Santos e seu regime oligárquico, afundados no caos sistêmico que se propaga por toda Colômbia.
Por
Horacio Duque
O
processo de paz que se adianta entre as Farc e o governo neoliberal
de Santos em Cuba agita com mais força a estrutura política
oligárquica.
Cada
acontecimento, cada passo nas conversações com a insurgência
revolucionária, graças
à enorme
potência acumulada por ela,
tem um grande impacto no resto da formação social.
Na
conjuntura a Mesa Conversações
viabiliza
descobre e precipita a crise do Estado e do regime de dominação
hegemônica. Confirmou-o a crise da putrefata justiça. Valida-o a
crise econômica e fiscal em curso que pretendem maquiar. Alavanca-o
a explosão militarista nas Forças Armadas, capturadas pela
retrógrada plataforma fascista da ultra direita, com a qual coincide
Santos [com seu Ministro
da Guerra, Pinzón],
na defesa do aparato bélico, aéreo, policial e paramilitar, como a
única garantia da continuidade da dominação plutocrática, que,
segundo o distraído senhor De La Calle, não existe por nenhum lado.
De acordo com a sua última mensagem niilista, a oligarquia
[Sarmiento Angulo, Ardila Lule, Santo Domingo, Sindicato Antioquenho
etc.], não existe, pois é uma invenção de nós, os “esquerdistas”
pré-modernos. Me
dá riso esta piada da senilidade liberal.
Crise,
a que Santos vive. Parece um doente com complicação de males. Tudo
se lhe escapa das mãos, pois
a
única alternativa é a ascensão das forças populares e
democráticas, para aproximar-se de um governo de transição que
surja de uma Assembleia Constituinte pela paz e a democracia
ampliada. Se trata de uma saída que não admite mais prazos.
Pelas
reações dos sujeitos de peso, o processo de paz continuará, mesmo
que estejamos ainda longe de um final exato das negociações.
Assim
o pediu o governo de Obama e a hierarquia eclesiástica. Quem patina
é Santos e sua cúpula ministerial e politiqueira da Unidade, pois
se movem no pântano das ambiguidades, dos cálculos traiçoeiros e
dos golpes baixos para manter o regime neoliberal e as arcaicas
estruturas de poder da oligarquia feudal, bancária e militarista. É
o que explica a imposição de seu Plano de Desenvolvimento e as leis
que reforçam o modelo privatizador e a ditadura dos mercados.
O
certo é que o Chefe da Casa de Nariño, quem devia ter renunciado a
seu cargo há tempos, se move na direção da derrota da insurgência
revolucionária e do triunfo da podridão política que agencia por
todo o Estado com a corrupta distribuição
das
regalias petroleiras que têm sido literalmente saqueadas por seus
coronéis
nas regiões. Há que observar os casos dos estados do Cauca e do
Quindío, para citar uns poucos. Em Popayán, Temistocles e a
quadrilha
liberal de Velasco e Cárdenas organizaram contratos de obra
fraudulentos e torcidos para roubar
milhares
de milhões de pesos. De
igual forma em
Armenia procede dona Sandra Paola e Emilio Carriel, o velho cacique
liberal [se diz social-democrata] que está em pleno conluio
eleitoral com os seguidores de Uribe Vélez na região para impor
prefeitos e governador. Este último caso confirma que Santos e Uribe
coincidem estrategicamente na defesa de sua falsa democracia
neoliberal. Coincidem no fundamental, como dizia Gómez Hurtado, por
isso choram juntos os mortos oficiais do conflito.
Nessas condições,
minha sugestão é que assumamos a conjuntura crítica em que estamos
como o ingresso do Estado e da nação numa situação de caos
sistêmico. Postulo que os acontecimentos/verdade dos últimos dias
reflitam um salto qualitativo nesse sentido, no qual se desdobram
várias grandes forças cujos choques e rixas dão forma a uma
situação de crescente caos estrutural que requer saídas em sentido
progressivo e democrático.
A crise e o caos
sistêmico operam como uma máquina depredadora que destrói tudo com
sua passagem; destrói, devasta, aniquila o que encontra em seu
caminho. Avassala os modos de vida dos subalternos e das elites,
ainda que uns e outros têm recursos diferentes para enfrentar a nova
situação. Os do poder tentam tirar proveito do caos para continuar
estando por cima. Os subalternos enfrentam desafios maiores, uma vez
que sua existência está em perigo. Só podem sair contentes em
movimento e em ação coletiva, lutando com outros e outras aos quais
a desordem lhes impõe irmanar-se, sem se deixar comprar por
burocratas e ministros em plano de transformismo com os movimentos
populares e seus líderes.
O caos sistêmico
tende a destruir [neutralizar e transformar suas identidades] a todos
os atores coletivos, começando pelos mais frágeis e menos
resistentes. Certas “esquerdas” [derivadas do aparelho liberal
oficialista do
estado de Antioquia]
deixam de ser esquerdas não porque tenham poucos apoios, podem ter
inclusive milhares de votos, senão porque lançaram pela borda a
ética pra ficarem por cima, recebendo
migalhas do poder
e dos
poderosos.
O importante
nesta conjuntura é ter claro que não há outro caminho que o
combate, que preparar-se para mais conflitos e lutas abertas sob suas
mais diversas formas de manifestação, sem descartar a resistência
armada. É neste sentido que proponho a necessidade de deixar para
trás as simples marchas reivindicativas, os atos simbólicos, e
passar ao alçamento generalizado contra a oligarquia imperante e
suas manobras santistas e uribistas. São as lições de outros
povos, como o palestino e suas intifadas.
As reformas que
milhões de colombianos reclamam implicam resistências dos de cima,
intensificação dos conflitos. É, outra vez, a hora dos movimentos
sociais e populares. Porque só os de baixo organizados são capazes
de enfrentá-los e derrotá-los.
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Equipe
ANNCOL - Brasil