Nacional [FMLN], as mulheres propuseram um plano de
reparação.
Na
Irlanda do Norte, as mulheres asseguraram a participação de uma
representante na Mesa de paz criada em 1997, ao constituir uma
agrupação política de mulheres de distintos partidos que
participou na reconciliação e reintegração dos presos políticos.
Na República da África do Sul, em meados da década de 1990, a
Comissão Nacional da Mulher pediu que a metade dos
multipartidaristas fossem mulheres, e conseguiu com que um de cada
dois representantes de cada partido também fosse uma mulher,
participantes no processo de negociação.
Na
República de Guatemala, as mulheres influíram de maneira
significativa nas conversações que conduziram ao acordo de paz de
1996. Em Asha Hagi Elmi constituiu o Sexto Clã de mulheres na
República da Somália nas conversações de paz onde se havia
excluído as mulheres. Em Burundi, as mulheres apresentaram sua lista
de recomendações ao facilitador das negociações, Nelson Mandela,
e mais da metade das referidas propostas ficaram recolhidas no acordo
de paz.
É
apenas uma mostra dos esforços que as mulheres fizeram por alcançar
seu espaço na sociedade, por serem ativas construtoras de paz.
Em
26 de agosto de 2012, o Governo e as FARC-EP firmaram um “Acordo
Geral para a terminação do conflito e a construção de uma paz
estável e duradoura”. Cabe aqui relembrar que nos recentes
processos de paz levados a cabo em Colômbia as mulheres não foram
incluídas como deveriam ser; no entanto, na Delegação de Paz das
FARC-EP quase a metade são mulheres e nas instâncias da Mesa de
Conversações em Havana se criou a Subcomissão de Gênero para dar
um enfoque de gênero aos acordos, para dialogar com representantes
de organizações de mulheres, das quais marcaram presença 16
lideranças e 2 representantes da comunidade LGBTI. As conclusões
das três audiências realizadas serão recolhidas e levadas em conta
nos acordos pactuados a partir da perspectiva de gênero.
Definitivamente,
devemos tod@s, sem exceção, desenvolver uma campanha de
visibilidade, reconhecimento do papel e dos direitos das mulheres,
com medidas afirmativas temporais, enquanto isso seja necessário,
que permitam alcançar a igualdade de gênero. Deve ser um
compromisso dos homens junto a elas avançar neste necessário e
urgente objetivo de vida e de esperança para o futuro da sociedade.
Equipe
ANNCOL - Brasil